COLUNA

Francisca Medeiros

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Florestas para sempre ou até quando?

Parque do Cristalino em Mato Grosso  – Foto: João Paulo Krajewski

A resposta é: depende muito do sucesso de um mecanismo recém-criado que pode garantir recursos para pagar quem cuida das florestas em pé. Trata-se do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (sigla TFFF, em inglês), lançado na semana passada no primeiro dia da Cúpula dos Líderes em Belém. Chegado o último dia do evento que antecede a COP 30,  sete países tinham declarado quanto dinheiro vão aportar nessa iniciativa liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A cota prometida pela Noruega é de US$ 3 bilhões; Indonésia e Brasil, de US$ 1 bilhão, cada; Países Baixos, de € 5 milhões; Portugal, mais € 1 milhão, e França, de € 500 milhões. A Alemanha acenou que será uma ‘quantia considerável’ a ser anunciada assim que for inserida no orçamento.

Mesmo que o número de países que já definiu o seu aporte ainda seja baixo, o clima é de animação. A expectativa é que o bolo aumente ao longo da COP porque mais de 50 países assinaram a declaração de lançamento do fundo.  As contribuições financeiras serão liberadas aos poucos, ao longo dos próximos anos, e as parcelas serão empenhadas conforme forem cumpridas algumas condições.

Merece nota a contribuição individual de US$ 10 milhões do australiano Andrew Forrest feita por meio da sua fundação filantrópica Minderoo. Ele é fundador do Grupo Fortescue Metais, que controla uma das maiores mineradoras do mundo e também opera ferrovias e navios cargueiros.

A África e a América Latina estão no radar do multibilionário com projetos de investimento em energia verde. Um deles é o projeto de uma usina de hidrogênio verde de R$ 25 bilhões no Porto de Pecém, no Ceará, para a qual já foi autorizada a licença ambiental prévia de instalação.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estimava inicialmente que o TFFF captasse US$ 10 bilhões até o fim de 2026, já a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, é mais otimista, fala em US$ 25 bilhões.

E como funciona esse fundo? A ideia principal é a captação de investimentos para reinvestir em projetos com maior retorno. Nesta espécie de ‘banco da floresta’, como o próprio ministro Haddad define, a captação é feita a uma taxa de juro baixa e o recurso é emprestado a um juro mais alto.

Os investidores que aportarem capital vão ser remunerados por uma taxa básica e os recursos serão emprestados para financiar projetos conforme decisão do seu comitê. E é da diferença da taxa de juros, ‘spread’ do que é pago para o investidor e o que é cobrado do tomador do empréstimo, que vem o lastro para financiar o pagamento de serviços ambientais dos países que protegem suas florestas e que mantêm taxas de desmatamento abaixo de 0,5% ao ano, com tendência a zero.

O Banco Mundial é o agente operador do TFFF, que já está em operação, e uma das regras é que, no mínimo, 20% da remuneração sejam direcionados a projetos sob liderança de povos indígenas ou comunidades locais e a expectativa é que boa parte dos recursos seja destinada à Amazônia.

O Brasil liderou o processo de criação do fundo, que tem sido bem recebido e até considerado com potencial de se tornar o carro-chefe das iniciativas pró-florestas. Cada dólar investido, na avaliação do governo federal, pode atrair capital privado e ser multiplicado por quatro. Entre os entusiastas e parceiros da ideia estão países como Colômbia, Malásia, Indonésia, Emirados Árabes Unidos, República Democrática do Congo, Gana, Noruega, Reino Unido, Alemanha e França.

Ana Toni, a CEO da COP 30, considera o instrumento financeiro do TFFF inovador e com poder de virar a chave da dependência de doações e filantropia dos países ricos. Ela acredita que é um bom investimento com retorno para os países e investidores privados que entrarem com recursos. Para os países com florestas, o dinheiro será recebido como pagamento pelos serviços ecossistêmicos prestados e não precisará ser devolvido.

A base de cálculo do que será pago considera, em média, US$ 4 por hectare preservado; já os desmates serão deduzidos do valor a receber. E tudo será atestado por imagens de satélite.

Esse fundo, enfim, se apresenta como uma solução engenhosa para o problema grave da falta de recursos para manter a floresta em pé. E se essa iniciativa prosperar, ganhará força a ideia de que investir na preservação da natureza não é só uma urgência ambiental, mas pode ser também um bom negócio para quem investe e quem preserva.

De olho no que vai ser discutido e acordado em Belém a partir desta semana, ficamos na torcida de vida longa das florestas para sempre.

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