COLUNA

Regina Alvarez

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Análises e informações sobre o dia a dia da economia e como ela afeta o seu bolso.

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A inflação que afeta o nosso bolso

Em março, a inflação medida pelo IPCA desacelerou em relação ao mês anterior, ficando em 0,16%. No acumulado do ano – de janeiro a março – está em 1,42% e em 12 meses chegou a 3,93%, dentro da meta fixada para 2024, considerando as margens de tolerância do sistema de metas. Será que há motivos para comemorar?

Em termos, porque há um incômodo generalizado em relação à inflação de alimentos, que tem subido bem mais do que a média de preços. Em março, a alta dos alimentos puxou a variação do IPCA, com elevação de 0,53%. No ano, já subiu 3,49%, mais do que o dobro da inflação média do período.

A alta dos alimentos bem acima da inflação média é apontada como principal causa da queda recente da popularidade do presidente Lula, em especial nas camadas da população com renda mais baixa.

Quando nos deparamos com aumentos nos preços, o mau humor é inevitável. Às vezes nos leva a desconfiar dos próprios índices de inflação. Quem nunca saiu de um mercado, após fazer as compras da semana ou do mês, com a sensação de que a inflação está mais alta do que apontam os índices?

Essa percepção tem muito a ver com o que é chamado de inflação pessoal, aquela que de fato pesa no nosso bolso. Cada pessoa ou família tem uma inflação pessoal, que é a variação de preços sobre a cesta de produtos e serviços que consome. A inflação medida pelo IPCA – considerado o índice oficial do país – é uma média que leva em conta a variação de preços de uma cesta de produtos e serviços distribuídos em nove grupos e consumidos por famílias com renda de um a 40 salários mínimos que residem em 13 regiões metropolitanas do país.

Já a inflação pessoal considera os produtos e serviços que cada pessoa ou família consome e varia de acordo com a faixa de renda e o lugar onde essa pessoa ou família vive. Uma família com renda de um ou dois salários mínimos tem um padrão de vida e de consumo bem diferente de outra que recebe 10 salários e mais ainda daquelas que ganham 40 mínimos.

Pelo mesmo motivo, a inflação de alimentos pesa mais nas famílias de renda mais baixa, já que esses gastos consomem uma parcela maior do orçamento dessas famílias. Isso pode explicar a insatisfação de parte dessas camadas da população com o governo nesse começo de ano. Em janeiro, por exemplo, a inflação medida pelo IPCA ficou em 0,42%, mas uma análise do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – mostra que a inflação dos mais pobres ficou acima desse patamar. Na faixa de renda muito baixa, a alta de preços chegou a 0,66%, enquanto na faixa de renda baixa a inflação foi de 0,59%, puxada nos dois segmentos pela alta dos preços dos alimentos. Já entre os mais ricos, a inflação de janeiro foi de apenas 0,04%.

Preocupado com o impacto da inflação na sua popularidade, o presidente Lula convocou ministros para que estudem formas de reduzir os preços da cesta básica. A justificativa para boa parte dos aumentos está relacionada a mudanças climáticas e à quebra das safras, mas há muita coisa que pode ser feita para atenuar os eventos da natureza.

Uma das ideias em discussão é retomar a política de garantia de preços mínimos e de estoques reguladores, por meio da Conab – Companhia Nacional de Abastecimento. Essa política, largamente utilizada nos governos anteriores de Lula e abandonada na gestão Bolsonaro, estimula o aumento da produção e da oferta diversificada de produtos básicos como arroz, feijão, milho e trigo por todo o país, já que garante aos produtores a venda da safra para o governo por um preço mínimo estabelecido previamente em contratos.

Quanto à inflação pessoal, cada consumidor pode adotar algumas práticas para reduzir o impacto do aumento de preços no seu próprio orçamento. O caminho é listar seus gastos e acompanhar por um tempo a variação de preços dos produtos e serviços que consome. Ao identificar algum aumento que considere abusivo, tente substituir o produto ou serviço ou negociar uma redução. Nas compras do supermercado, é preciso ficar atento às marcas – que em muitos casos podem ser substituídas sem prejuízo da qualidade do produto. E também aos truques usados pelos comerciantes, como “esconder” os produtos de marcas mais baratas atrás daqueles mais caros ou deixá-los sem indicação de preço nas prateleiras. O conselho das nossas mães para dar preferência a produtos da estação na compra de frutas e verduras continua valendo e também vale abrir mão de alguns produtos, quando os preços parecerem exorbitantes.

É claro que nem sempre é possível desistir da compra de um produto ou serviço porque ele aumentou de preço, mas uma postura vigilante ajuda no equilíbrio do orçamento doméstico e também pode contribuir para evitar abusos por parte de comerciantes e prestadores de serviço, já que na esteira de preços em alta sempre tem alguém querendo levar vantagem.

 

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