Mauro Mendes ensina como a oposição deve tratar Abilio
Pedro Pinto de Oliveira*

Os auxiliares diretos do prefeito Abilio Brunini, hoje a maior liderança da extrema direita em Mato Grosso, celebram a competência do chefe político, em especial a sua estratégia comunicativa. Para esta turma do entorno de Abilio, ele é um mestre da comunicação. Ele consegue manter seus seguidores e dar a impressão que é um “fiscal da prefeitura” sendo o próprio prefeito. Seus vídeos e suas declarações dão tração, resultam em likes e promovem sua imagem de corajoso, religioso e conservador, sendo, ao contrário destes atributos de fachada, apenas uma liderança radical da extrema direita que tem medo dos fatos, usa a religião como instrumento e faz a defesa do radicalismo que incentiva o ódio ao outro.
É preciso deixar claro, muito do sucesso da comunicação do prefeito vem na verdade do fracasso do contraponto da oposição. Oposicionistas criticam, na maioria das vezes, temas acessórios deixando de lado os pontos fracos da gestão. Mordem a isca da ideologia, da polarização, desperdiçando energia e inteligência em debater o que interessa aos cuiabanos, a realidade. Falar dos problemas reais da cidade, debatidos na eleição de 2024 e que foram simplesmente esquecidos pelo alcaide extremista. A chamada esquerda não tem liderança, não tem rosto e, pior, não tem a pauta que toca os corações e mentes da população. A verdade: a saúde pública piorou com Abilio e o transporte coletivo continua um caos. Cadê as “Vilas da Saúde”, prometidas por Abílio na campanha? Cadê a CPI do Transporte Coletivo que foi aprovada e não saiu do papel na Câmara de Cuiabá, um puxadinho da prefeitura? Sem cobrar as coisas reais, a seriedade no trato com a coisa pública, a oposição dá de presente a Abilio a comunicação sonhada por qualquer governante: sem contrapontos baseados em fatos, em cobranças de promessas não cumpridas. Abilio precisa ser fiscalizado pelo que está deixando de fazer, mais do que pelo que fala.
Quem deu uma lição de como tratar Abílio, quem diria, foi o governador Mauro Mendes. Quando Abilio ameaçou fugir das suas responsabilidades com a saúde, querendo jogar os problemas no colo do governador, Mauro foi direto ao ponto: Abilio tem que tratar a saúde de Cuiabá com seriedade. Com seriedade nas ações e não apenas, irresponsavelmente, na e pela mídia, foi em síntese o que disse. Colocou Abilio no seu lugar e colocou a pauta no lugar certo: a discussão que interessa ao cidadão sobre a responsabilidade que cabe à prefeitura e que Abilio não dá conta, seja por incompetência e/ou preguiça.
A oposição sem líder até agora não trouxe para o debate o que realmente interessa. Por exemplo, a última Conferência Municipal de Saúde. Qual o diagnóstico feito pelos conferencistas? Quais são as mazelas da atual gestão? O que o prefeito não está fazendo e deveria estar fazendo? Quais são as prescrições sobre o que deve ser feito? Ou seja, um banho de mundo real, falar sobre os problemas reais. A cena armada contra a liberdade de expressão de uma professora na Conferência é um flagrante delito da omissão do prefeito, político-celular: preferiu a cortina de fumaça, preferiu o diversionismo a lidar com um debate franco, democrático, sobre o fracasso da sua gestão na saúde.
A frase é do escritor George Orwell : “Ver o que está na frente do nariz é preciso uma luta constante”. Mas Orwell também nos chama sempre para dizer o que vemos, mesmo que seja desconfortável para o nosso próprio lado. A oposição precisa rever sua estratégia comunicativa, tratar Abilio pelo o que é: um político que fez um mundo de promessas que não está cumprindo. Como representante da extrema direita só cuida de fabricar diariamente as falácias ideológicas que agradam a sua claque.
Em tempo: a lição de Mauro Mendes de como tratar Abilio, em óbvio, se aplica ao próprio Mauro Mendes. O governador deve explicações sobre a série de escândalos em seu governo, mas por enquanto nada de braçada na complacência da oposição, com honrosas exceções, que prefere o silêncio cúmplice ao contraponto de compromisso com o interesse público.
*Pedro Pinto de Oliveira é jornalista e professor da UFMT. Mestre em Ciências da Comunicação pela USP e doutor em Comunicação pela UFMG.
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