Barão do agro é pré-candidato do PT
Milionário e referência no agronegócio, o empresário Carlos Ernesto Augustin, mais conhecido como Teti, lançou-se em um novo desafio aos 66 anos. Ele é pré-candidato do PT à prefeitura de Rondonópolis (MT), a segunda maior economia de Mato Grosso. Atual assessor especial do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, Teti pretende agrupar a esquerda e os demais progressistas da cidade em torno de seu nome.
“Eu não tenho bola de cristal, mas sei administrar e é isso que me capacita, como eu acho que posso contribuir”, afirmou, em entrevista à coluna.
Na sua “praia”, que é o agro, Teti é elogiado por “furar a bolha”. Tem também hábitos pouco convencionais. Nas ruas de Brasília e de Rondonópolis, o empresário chama atenção por utilizar uma patinete elétrica para seu deslocamento durante o dia.
Já no campo da política partidária, o jogo é outro. Até o momento, o empresário atuou apenas nos bastidores. Agora, terá que mergulhar na política local, investir em mídia e em ações para se tornar conhecido e ganhar a confiança do eleitor.
Dono da Sementes Petrovina, uma das maiores empresas produtoras de sementes do país, Teti não possui o perfil de um petista tradicional. Até as convenções partidárias que ocorrerão entre 20 de julho e 5 de agosto, terá que convencer que é o melhor nome para concorrer à prefeitura de Rondonópolis. A seu favor, contam a aproximação e o apoio de Lula. E também o apoio financeiro que vem dando ao PT. Só em 2023 – que nem foi ano eleitoral – doou R$ 135,5 mil ao partido em MT, 30,3% de toda a receita da agremiação.
Além de Teti, o grupo progressista em Rondonópolis ainda conta com as pré-candidaturas do vice-prefeito Aylon Arruda (PSD) e do presidente da Sanear Paulo José (PSB), que é o preferido do prefeito Zé Carlos do Pátio (PSB). Para o empresário, a união em torno de um nome é o “mais coerente”, mas também não descarta uma divisão.
Solteiro e sem filhos, Teti conta nesta entrevista os planos para a herança. Fala do trabalho no Ministério da Agricultura, do projeto de sua nova carreira política e como pretende conquistar o eleitor.
Por que o senhor resolveu ser candidato?
Eu sempre participei da política em Brasília, (debatendo) com deputados da Frente Parlamentar da Agricultura, praticamente fundei a FPA. Como eu acabei apoiando o presidente Lula, e sendo assessor especial do ministro (Carlos Fávaro), também comecei a ver como é importante a gente ter deputados em Brasília e como é difícil quando não tem base. Então me senti na obrigação de me filiar e ter participação partidária também aqui em Rondonópolis. Uma forma de fazer isso é por meio da prefeitura. Eu sou administrador, eu sei administrar uma empresa. Isso é o que eu faço. Eu gosto de desafios, eu sei fazer (uma) estratégia.
O que iria fazer de diferente em Rondonópolis?
Eu não sou municipalista. Eu acho que faria o que faço na minha empresa, procurar modernizar. E, principalmente, uma coisa que aprendi no Ministério de Agricultura é que a gente tem possibilidades de cooperações de todo tipo, econômicas, sociais, projetos, convênios, financiamentos. Por exemplo, criar um polo de agricultura digital, que não tem em Mato Grosso. Eu não tenho bola de cristal, também não sou mágico, mas eu sei administrar e é isso que me capacita, que eu acho que posso contribuir.
O senhor é conhecido no meio empresarial, mas desconhecido para o eleitor. Isso é um desafio?
No momento certo eu vou fazer essa abordagem. A população não me conhece, mas conhece minha empresa, e é bem reconhecida. Eu sei que o eleitor quer saber do administrador, não quer saber do Bolsonaro e do Lula. Se cansou dessa briga, não gosta porque já criou brigas familiares. Se cansou de politicagem e gostaria de ter boa administração. Eu me encaixo bem nesse quesito.
Mas como convencer a população a votar no senhor?
Eu não vejo isso difícil. Eu não tenho que mentir, não tenho que esconder e nem sei fazer isso. Todo mundo que me conhece sabe que se tem uma coisa que eu não sei é esconder o que eu penso. O que eu tenho para oferecer? Tenho capacidade de gerenciamento, conhecimento, experiência de vida, experiência na gestão, relacionamento com Brasília, relacionamento político até internacional. Se a população quer um populista que incendeia a multidão para fazer política, um ídolo de direita ou de esquerda, não é comigo.
