Mulheres Negras em Cuiabá: Invisibilidades, lutas e o direito ao bem viver
Maria Aparecida de Matos*
Falar sobre o bem viver das mulheres negras em Cuiabá é tocar em uma ferida que, embora antiga, ainda pulsa com a dor do descaso, da invisibilidade e da desigualdade. Em uma cidade marcada por contrastes e que carrega o peso histórico de um Brasil que por séculos negou dignidade aos corpos negros e corpos negr@s, pensar em protagonismo, justiça e equidade para essas mulheres é, acima de tudo, um ato de resistência e de sonho.
A mulher negra cuiabana é muitas vezes aquela que carrega nos ombros o peso do cuidado – da casa, dos filhos, dos outros – mas raramente é cuidada. Ela está nas filas dos postos de saúde, nos bairros periféricos onde o ônibus demora a passar, nos corredores das escolas públicas, nos empregos mais precarizados. Sua luta diária é atravessada pela ausência do Estado, pela negligência das políticas públicas e por um racismo estrutural que insiste em silenciar sua voz.
No entanto, mesmo diante da dor, ela resiste. E mais do que isso: ela lidera. Porque o protagonismo da mulher negra não é uma concessão, é uma conquista. É a força das mães de terreiro que mantêm viva a espiritualidade ancestral, das educadoras que transformam salas de aula em espaços de libertação, das empreendedoras que enfrentam a exclusão do mercado formal com criatividade e coragem.
Mas o bem viver não pode ser só resistência. O bem viver precisa ser escolha, dignidade, segurança, saúde, lazer, afeto, reconhecimento. O bem viver das mulheres negras passa pela construção de uma cidade que olhe para elas como sujeitas de direitos, e não apenas como estatísticas da pobreza.
Falar de justiça é exigir reparação histórica. É entender que igualdade não basta quando há desigualdades tão profundas. É por isso que falamos em equidade: medidas específicas para corrigir desigualdades específicas. Que políticas públicas em Cuiabá sejam pensadas com a participação ativa dessas mulheres, que sejam ouvidas em conselhos, assembleias, espaços de decisão.
Protagonismo não é presença simbólica. É escuta ativa, é ocupar cargos de liderança, é construir narrativas que libertem e não aprisionem. É garantir que uma menina negra cuiabana possa crescer acreditando que tem o direito de sonhar alto – e mais ainda, o direito de realizar seus sonhos.
Portanto, falar de bem viver das mulheres negras em Cuiabá é uma convocação. Para que a cidade se repense. Para que a sociedade se responsabilize. Para que o futuro seja escrito com justiça, com equidade, com o brilho e a sabedoria das mulheres negras que, mesmo feridas, seguem de pé e seguem fazendo histórias.
*Maria Aparecida de Matos é cuiabana, professora associada da Universidade Federal do Tocantins/CampusArraias/Tocantins
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