Educação para as mudanças climáticas
Caiubi Kuhn*
Recentemente, em uma conversa, uma amiga expressou sua preocupação com a ansiedade climática, um termo que se refere ao impacto na saúde mental devido às preocupações sobre como os jovens percebem as mudanças climáticas. Os inúmeros eventos extremos que afetam diferentes regiões do planeta, como a recente tragédia no sul do Brasil, têm levantado preocupações sobre o futuro. Nesse contexto, a educação sobre mudanças climáticas e sobre medidas de prevenção e resposta a eventos extremos é fundamental para que a população possa entender esses fenômenos e lidar com suas ocorrências.
As mudanças no clima são fenômenos que ocorrem ao longo da história do planeta. Entre os fatores que influenciam essas mudanças estão, por exemplo, os ciclos solares, que apresentam variações na atividade a cada 11 anos, afetando a quantidade de energia que chega à Terra. Outros ciclos, como o de Milankovitch, estão relacionados a variações orbitais e também influenciam a quantidade de energia solar que atinge nosso planeta. Esse ciclo tem controlado, nos últimos milhões de anos, a ocorrência de períodos glaciais e interglaciais. Outros fatores, como a quantidade de gases de efeito estufa e a dinâmica das correntes marinhas, também são importantes controladores do clima global.
Para se ter uma ideia das mudanças que nosso planeta vivenciou nos últimos milênios, durante o último período glacial, que terminou há cerca de 12 mil anos, o nível do mar estava aproximadamente 120 metros abaixo do nível atual. As condições climáticas, naquela época, eram bem diferentes em todo o planeta.
Os ciclos climáticos variam em recorrência, desde milhares de anos, como o ciclo de Milankovitch, até ciclos mais curtos, de alguns anos ou décadas. Entre os ciclos mais curtos, podemos citar as mudanças na temperatura do Oceano Pacífico, onde o El Niño representa eventos de aquecimento, enquanto a La Niña indica temperaturas mais frias.
As alterações nas condições climáticas influenciam a quantidade de água que evapora dos oceanos, a força e a direção das frentes frias, impactando assim a ocorrência de eventos extremos de chuva ou seca. A história nos mostra a recorrência de eventos climáticos. Durante as recentes secas na Amazônia, por exemplo, foram encontrados sítios arqueológicos de 2 mil anos no leito do Rio Negro, indicando que naquela época ocorreu um evento de seca que permitiu aos indígenas locais fazer inscrições rupestres.
É crucial destacar e explicar os ciclos do planeta, para mostrar que eventos de seca e chuva extrema sempre ocorreram. Estudar, entender e estar preparado para mudanças no clima é fundamental para a humanidade. Nossa espécie já enfrentou diversas mudanças climáticas globais, como o término do último período glacial citado neste texto. No entanto, além das mudanças naturais cíclicas, as alterações causadas pelo homem na natureza — seja na vegetação, seja na emissão de gases de efeito estufa, seja na construção de estruturas que aumentam a temperatura local, como cidades que criam ilhas de calor — podem intensificar ainda mais a força dos eventos naturais, tornando os extremos ainda mais severos.
No processo de ensino e aprendizagem, é essencial apresentar de forma integrada os ciclos naturais e a dinâmica do sistema climático, que envolve a interação entre a atmosfera, hidrosfera, biosfera e litosfera do nosso planeta, sob a influência do sol e dos ciclos orbitais. É igualmente importante debater e explicar como a atividade humana impacta o meio ambiente, especialmente o clima, e como podemos nos preparar para eventos extremos de seca ou chuva. Outra ação necessária é debater como melhorar o ordenamento territorial das nossas cidades, para possibilitar microclimas que proporcionem uma melhor qualidade de vida.
A educação para mudanças climáticas é necessária para garantir mais resiliência em casos de ocorrência eventos extremos, assim como para garantir que os jovens compreendam o planeta que vivem, que saibam entender a história do planeta, pensando e construindo um futuro com mais sustentabilidade.
*Caiubi Kuhn é geólogo, Doutor em Geociência e Meio Ambiente (UNESP), Professor na UFMT
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