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Agressão em escola leva à militarização; medida é criticada

Foto: Reprodução

Por Fátima Lessa*

Uma adolescente foi brutalmente agredida dentro da Escola Estadual Plena Carlos Hugueney, em Alto Araguaia (MT). O caso foi registrado em vídeo pelas próprias autoras da violência e divulgado nas redes sociais em 4 de agosto. As imagens mostram a estudante ajoelhada, sendo cercada por colegas e atacada com tapas, chutes, socos, puxões de cabelo e golpes com cabo de vassoura.

Segundo a Polícia Civil, a motivação teria sido a recusa da vítima em oferecer um “geladinho”, suco de pacotinho, a um colega. O caso causou forte comoção e reacendeu o debate sobre a segurança nas escolas públicas de Mato Grosso.

Em coletiva de imprensa, o secretário de Educação do estado, Alan Resende Porto, anunciou que a unidade será transformada em uma escola cívico-militar. Militares da reserva já estariam sendo recrutados para atuar no local.

A medida foi criticada por entidades e especialistas da área da educação. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público (Sintep-MT), Henrique Lopes, classificou a militarização como paliativa. “Essa medida desvia o foco das verdadeiras causas da violência: o abandono das políticas públicas sociais, o desmonte da educação e a ausência de investimentos estruturais”, afirmou.

Lopes alertou para o risco de se criar a falsa impressão de que o crime tomou conta das escolas. “O que aconteceu em Alto Araguaia é grave, mas não é a regra. Não é colocando polícia dentro das escolas que vamos resolver um problema que é social.”

O comandante do 15º Batalhão da Polícia Militar em Alto Araguaia, tenente-coronel Willyam Becker Demartini, afirmou que os casos de violência escolar no município são pontuais, mas admitiu que, após a apuração do caso, surgiram indícios de que comportamentos semelhantes possam estar ocorrendo de forma silenciosa e sem o conhecimento da gestão escolar.

Políticas públicas em vez de repressão

O pastor e professor universitário Teobaldo Witter, que atua na formação de professores, considera que a resposta à violência não virá da repressão, mas do cuidado e da escuta. “Militarizar é fácil. Educar, não. Mas é a única saída duradoura”, afirmou.

Segundo ele, a violência nas escolas não começa no momento do tapa ou da filmagem. “Começa no abandono institucional, na falta de mediação de conflitos, no despreparo para lidar com realidades familiares desestruturadas e na banalização da violência”, diz.

Para Witter, o episódio deve servir para uma reflexão sobre as escolhas que estão sendo feitas para a educação pública. “A escola é o espelho da sociedade. E o reflexo, agora, está trincado.”

Grupo com estrutura de facção

As investigações conduzidas pela Polícia Civil apontam que as adolescentes agressoras integravam um grupo com regras e funções internas, semelhantes às de uma facção criminosa. A vítima teria sido punida por descumprir uma dessas normas. Durante a sessão de espancamento, foi ainda obrigada a não chorar, sob ameaça de novas agressões.

O delegado Marcos Paulo Batista de Oliveira solicitou a internação das adolescentes por atos infracionais análogos aos crimes de tortura e organização criminosa. A 1ª Vara de Alto Araguaia acolheu o pedido no dia 6 de agosto e expediu mandados de busca e apreensão para cumprimento das medidas socioeducativas.

Três adolescentes foram internadas. Uma quarta menor, de 11 anos, não pôde ser submetida à medida, conforme prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Cerca de dez pessoas foram ouvidas, entre elas a direção da escola, pais, as envolvidas e a própria vítima. As adolescentes confessaram as agressões e relataram que outras alunas também já haviam sido espancadas pelo grupo.

*Reportagem realizada com apoio voluntário de Fátima Lessa.

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