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Uma dor que é de todos, ou deveria ser

A criança é o princípio sem fim. O fim da criança é o princípio do fim. Quando uma sociedade deixa matar as crianças é porque começou seu suicídio como sociedade. Quando não as ama é porque deixou de se reconhecer como humanidade”.  Hebert de Souza (Betinho)

Senhoras autoridades, talvez seja tolice minha, uma cidadã comum, ousar escrever para o conhecimento da população e  para manifestar minha tristeza e indignação por mais uma morte de uma criança à beira da estrada a caminho da escola.

Mais uma criança, um menino, morreu tragicamente porque ousou estudar.

Breno Thiago tinha 7 anos e morreu atropelado no começo da manhã do dia 3 de junho, ao tentar atravessar um trecho da MT-358, na saída de Tangará da Serra para Campo Novo do Parecis.

Para usufruir desse direito constitucional, muitas crianças têm se deslocado de suas regiões para outra, distante de suas residências, porque os governantes decidiram fechar a escola das suas comunidades, impondo, assim, sem diálogo, a única alternativa para quem desejar estudar: se sujeitar a enfrentar horas dentro de ônibus sucateados e que fazem longos trajetos, em estradas precárias ou rodovias perigosas e correndo outros riscos no percurso.

Senhores governantes, penso na dor da família dessa criança em especial, na dor de uma  mãe dilacerada que só estava querendo o bem do seu filho, que encontrou a morte.

Excelências, o que ouvimos das autoridades que vem promovendo a política de retirada de direitos e proteção à infância e juventude – entre elas o fechamento de escolas do campo e da cidade: que lamentam a fatalidade e que a escola onde a criança estudava está com as aulas suspensas por um dia pelo luto.

Simples assim, excelências!

Será que a vida quando é de outrem vale tão pouco? Que uma criança que deveria ter toda proteção e garantias de seus direitos de se desenvolver plenamente significa apenas um número em estatísticas?

Senhoras autoridades, além das mortes de estudantes nas estradas, outras atrocidades e mortes de jovens e adolescentes vem ocorrendo no estado de Mato Grosso de forma assustadora, com requintes de crueldades, chacinas   principalmente nas periferias assoladas pelo estado paralelo que é a confirmação da ausência do Estado.

O número de homicídios dolosos que vitimaram jovens com idade entre 15 e 25 anos teve um crescimento de quase 39% em Mato Grosso, em 2022 — uma média de 22 mortes por mês. Os dados são do Observatório de Segurança, da Secretaria de Segurança Pública do Estado (Sesp-MT).

Uma contradição com a avaliação dos governantes que passam a imagem de um Mato Grosso   pujante , celeiro do Brasil, com políticas públicas que garantem dignidade à população.

Os dados do Observatório  de Segurança  e o último  censo do IBGE apontam em outra direção.

Concluo com mais uma citação do grande sociólogo Betinho.

‘Se não vejo na criança uma criança, é porque alguém a violentou antes e o que vejo é o que sobrou de tudo o que foi tirado. Mas essa que vejo na rua sem pai, sem mãe, sem casa, cama e comida, essa que vive a solidão das noites sem gente por perto, é um grito, é um espanto. Diante dela, o mundo deveria parar para começar um novo encontro, porque a criança é o princípio sem fim e o seu fim é o fim de todos nós”.  Herbert de Souza (Betinho)

Maria Aparecida Cortez – Licenciada em Pedagogia,  Especialista em Didática do Ensino Superior

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