Abelhas podem melhorar PIB Agrícola
Qual a relação das abelhas com o PIB, o Produto Interno Bruto? A resposta mais imediata é checar o resultado financeiro da venda de mel, cera e própolis no mercado. Também se pode lembrar do papel das abelhas na polinização de lavouras comerciais e, indiretamente, na garantia da segurança alimentar. Mas um estudo recente foi direto ao ponto e quantificou os ganhos quando se mantém vegetação nativa no entorno de plantios de grãos ou frutas. A conclusão foi que, ao se proporcionar abrigo para os insetos, a polinização das lavouras aumenta e isso pode injetar no PIB agropecuário de São Paulo até R$ 4,2 bilhões por ano.
Esta pesquisa da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo (Semil), em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), venceu o Prêmio MapBiomas 2025. Ela mostra a relação de causa e efeito quando se mantém ou restaura a vegetação nativa e ganha o reforço das abelhas na produção. A intensificação da polinização aumenta a produtividade das lavouras próximas e evita, inclusive, a necessidade de expansão agrícola para novas áreas.
Os pesquisadores Rafael Chaves (Semil) e Eduardo Moreira (USP) usaram imagens de satélite para mapear áreas agrícolas, onde há demanda por polinização, e segmentos de vegetação nativa, onde há a oferta natural deste serviço por diversos insetos polinizadores, sobretudo as abelhas.
Segundo o estudo, as populações destes insetos aumentam em trechos de vegetação nativa, sejam em matas, cerrados ou campos porque ali encontram abrigo e alimento. E a ação polinizadora deles promove um combo de benefícios nos cultivos vizinhos: o aumento da quantidade, do tamanho e da qualidade dos frutos e dos grãos cultivados.
Esta prestação de serviço ecossistêmico foi traduzida em dinheiro. Os ganhos anuais nas lavouras paulistas de soja podem chegar a R$ 1,4 bilhão; nas de laranja, R$ 1 bilhão; e nas de café, R$ 660 milhões. Culturas perenes, como manga, abacate e goiaba, podem somar mais R$ 280 milhões, e as temporárias, como tomate, amendoim e feijão, outros R$ 820 milhões.
A importância da polinização das abelhas no incremento da produção de alimentos é super reconhecida pela ciência. Um número de consenso é que a polinização corresponde a cerca de 10% do PIB agrícola global, algo em torno de U$ 200 bilhões por ano no mundo. E a ONU até instituiu o dia 20 de maio como Dia Mundial das Abelhas para aumentar a conscientização da necessidade de aumentar a proteção desses insetos tão parceiros.
Além das espécies africanizadas, o Brasil é o país com a maior diversidade de espécies de abelhas sem ferrão do mundo. Segundo o Ibama, são mais de duas mil espécies de abelhas nativas. Cerca de 260 delas ajudam na polinização da vegetação nativa e em culturas como café, soja, tomate, algodão, açaí, girassol, entre muitas outras.
As abelhas, porém, estão sob intenso ataque por várias causas, entre perda do habitat, desmatamento, aumento do uso de agrotóxicos, mudanças climáticas e até o crime de tráfico ilegal de colmeias.
Um exemplo deste crime, inclusive, foi constatado na sexta-feira passada, dia 1º, no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP). O Ibama conseguiu impedir a exportação ilegal de uma colônia de mandaçaia, uma espécie nativa sem ferrão que seria enviada para Hong Kong escondida entre brinquedos de pelúcia. Os cerca de 400 insetos foram avaliados por especialistas e, como estavam em boas condições, foram encaminhados para a Universidade Federal de São Carlos.
Em relação às abelhas nativas, a recomendação dos especialistas é que é sempre melhor mantê-las em seus locais de origem, evitando o transporte e a criação de colônias fora de suas regiões de ocorrência natural.
O interessante é que a pesquisa da Secretaria de Meio Ambiente e da USP já têm um efeito prático na formulação das políticas públicas. As recomendações dela foram incorporadas ao Plano Estadual de Adaptação e Resiliência Climática lançado pelo governo de São Paulo em 5 de junho de 2025, Dia Mundial de Meio Ambiente. Esse plano de enfrentamento dos impactos negativos decorrentes das mudanças climáticas tem horizonte de atuação de 10 anos e será implementado em ciclos.
Para que as recomendações saiam do papel e sejam largamente adotadas, haverá, certamente, grandes desafios diante de áreas imensas consolidadas de monocultura. Mas as sugestões são de que a restauração de ecossistemas possa se dar em áreas estratégicas menores, como as margens de córregos e rios, mantendo ou restaurando fragmentos de verde e nas bordas de propriedades que podem ser recuperadas para ampliar a oferta de polinizadores com o consequente benefício à produtividade agrícola.
Este estudo ganhador do Prêmio MapBiomas sugere que a conservação ambiental e a alta produtividade podem ser pensadas e alcançadas juntas. É mais uma constatação de que muitas soluções para a agricultura estão na própria natureza e que não é preciso destruir a biodiversidade para ter ganhos econômicos. Ela é um ativo sempre a favor.
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