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Ivens, o cuiabano

Jairo Pitolé Sant’Ana*

Foto: Reprodução/@ivensscaff_tributo

Era pra ser na semana passada, mas os deputados (estaduais) não chegaram a um consenso e a decisão ficou para amanhã (quarta-feira, 22). Ah! Sim. É sobre a escolha do nome a ser dado ao Hospital Central de Cuiabá, em fase final de construção, 31 anos depois do lançamento de sua pedra fundamental, em 1984. Por causa do regimento interno da instituição, deverá ser votado o primeiro projeto apresentado, mas, segundo li na semana passada, há um substitutivo, assinado pela maioria, optando simplesmente por Hospital Central de Alta Complexidade do Estado de Mato Grosso. As homenagens seriam pulverizadas e 10 pessoas dariam seus nomes aos espaços internos.

Uma delas é o médico, escritor e professor Ivens Cuiabano Scaff, que, infelizmente, nos deixou em fevereiro do ano passado. Tive a honra de sua amizade por mais de 30 anos e paciente em sua especialidade de gastroenterologia (vez em quando, por causa de um casual excesso de consumo de suco de cevada ou de cana-de-açúcar, recorria a ele. Não precisava ir ao consultório. Por telefone mesmo, passava a receita. Era só tomar o remédio e tudo voltava ao normal) e como clínico geral. Sua anamnese era completa, por mais que ele te conhecesse. Durava, no mínimo, uma hora. E, claro, rolava um bom papo entre uma e outra pergunta.

Sugestão do deputado Beto Dois a Um para dar nome ao Hospital, a proposta rapidamente ganhou adesão e simpatia, especialmente do pessoal ligado à saúde e à cultura. Também pudera. Sempre foi unanimidade entre amigos, alunos e pacientes. Muitos o elogiam pela sua atuação como infectologista em relação aos portadores do HIV, quando a doença era pouco conhecida. “Ele atendia estes pacientes depois das seis horas da tarde, em seu consultório, por causa do grande preconceito da época e para evitar que fossem constrangidos”, me disse uma grande amiga em comum, a cineasta Glorinha Albuês.

Ivens foi, por aqui, um pioneiro no tratamento da Aids e professor de muitos médicos hoje exercendo a profissão em Mato Grosso. Li o depoimento do cardiologista Roberto Kazan, meu vizinho no Coxipó nos anos de 1990, que o conheceu exatamente naquele ano, na Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá. Não só elogia sua postura profissional como ressalta um de seus legados. “Sua grande lição era ter empatia pelo paciente”. Não lhe importava se fosse abastado ou necessitado.

Se dividiu entre clinicar, ensinar, escrever e ainda arrumava tempo para outras atividades. Foi coordenador de Cultura da UFMT, conselheiro da Secretaria de Estadual de Cultura, coordenador do Comitê Educativo da Unimed Cuiabá, membro do conselho editorial da Revista Vôte e colaborador da Estação Bispo.

 

Por isso, caso os nobres deputados estaduais desconsiderem tanto o primeiro projeto apresentado e, portanto, a ser votado, quanto o substitutivo com as homenagens pulverizadas e decidam por um nome para o Hospital Central, o de Ivens Cuiabano Scaff é, com certeza, muito representativo.

* Jairo Pitolé Sant’Ana é jornalista

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