COLUNA

Sônia Zaramella

soniaz@ehfonte.com.br

Relatos e fatos, pessoais ou não, do passado e do presente de Cuiabá e de Mato Grosso.

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Estou nos 20,60% do Gazeta Dados e 10% da Quaest

Foto: ACCuiabá

 

Às vésperas das eleições para prefeito de Cuiabá penso com os botões o que leva meus conterrâneos a conferir uma aprovação de 72,86% ao governador Mauro Mendes, segundo o Gazeta Dados de setembro, e uma sinalização positiva de 64% apontada, em agosto, pela Quaest. Daí que, com isso em mente, busco justificativas para me posicionar entre os 20,60% (Gazeta Dados) de cuiabanos que desaprovam o atual gestor estadual e os 10% (Quaest) que acham sua administração negativa. Ao final, almejo que este exercício mental me ajude a decidir entre continuar com a minoria ou migrar dela já neste pleito de domingo.

Colocando os prós e contras num papel em branco, separados por um risco de caneta, listei as informações que balizaram o conceito negativo que faço do governo. Inicialmente imaginei que tipo de otimismo/orgulho poderia alimentar, em Cuiabá, essa onda favorável à gestão de Mendes. Apenas um setor da administração estadual (saúde) surgiu positivamente na minha mente e anotei. Na sequência procurei entender como as coisas funcionam e identificar atitudes/ações que me fizeram antipatizar, implicar mesmo, com o governador de MT e esse relacionamento que, de fato, Mendes mantém com minha cidade natal.

Formação ideológica figurou no topo dos ‘contras’ da lista, visto que não me alinho com autoridades que apoiam políticos do quilate de Bolsonaro. Depois registrei a conduta de gestor de Mendes – atitude, comportamento, modo, entre outros traços. Concluí que a empáfia, no sentido de soberba e arrogância, não fica bem em um homem público. Assinalei também ausência de identidade cuiabana, pois não percebo Mendes afeito às tradições culturais locais nem interessado em preservação e conservação de patrimônios. O centro histórico de Cuiabá, por exemplo, poderia ter apoio do Estado, mas não tem.

Outra característica da gestão de Mendes que observo é o foco no dinheiro, nos resultados, ou, em outras palavras, na priorização de medidas econômicas geradoras de receita. Não que sejam desnecessárias, todavia, penso que tais ações devem caminhar juntas com as medidas sociais que as populações, entre elas, a cuiabana, demandam. Noto que há pouco investimento em habitação, assistência aos idosos, no combate às mudanças climáticas e em políticas culturais, ambientais e sociais, entre outras áreas que o município precisa e que requerem suporte financeiro do governo.

Também nos meus pensamentos surgiu, nessa relação Cuiabá x Mendes, a famigerada lei da pesca, aquela que proíbe os ribeirinhos não só da capital, mas de todo MT, de pescarem, por cinco anos, 13 espécies de peixes economicamente importantes para a sobrevivência. Essa lei foi um ‘tiro no pé’ que transbordou até no almoço do cuiabano de domingo em família. Graças aos órgãos da pesca, essa proibição, defendida por Mendes, sem lastro científico, está sub judice no STF.

Outra medida emblemática que a cidade sofreu foi a imposição do BRT (ônibus rápido) no lugar do VLT (veículo sobre trilhos). Alimentado pela Copa 2014, o VLT virou uma obra que envergonha a todos. Com a troca decidida pelo governo sem ouvir os moradores de Cuiabá e VG, as cidades perderam o viés de modernidade na mobilidade urbana que teriam com o VLT. Vê-se agora, no sentido contrário, no Rio de Janeiro, que “a veletização” dos BRT’s da cidade é uma das bandeiras da campanha de reeleição do prefeito Eduardo Paes no pleito de domingo. Mas a troca pelo BRT em MT, segundo o governo, foi para pôr fim à famigerada corrupção. Discordei dessa mudança; a obra do VLT poderia ser continuada, os corruptos punidos e o dinheiro recuperado.

Porém, “custa dar valor ao que tem valor”, alertou a amiga. Não, não custa! Desse modo, considerei a intervenção do estado na saúde municipal necessária e a ação figurou no lado positivo da administração Mendes e constou do meu exercício. De fato, o setor demanda condução qualificada e transparência nas suas múltiplas e complexas ações. Corrupção na saúde é abominável, sublinhe-se.

Registrado tal desempenho, retorno aos ‘contras’, reproduzindo uma frase de Mendes de dezembro passado – “nunca vi brigar por algo tão ruim que é ser prefeito de Cuiabá”. Ele se referia, ‘em tom de brincadeira’, segundo noticiaram os sites, ao impasse entre Eduardo Botelho e Fábio Garcia que pleiteavam a pré-candidatura ao cargo pelo União Brasil. Zombaria à parte, isso só engrossou meu malquerer pelo governo. Sou bairrista convicta.

Contudo, não saindo do campo da briga, mas já avançando para uma situação de guerra, deve-se lembrar que a mais visível e prejudicial aos cuiabanos é a atual entre o governador e o prefeito da capital, Emanuel Pinheiro. Essa rivalidade política foi exemplificada há poucos dias pelo próprio Mendes – “o estado fez convênios com os 140 municípios de MT menos com Cuiabá”, afirmou. Ele atribuiu isso ao prefeito Emanuel “que não aceita [o convênio] e porque fica difícil mandar dinheiro para uma prefeitura que tem um gestor corrupto”.

Entretanto, Mendes acenou que vai voltar a fazer parceria com Cuiabá “com a vitória de Eduardo Botelho”, que é o candidato que apoia para prefeito da capital. E foi além, pedindo que os servidores públicos saiam às ruas em campanha pedindo ‘de cinco a 10 votos a mais para Botelho’.  “Pode isso, produção?”, reagiu um amigo. “É pra acabar”, comentou outro. “Cadê o Ministério Público para denunciar esse assédio?”, reclamou o colega.

Óbvio que o eleitor tem seu posicionamento político, valores e referências, além da leitura da realidade da cidade em que mora. Escolher e votar no candidato a prefeito, por mais que os postulantes não sejam lá essas coisas que se idealiza, é um dever a ser cumprido com toda clareza do momento eleitoral.

Assim, ‘simbora’ lá, domingo, nas urnas, escolher o futuro prefeito de Cuiabá, bem como os vereadores da cidade. No meu caso, o resultado deste exercício mental sugeriu permanecer do lado da minoria contra o governo Mendes, portanto, não votar nos candidatos (prefeito e vereador/vereadora) por ele apoiados.

Mas rezarei aos meus santos protetores para que o governador, caso seu preferido não seja o vitorioso do pleito, encerre essa ‘birra política’ com a administração da minha cidade porque esse embate só prejudica a nós, cuiabanos.

Boas eleições!

*Os textos das colunas e dos artigos são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do eh fonte

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