O senhor se lançou como pré-candidato do PT, da Federação (PV e PCdoB). Seria possível uma composição com os demais progreessistas para candidato único?
É uma questão de bom senso e de coerência. O Centrão e os partidos de direita normalmente não estão enrolados em bandeira nenhuma, a bandeira é meu umbigo, o que eu quero pra mim. Isso não é o nosso caso. É possível nos dividir? Tudo é possível, mas acho que essa é a última possibilidade.
Então acredita na união…
Não consigo vislumbrar um racha. Não se trata de uma candidatura de projeção pessoal, isso eu não vou fazer. Eu estou aqui para servir ao partido, se o meu nome for o melhor para ganhar. Se o (nome) melhor para ganhar for outro, não tenho problema nenhum com isso. Quero ajudar a conciliação (do país) e por isso me engajei.
O senhor se filiou ao PT só no ano passado. Por que?
Eu estudava em Porto Alegre e lá na minha cidade, Carazinho (RS), nós fundamos o PT. O Lula foi lá, ele era operário do ABC Paulista. Meus irmãos também sempre foram do PT. Eu lembro que ele (Lula) ficou na nossa casa porque meus pais estavam viajando. Na época meu pai jamais votaria no PT, mas depois acabou votando. Eu me filiei lá. Acontece que quando eu vim para Mato Grosso, quando a gente muda, aí cai a ficha, cai a filiação. Aqui a minha atividade política foi de bastidor e sempre voltada às causas da agricultura, nunca olhando o partido. Na frente parlamentar nós não olhamos o partido, nós olhamos a agricultura. Mas, agora, com essa nova polarização aí, eu entendi que eu tinha que me posicionar.
Como surgiu a ideia para o financiamento rural do BNDES atrelado ao dólar?
Foi numa conversa com o Mercadante (Aloízio, presidente do BNDES). Ele explicou que esse dinheiro é o dinheiro internacional, basta pagar o juro internacional, pagar as taxas de administração dos bancos e está disponível. Daí nós fizemos essa primeira linha de dólar para máquina, que foi um sucesso. Essa mesma linha virou linha para armazém, pode ser usada com fluxo de caixa para as cooperativas e agricultores em dificuldades. Eu vou propor também que o agricultor compre o adubo (financiado em dólar).
E sobre a sua herança? É verdade que pretende criar uma escola política?
O Eraí (Maggi, dono do grupo Bom Futuro) vive me perguntando o que eu vou fazer com meu dinheiro. Digo, eu não vou fazer nada. ‘Mas tu não tem filho…’ Sim, e daí? Tenho sobrinhos e tal. É uma ideia que provavelmente eu vou fazer, não é bem uma escola, é uma fundação técnica e política. Por quê? Eu aprendi, em Brasília, que os grandes avanços que a gente tem ou são políticos ou são técnicos. Eu posso pegar uma parte dos meus negócios – provavelmente vou fazer isso no momento oportuno – deixar alguma coisa aí, sem nenhum fim lucrativo, mas com fins da agricultura. Tem uma ideia de alguns grandes empresários da agricultura de fazer isso em conjunto. É uma ideia que eu gostaria de ver realizada.
O senhor faz parte do grupo dos milionários. O que acha da taxação dos super ricos?
Eu não me considero bilionário, milionário. Eu saí da faculdade e vim para Mato Grosso, minha primeira lavoura foi 500 hectares, isso não é coisa de milionário, mas eu trabalhei por 40 anos e construí uma empresa. Acho que a evolução da civilização é quem faz grande fortuna colabora com muito mais do que aquele homem que não teve. Ele extrai esse dinheiro para oportunidade de todos. E pelo que eu fiquei sabendo foi bem aceita essa postulação do Haddad (Fernando, ministro da Fazenda). Eu concordo muito com isso.
Mas nem todo mundo pensa assim …
Sabe quem não pensa como eu? Eu diria que é o rico escravagista. ‘Eu sou rico e quero que o povo se f. ‘, entendeu? Cada um tem o jeito de pensar o que bem entender.
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