COLUNA

Sônia Zaramella

soniaz@ehfonte.com.br

Relatos e fatos, pessoais ou não, do passado e do presente de Cuiabá e de Mato Grosso.

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A preciosa obra do francês Hercule Florence à disposição do público

Foto: Instituto Hercule Florence

Em fevereiro do ano que vem, a Biblioteca Central da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) colocará à disposição do público o livro L’ ami des Arts, ou L’ ami des Arts livré à lui-même, do artista e inventor francês Hercule Florence. Desde agosto a instituição é a depositária oficial da obra no estado.

Atualmente, o livro compõe o acervo da reitoria da UFMT. L’ ami des Arts é um compêndio ilustrado da vida e obra do desenhista, pintor e pesquisador Hercule Florence e é uma das mais importantes para a história da fotografia no mundo. 

Em 8 de agosto deste ano, a UFMT fez uma cerimônia para receber o exemplar número 34, de 300 especialmente preparados pelo Instituto Hercule Florence. A entidade promoveu o restauro, a digitalização em alta resolução, a transcrição diplomática do manuscrito original e produção da obra. 

Além de descrever as invenções e pesquisas de Florence, como a poligrafia, papel inimitável, zoofonia e a fotografia, o livro traz a versão final do relato da viagem fluvial da Expedição Langsdorff, entre 1825 e 1828, da qual Hercule Florence integrou como desenhista.

É nesse contexto da expedição estrangeira que o livro do artista ganha relevância para a história de Mato Grosso. Florence nasceu em Nice, na França, em 1804, e chegou ao Brasil em 1824 (200 anos atrás). Um ano depois ingressou na expedição científica de Georg Heinrich von Langsdorff, que visitou o estado. 

Precisamente em Cuiabá, a Expedição Langsdorff chegou em 30 de janeiro de 1827, onde ficou até dezembro do mesmo ano. São dessa época os desenhos que Florence fez dos Bororós, dos Guatós e outros povos originários. No conjunto da obra há desenhos do artista francês do porto de Cuiabá, de festas religiosas, rios e peixes, entre outros. 

Na capital mato-grossense, segundo os registros históricos, Hercule Florence era o segundo desenhista da Expedição Langsdorff. O primeiro desenhista foi o também francês Aimé-Adrien Taunay que, durante a expedição, em 1828, um ano depois da passagem por Cuiabá, morreu afogado quando tentava atravessar a cavalo o rio Guaporé, ainda em Mato Grosso, na região de Vila Bela da Santíssima Trindade.

Do porto paulista de Porto Feliz, de onde partiu em junho de 1826 para o norte do Brasil, a expedição fluvial percorreu os rios Tietê, Paraná, Pardo, Coxim, Taquari, Paraguai, São Lourenço, Cuiabá, Preto, Arinos, Juruena, Tapajós e Amazonas. Retornou de Belém, pela costa brasileira, até chegar ao Rio de Janeiro, em 10 de março de 1829. 

O livro L’ ami des Arts, na parte do relato da Expedição Langsdorff, tem repercussão interessante para Mato Grosso também no campo da comunicação e da informação. 

Até o final do século XVIII, parcela dos acontecimentos locais foi anotada pelos chamados ‘cronistas’ que, de alguma forma, desempenharam a função de ‘comunicadores’ naquele tempo. 

Já no século XIX tais relatos ficaram mais numerosos pois Mato Grosso recebeu várias expedições estrangeiras com objetivos de estudar suas riquezas naturais, seus habitantes originais e seus moradores regionais. Entre elas, a Expedição Langsdorff.

Ao fim de suas viagens, os chefes dessas expedições publicaram suas narrativas na Europa e no Brasil. No relato da Expedição Langsdorff estão as pinturas e os desenhos dos franceses Aimé-Adrien Taunay e Hercule Florence. Ou seja, junto com as informações, um outro recurso da comunicação – a iconografia – foi utilizado para dar visibilidade às explorações e estudos da expedição científica.

Retornando ao livro, o professor Fernando Thadeu, que é assessor da reitoria da UFMT, destacou que a obra é importante para a história de Mato Grosso e da Universidade. 

“A instituição desde o começo valorizou o trabalho dos viajantes e, no período mais recente, a historiadora e docente do Departamento de História Maria de Fátima Costa tornou-se referência nacional e internacional no assunto”, informou ele.

“A obra está na Universidade, o que é para mim uma grande alegria”, disse a professora Maria de Fátima. 

Hercule Florence viveu no Brasil até sua morte, em 1879.

Antonio Florence, tetraneto de Hercule Florence, esteve presente na cerimônia de entrega do exemplar 34 à UFMT.

 L’ ami des Arts, ou L’ ami des Arts livré à lui-même será entregue à Biblioteca Central da UFMT em solenidade programada para o dia 11 de fevereiro de 2025, às 8h30, na Reitoria.

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