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Adriana Mendes

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Palco de embate político, ‘Casa Cuiabana’ começa com desorganização

Foto: Rennan Oliveira/Prefeitura de Cuiabá

O programa Casa Cuiabana, voltado à construção de moradias populares para a população de baixa renda em Cuiabá (MT), tem gerado confusão devido à falta de informações claras e orientações ao público. A prefeitura garante ter divulgado previamente, mas não se preparou para a grande procura presencial registrada em frente ao Palácio Alencastro, sede do Executivo municipal, onde centenas de pessoas se aglomeraram em busca de uma vaga para cadastro no programa habitacional.

Só na manhã de terça-feira (15) houve reforço na divulgação do site oficial que promete “comodidade e segurança”. O que se viu, no entanto, foi uma multidão nas filas formada por pessoas sem acesso à internet ou sem familiaridade com o processo digital. Além disso, há quem não confie no sistema. “Acho mais garantido vir aqui. Eu preciso, moro de aluguel no bairro Tijucal. Só saio daqui quando conseguir a senha”, afirmou a diarista Regilânia de Azevedo à Gazeta.

Outro ponto pouco claro: muita gente nem sabia que seria feito um sorteio. Ou seja, a data de inscrição não será considerada, e o prazo para se inscrever vai até o dia 19 de setembro. Resta saber se as 200 senhas prometidas por dia para cadastro presencial serão suficientes até lá. Já se fala até em prorrogar o prazo.

As filas e o empurra-empurra levaram o prefeito de Cuiabá, Abilio Brunini (PL), a ir pessoalmente a outro local de cadastro, a Secretaria da Mulher, onde tentou conter os ânimos. Em tom exaltado, criticou o comportamento de parte da população que não respeitava os idosos e mulheres com filhos: “Se vocês não sabem respeitar o ser humano, não merecem ter casa”. A cena, registrada em vídeos, escancarou a falta de preparo da gestão para lidar com a alta demanda. A prefeitura teve que reagir às pressas para reforçar o atendimento.

O programa também é alvo de embate entre o prefeito de Cuiabá e o deputado federal Emanuelzinho (MDB), vice-líder do governo na Câmara. Um confronto com versões diferentes sobre o financiamento do projeto. Em vídeo divulgado no mês passado, o ministro das Cidades, Jader Filho, ao lado do deputado, afirmou que o cadastro é de responsabilidade da prefeitura, mas que os recursos são do governo federal. “Independente de quem seja o prefeito, nós temos que trabalhar juntos”, disse o ministro destacando que é uma orientação do presidente Lula.

De acordo com o governo federal, são 500 unidades habitacionais em construção, de um total previsto de 900. A faixa 1 do programa Minha Casa, Minha Vida é destinada a famílias com renda bruta mensal de até R$ 2.850,00.

Já Abílio, que é aliado de Jair Bolsonaro, justifica que o governo Lula é apenas “cofinanciador” e afirma que a gestão municipal arcará com infraestrutura, rede de esgoto, água e equipamentos comunitários. “Seremos parceiros nessa construção”, declarou, destacando que as obras devem ser concluídas entre agosto e setembro de 2026. O prefeito garantiu que não haverá placas indicando recursos do governo federal.

No entanto, a seleção dos beneficiários segue critérios nacionais de priorização, como: mulheres responsáveis pelo núcleo familiar, pessoas negras, com deficiência, idosos, mulheres vítimas de violência doméstica e moradores de áreas de risco. Apesar disso, a definição final será feita por sorteio. A escolha por esse sistema busca garantir isonomia, evitar favorecimentos e dar mais transparência ao processo. Mas o critério aleatório também é alvo de críticas por não assegurar que as famílias em situação de maior vulnerabilidade sejam, de fato, contempladas.

A prefeitura informou que o cadastro é único e “será a base oficial para os sorteios habitacionais que ocorrerão pelos próximos três anos, conforme a disponibilidade de unidades”. Ainda segundo a gestão, não há um número fixo de casas ou sorteios preestabelecido, mas também não foram detalhados futuros projetos habitacionais. Por outro lado, não respondeu ao questionamento da coluna sobre os valores investidos pelo Executivo Municipal e pelo governo federal no programa Casa Cuiabana.

Se os critérios seguem os moldes do Minha Casa, Minha Vida, não há dúvida sobre o peso do investimento do governo federal. Infelizmente, não houve organização prévia nem para lidar com as filas presenciais, nem para oferecer estabilidade no site de inscrições, que apresentou falhas ao longo do dia. Em vez de Abilio alimentar disputas políticas, seria mais produtivo focar na população que realmente precisa de moradia e garantir que ela tenha acesso digno e transparente ao programa.

 

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