A Corrida de Reis de Cuiabá e as vozes das ruas

Marcos Vergueiro- Secom-MT
Corridas de rua são mais que esporte: envolvem preparação, paixão e movimentam o turismo das cidades. Em Cuiabá, a Corrida de Reis, realizada no início de janeiro, virou tradição ao levar milhares de atletas e o público às ruas. No entanto, em 2026, pela primeira vez desde sua criação em 1985, o percurso não passará pelo coração da capital. A prova foi transferida para o Parque Novo Mato Grosso.
A mudança, anunciada na semana passada, com uma justificativa relacionada às obras atrasadas do BRT – ainda sem prazo para conclusão – provocou uma enxurrada de críticas nas redes sociais do governador Mauro Mendes e dos organizadores, a Rede Mato-Grossense de Comunicação (RMC), TV Centro América e Primeira Página.
Para muitos, o encanto da Corrida de Reis está justamente no contato com a cidade e com o público.
“É a única corrida em que temos apoio da população na rua, incentivando (…), é ali que muita gente resolve virar a chave para hábitos saudáveis, não façam isso com a Corrida de Reis, de todas as alterações que ela sofreu com passar dos anos essa é de longe a pior delas”. (@fgasseessoria).
Outro comentário foi direto.
“MM, já tivemos anos com obras e foi nas ruas. O público esteve lá e fizemos uma festa linda. Nada mudou, estamos em obras, não seria interessante tirar o brilho da festa que é a Corrida de Reis”. (@almeidamentz).
A reação negativa foi reforçada pela manifestação da equipe de Tangará da Serra.
“A equipe de Tangará da Serra vem a público expressar seu profundo descontentamento com a proposta”(@corredorestangara_
O Parque Novo Mato Grosso, que ainda não foi inaugurado oficialmente, tornou-se alvo principal das reclamações. es
“Transferir a Corrida de Reis para o parque é assinar atestado de incompetência pra gerir obras! Cuiabá virou um parque em todos os sentidos! E o povo que lute!” (@c.kemer.consultoria).
A questão da distância e do difícil acesso também foi levantada.
“O parque Novo Mato Grosso é longe, como esse público vai? ”(@adrijagnow).
Em outra postagem, o tom foi ainda mais duro: “Como acabar com uma tradição. Parabéns. Correr no meio do nada em lugar super longe da cidade. Acabaram com toda a graça de passar pelas ruas da cidade e contemplar o centro de Cuiabá” (@lanchedogordojuina).

Parque Novo Mato Grosso / Foto: Christiano Antonucci -Secom-MT
Além do acesso, a falta de infraestrutura foi apontada por atletas: “Eu participei esse ano de 25 provas e as piores foram no Parque Novo MT, não há infraestrutura, atletas de 10 km desidrataram além da escuridão, quando morrer algum atleta o @mpemt agirá” (@janiounico1977).
Outro comentário trouxe ironia e crítica: “Que segurança??? Se até o governador caiu lá esses meses atrás!! (@ramoosana).
Houve quem apoiasse a mudança, embora a maioria dos comentários seja com críticas. “Concordo em ser no parque, pq lá terá toda a estrutura para receber a população cuiabana e de pessoas que virão participar do evento com toda segurança devida”. (@joaniceanjos8).
“Corrida de rua também tem a ver com a cidade, um espaço democrático onde todos participam. (…) Infelizmente, uma péssima decisão pra maior prova de corrida ‘de rua’ de Mato Grosso”(@joaoantoniacomi).
Outro ponto que os internautas apontaram foi o marketing político. Em 2026, o governador Mauro Mendes deve concorrer a uma vaga no Senado.
“O governador usa a corrida para fazer seu marketing sobre as obras do parque no ano eleitoral. Lamentável prejudicar uma corrida tão tradicional em MT. TVCA e Mauro Mendes erraram feio nessa”. (@ronildolazaro).
Na rede social do governador, a equipe postou a seguinte resposta aos críticos.
“Essa foi uma alternativa encontrada pela organização da corrida e pelo Governo do Estado, em razão das obras que ocorrem em boa parte dos trechos onde os corredores passam. É uma forma de garantir a segurança dos participantes e comemorar a edição especial da corrida, que completa 41 anos” .
Procurado, o governo ressaltou em nota as obras do BRT e reforçou a questão da segurança, lembrando que “a corrida deste ano também teve alteração no percurso devido às obras”. No início da semana, o governador negou ter sugerido a mudança e declarou que a decisão partiu “do promotor do evento”, cabendo ao governo apenas ceder o espaço. Os organizadores não responderam aos questionamentos da coluna.
O percurso original, segundo divulgado, será retomado em 2027.
O que dá para concluir até o momento é que a decisão de mudar o percurso da corrida foi um tiro no pé para a campanha de Mauro Mendes e para a imagem da competição. O melhor seria repensar o trajeto e realizar a prova na cidade. A polêmica deste ano mostra o quanto a Corrida de Reis é mais que um evento esportivo: é memória, identidade e pertencimento. Tirar a prova das ruas é, para muitos, tirar-lhe a alma.
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