COLUNA

Sônia Zaramella

soniaz@ehfonte.com.br

Relatos e fatos, pessoais ou não, do passado e do presente de Cuiabá e de Mato Grosso.

Banner
Banner

Filme cuiabano vai disputar o Kikito 2025

Foto: Reprodução

De novo, o diretor, roteirista e produtor de cinema e publicidade cuiabano Bruno Bini se distingue, de modo gigante, na cinematografia do país. O longa-metragem de ficção Cinco Tipos de Medo, filmado em Cuiabá e dirigido por Bini, é um dos seis filmes da mostra competitiva do 53º Festival de Cinema de Gramado, a ser realizado em agosto próximo. 

Em 2019, Bini concorreu, com o filme Loop, ao troféu Candango, no Festival de Brasília. Loop é uma ficção científica sobre viagem no tempo. Já Cinco Tipos de Medo, protagonizado por Bella Campos e Xamã, fala da violência urbana. “É um filme sobre vidas que se encontram e se afetam e pessoas em busca de redenção e esperança”, contou ele à coluna. 

O Festival de Gramado, cujo prêmio máximo é o troféu Kikito, é o mais importante do país. Portanto, a indicação deve ser celebrada, visto que não surge como uma confirmação pretensiosa, mas resultante de empenho e talento combinados. Além disso, valoriza um setor de trajetória admirável em Mato Grosso, especialmente em Cuiabá.  

Bini se disse “muito feliz” com a seleção do filme, que, por si só, “já é um reconhecimento incrível”. Ele pontuou que “Gramado teve recorde de inscritos e estar entre os selecionados é uma confirmação da qualidade do cinema que fazemos em MT”. Da mesma forma reagiu Moacir Francisco Barros, professor doutor do curso de Cinema e Audiovisual da UFMT.

“A indicação é mais uma evidência de que nossos profissionais estão se destacando no cenário nacional e internacional e que Mato Grosso produz filmes de qualidade”, afirmou. Na atualidade, nessa linha, Moacir Francisco enxergou ainda um bom número de produções, citando a recente filmagem do longa Religare, de Marithê Azevedo, com a participação da atriz Letícia Sabatella e do grupo Flor Ribeirinha. 

Também este ano, em Vila Bela da Santíssima Trindade, foi filmado o longa de Dani Bertolini, Somos Tereza, com Zezé Motta e uma equipe formada na maioria por mulheres nas funções técnicas. Neste mês, mais um filme está sendo produzido com a dupla Nico e Lau, dirigido pelo cineasta Luiz Marcheti. Em Poxoréu, está sendo rodado agora o longa Ensaio sobre a Verdade, de Wanderson Lana. 

Em retrospecto, Moacir Francisco destaca as décadas de 1990/2000 como importantes para o cinema e audiovisual em MT. Até essa época – considerando como marco inicial a divisão geopolítica do estado, em 1977 – MT aparecia mais como cenário para longas metragens, mesmo que tais produções contassem com a participação de profissionais locais nas equipes. 

Foi o caso de Avaeté – sementes da vingança (Zelito Viana, 1985), Mário (Hermano Penna, 1999) e de Latitude Zero(Tony Venturi, 2001). “Mas ainda não eram nossas histórias que estavam sendo contadas”, frisou. Surgiram, então, naquele tempo em que era clara a separação entre vídeo e cinema (hoje isso mudou com a tecnologia digital), Glória Albuês, Amauri Tangará e Luiz Borges produzindo os primeiros curtas em película.

“O mercado progrediu bastante, hoje temos filmes em plataformas como Netflix e Globoplay e uma produção crescente de curtas e longas metragens”, registrou Moacir Francisco. Ele disse que “no interior de MT estão produzindo filmes, os coletivos universitários também, coletivo LGBTQIAPN+, coletivo negro, enfim, “há uma produção acontecendo graças às leis de incentivo (Lei Paulo Gustavo e Aldir Blanc)”. 

O professor explicou que é a partir dessas leis que começa uma produção mais focada em ficção no estado. No Brasil, na época da Retomada, como ficou conhecido o período do cinema nacional após o desmonte no governo Collor, com a extinção da Embrafilme, entre outros órgãos, surgiram a Lei Rouanet e a Lei do Audiovisual. E, em MT, a Lei Hermes de Abreu. 

“É nesse período que o cinema floresce no estado, com produções pioneiras em película por realizadores locais”, lembrou Moacir Francisco. O premiado diretor Bruno Bini também acredita que o cinema de MT está “em um bom momento, graças às políticas de descentralização de recursos e ao trabalho e talento dos realizadores locais”. 

Bini defendeu o fortalecimento das políticas de fomento, prevendo que, “se isso acontecer, o futuro do audiovisual mato-grossense tem tudo para ser brilhante”. Ele destacou ainda a importância do Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá, hoje Cinemato*, na formação e divulgação do trabalho de muitos realizadores mato-grossenses. 

“Temos filmes que considero marcos importantes, como Pobre é Quem Não Tem Jipe, de Amauri Tangará, primeiro curta do estado selecionado e premiado no Festival de Cinema de Brasília. Também do Amauri o longa A Oitava Cor do Arco Íris; outro longa – A Batalha de Shangri-lá, do Severino Neto, além dos curtas A Gente Nasce Só de Mãe, da Caru Alves, e Teodora Quer Dançar, da Samantha Col Debella. 

Como assinalou o professor Moacir, “os profissionais locais não ficam atrás dos de outros estados”. Tem muita gente com qualidade no mercado mato-grossense”, afirmou.  Ele lembrou que, na UFMT, jovens realizadores começaram a se destacar nos anos 1990, como o diretor Bruno Bini. No Festival de Cuiabá, “eu consegui desmistificar o universo cinematográfico e comecei a pensar o audiovisual como uma escolha de vida”, recordou Bini. 

Moacir Francisco atua na formação de profissionais na UFMT desde 1993. Atualmente, coordena o curso de Cinema e Audiovisual da instituição, que recebe 30 alunos por ano. É o atual produtor da Mostra Cinema e Direitos Humanos em Cuiabá. 

Boa sorte, Bruno Bini! Obrigada, Moacir Francisco! 

Que venha o Kikito!

*Os textos das colunas e dos artigos são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do eh fonte.

Compartilhe

Assine o eh fonte

Tudo o que é essencial para estar bem-informado, de forma objetiva, concisa e confiável.

Comece agora mesmo sua assinatura básica e gratuita: