Provavelmente, nem quando as mulheres tiveram que batalhar publicamente pelo seu direito ao voto as questões relacionadas ao feminino nunca foram tão discutidas, principalmente a misoginia. Tida pelo Professor Leandro Karnal como o pior dos preconceitos, o debate é sempre marcado por casos de feminicídio que se acumulam não apenas em nosso país. Mulheres são assassinadas pela força física masculina e certeza da impunidade, já que todo o sistema social está impregnado do mesmo preconceito. Mudanças na legislação, instituição de mecanismos estruturais de poder, políticas de incentivo à participação feminina, debates e combates, e outras táticas ainda não se mostraram suficientes para uma mudança neste lamentável quadro social.
Seria notável e motivos de grandes comemorações a diminuição da violência, a igualdade salarial, a divisão justa de cobranças e tarefas domésticas e o atendimento de outras demandas, mas isso colocaria fim ao preconceito? As mulheres protegidas porque o homem deixa de matar, por medo das consequências é um enorme feito e a justiça social clama por isso. Mas o preconceito tem raízes muito mais poderosas, fincadas no coração de cada um. O pensamento individual que força uma cultura a contrariar princípios de respeito e paz e até de desejos hollywoodianos de viver feliz para sempre.
A educação, sem dúvida, institui caminhos para a evolução de homens e mulheres, mas também não contribui tanto quanto necessário. Onde estão as brechas que possibilitam a difusão de um pensamento presente há milênios em culturas das mais diversas – cristãs, pagãs, indígenas, mulçumanas, judaicas etc.? A resposta a esta pergunta é bem complexa, mas se pode afirmar que nas religiões encontra-se boa fonte de problemas.
A reflexão e o estudo bíblico que levaram à edição do livro “Deus não é Machista” objetiva confrontar as ministrações religiosas a respeito do papel da mulher na família e na sociedade, com base na Bíblia e uma interpretação nova – não machista, com base também na Palavra e naquilo que conhecemos de Deus. O título mostra que jamais poderia haver uma interpretação que ensinasse como palavra divina qualquer preconceito. E, sim, a religião tem colocado a mulher como um ser menor, de segunda qualidade ou sem nenhuma para milhões de seguidores, que tentam ser fiéis aos ensinamentos de padres, pastores e outras lideranças espirituais.
As mentiras proferidas em nome de Deus têm poder social avassalador, principalmente associadas ao medo de contrariar Deus – em primeiro lugar, a família e a comunidade crente. Está lançada uma semente que propõe reflexões sinceras e profundas a respeito do assunto que deve ser compromisso espiritual de cada ser humano – só se agrada a Deus vivendo a verdade, e social ao adicionar novo eixo para o combate da execrável misoginia.
Regina Deliberai Trevisan é jornalista e empresária. Autora de “Deus não é Machista”.
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