COLUNA

Sônia Zaramella

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Relatos e fatos, pessoais ou não, do passado e do presente de Cuiabá e de Mato Grosso.

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Bye-bye Hollywood

“Quero de volta a mãe que me apresentou Spike Lee”, reagiu contrariada minha filha Bianca ao constatar que assisto dramas asiáticos. “Ela agora só quer assistir esses cócó na tevê”, protestava o marido José Luiz até pouco tempo atrás, desdenhando do complexo idioma da Coreia do Sul. Mas a amiga e a irmã dorameiras me apoiaram nessa nova distração: “deixa Zé e Bianca, não liga pra eles”, aconselharam. Desse modo, sob divergência, o fato é que, atualmente, sou uma ‘dorameira’. Superproduções hollywoodianas, filmes europeus, ou seriados norte-americanos e espanhóis, estão temporariamente suspensos dos meus hábitos de consumo de entretenimento.

Não é pecado nem vazio cultural acompanhar doramas. Naturalmente fui atraída pela estética dessas produções asiáticas, pela narrativa de temas, que vão do romance ao suspense, ficção e histórias de época, entre outras novidades da cultura oriental. Além disso, é bem interessante ver as diferenças notórias dos doramas em relação aos seriados ocidentais, como a nacionalidade dos atores, o budismo, os memoriais fúnebres, a culinária, entre outros costumes e traços culturais. Assim, Sal Mineo, Rock Hudson e Charlton Heston, de antigamente, e Robert de Niro, Antonio Banderas e Brad Pitt, mais recentemente, foram substituídos por Lee Min-ho, Park Seo-joon e Son Suk-ku, entre outros atores.

Popular nas tevês do Japão, Coréia do Sul, China, Tailândia e Singapura, os doramas viraram ‘febre’ no mundo todo. O interesse pelas produções asiáticas, inclusive no Brasil, foi amplificado por conta da internet e das plataformas de streaming. O termo dorama deriva da palavra “drama” em japonês e acabou se tornando uma categoria para produções audiovisuais asiáticas. Seu formato se assemelha às séries televisivas porque compreendem apenas uma temporada, com início, meio e fim. E a origem das produções podem ser identificadas da seguinte maneira: doramas são japoneses, os k-dramas (tem o k de Korean) são produções coreanas, os “C-dramas” são da China etc.

Minha irmã Vera assiste as produções asiáticas há mais de três anos. Ela conta que foi atraída pela beleza desses audiovisuais, que considera “uma perfeição, um encantamento”. Vera menciona dois títulos: “Pousando no amor” e “O rei eterno” como exemplares. A amiga jornalista Camila viu seu primeiro dorama por acaso, no final de 2023. Foi “Rei de Porcelana”. O amigo advogado Alessandro (sim, os homens também foram capturados) começou a ver k-dramas no finalzinho da pandemia, por falta de opções nos catálogos de streaming. Ele disse que agora vê dramas, ficção e reality de competição. Como sugestões, cita o reality “Sirena: Sobrevivência na Ilha” e os dramas “A Lição” e “A Cobertura”.

Já eu, ano passado, fui atrás de “Quando o amor floresce” no catálogo da Netflix, por conta da sinopse da série. Na história, focada num casal que se apaixona quando jovem e se reencontra 20 anos depois, os atores Jin-young Park (quando jovem) e Yoo Ji-tae (na fase adulta), no papel do personagem Han Jae-hyun, me seduziram. Como minha irmã, gosto mais do gênero romântico, seguido do histórico. Já Camila prefere os k-dramas mais adultos, aqueles com personagens mais velhos. “Os atores são menos perfeitos esteticamente, a trilha sonora costuma ser impactante (não k-pop) e a narrativa se desenvolve de um jeito, digamos, como a vida é”, descreve ela. Exemplos desse tipo de série são “My Mister” e “My Liberation Notes”.

Para Vera, os k-dramas coreanos deixam a pessoa fascinada pelo tratamento masculino que é mostrado nos romances. “Os homens são apaixonantes na conquista das mulheres que amam e você acaba encantada por eles também, sonha encontrar um deles na esquina”, comentou. De seu lado, Camila destaca o ritmo da narrativa, mais lento que as produções norte-americanas ou contemporâneas. “Percebi que o timing era diferente, o que me pareceu ‘mindful’. Eu prestei atenção em cenas, sons e percebi que era algo diferente do que estava acostumada. Fiquei na dúvida se o mérito era só daquela série e fui para a segunda – terceira, quarta e enfim…”

O que mais prende Alessandro é a imprevisibilidade dos enredos das séries. “As idas e vindas, as reviravoltas das histórias, isso eu gosto”, disse, apontando também a abordagem de temas como a educação, bullying nas escolas e as diferenças de classe social na Coreia do Sul focadas nas produções. Camila frisa que gosta do fato de ser uma língua diferente e de haver núcleos com personagens idosos, pois admira “essa visibilidade que não vemos nas produções nacionais ou americanas”. Acha saudável que metade das cenas dos doramas seja feita em refeições, “uma forma de divulgar a cultura e gastronomia coreanas e que é um expediente que humaniza a coisa toda, afinal, a gente come pelo menos duas vezes por dia”.

Alessandro, Vera, Camila e eu temos a mesma opinião ao considerar que as séries asiáticas vieram para ficar. “Não acredito que seja modismo, tinha espaço pra elas, raramente surge alguma série ou filme americano que seja excelente ou bom”, afirma Vera. Já para Alessandro, esses produtos “preenchem um nicho na programação dos streamings e não têm prazo de validade”. Camila lembra que os seriados orientais são “um traço cultural da Coreia do Sul e dos outros países, assim como as novelas brasileiras e os filmes americanos”, ressaltando que as temáticas que escolhe para assistir “me caem como uma laranja gelada ao fim do dia – geralmente adocicada, mas potencialmente cítrica”.

Assim, penso que Bianca entendeu porque estou dando ‘um tempo’ para Spike Lee, cineasta, escritor, ator, professor e produtor de “Faça a Coisa Certa” e “Infiltrado na Klan”, entre outros filmes norte-americanos. E percebeu também que não sou só eu a engajada na atual ‘onda coreana’.

Se você, leitor, quer conhecer essas séries, seja bem-vindo (em português), ou 어서 오세요 (em coreano) !!!

 

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