COLUNA

Sônia Zaramella

soniaz@ehfonte.com.br

Relatos e fatos, pessoais ou não, do passado e do presente de Cuiabá e de Mato Grosso.

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Igrejas prosperam nas favelas e comunidades de Cuiabá 

Foto: Luiz Alves/Prefeitura de Cuiabá

 

As pesquisas do IBGE invariavelmente são importantes, além de reveladoras. O Censo Demográfico, por exemplo, realizado a cada 10 anos, apresenta números que ajudam a definir políticas, distribuir melhor o recurso público, identificar áreas prioritárias para investimentos e regular a democracia representativa, entre outras finalidades.

O último censo no Brasil foi feito entre os meses de agosto de 2022 e janeiro de 2023 e seus dados começaram a ser divulgados em junho do ano passado, prosseguindo agora em 2024. Entre os dados recentes estão os referentes às favelas e comunidades urbanas, anunciados no último dia 8.

O Censo de 2022 encontrou 12.348 favelas e comunidades urbanas no Brasil, onde viviam 16.390.815 pessoas, o que equivalia a 8,1% da população do país. Em Mato Grosso, o censo descobriu 81,8 mil pessoas morando em 58 lugares assim identificados em cinco cidades: Cuiabá, Várzea Grande, Cáceres, Rondonópolis e Sinop.

Do total desses territórios no estado, 47 estão na capital, a cidade mato-grossense mais populosa. Antes chamados de “aglomerados subnormais” e atualmente definidos como favelas e comunidades urbanas, tais espaços vêm sendo pesquisados desde 1950 pelo IBGE, cuja abordagem, nos censos demográficos, também vem sendo aprimorada.

O órgão esclareceu que “há uma dificuldade inerente para dimensionar esses territórios que são muito dinâmicos e, em grande parte, não têm limites oficialmente estabelecidos ou domicílios cadastrados”.

Segundo o IBGE, “as favelas e comunidades urbanas são territórios populares originados das estratégias utilizadas pela população para atender, geralmente de forma autônoma e coletiva, às suas necessidades de moradia e usos associados (comércio, serviços, lazer, cultura, entre outros) diante da insuficiência e inadequação das políticas públicas e investimentos privados dirigidos à garantia do direito à cidade”.

Precisamente em Cuiabá, a pesquisa do IBGE relaciona como favelas e comunidades urbanas áreas conhecidas na cidade como bairros populosos, entre eles, o Santa Laura, Paraíso, Parque das Águas Nascentes, Tijucal, Três Barras, Residencial Coxipó e Jardim Vitória.

Há lugares identificados pelo Censo de 2020 que reúnem três favelas cada. São os casos do São João Del Rey, Pedra 90 e Ribeirão do Lipa, também na capital.

Esses territórios estão nos arredores de Cuiabá, afastados do centro urbano da capital. Podem ser apontados também como regiões do subúrbio, ou da periferia da cidade.

Particularmente, os dados do Censo me surpreenderam por dois motivos. O primeiro é que, na listagem de favelas e comunidades urbanas de Cuiabá, figuram territórios que conheço há anos pela nomenclatura de bairro – Pedra 90 e Tijucal, por exemplo – não pelo conceito de favela.

Mas entendi, depois, que a nova denominação – Favelas e Comunidades Urbanas – satisfaz as várias possibilidades de visão do território, como explicou o IBGE.

O segundo é que, do total de 4.093 estabelecimentos e edificações em construção ou em reforma encontrados pelo Censo 2022 nas 47 favelas e comunidades de Cuiabá, 32 são de ensino, 11 de saúde, dois agropecuários, e 221 são estabelecimentos religiosos.

Isso significa que, proporcionalmente, nessas comunidades, havia no momento do Censo, 6,9 igrejas para uma escola, ou 20 igrejas para uma unidade de saúde. Isto é, ocorreu um crescimento expressivo de estabelecimentos voltados à prática do culto e da fé em detrimento do ensino e da saúde.

Ainda segundo o Censo, em 2020, em Cuiabá, havia nas favelas 2.360 estabelecimentos de outras finalidades (oficinas mecânicas, bancos, farmácias, escritórios, lojas e comércio em geral etc.) e 1.467 eram edificações em construção ou em reforma.

Em conversa com a coluna sobre a presença das igrejas nas comunidades, o professor da UFMT André Luis Ribeiro Lacerda, sociobiologista e psicólogo social, pontuou que “estabelecimentos religiosos são, em grande parte, resultados da associação entre indivíduos”.

Acrescentou que “o mercado religioso, no que tange a sua dimensão evangélica, é diversificado, competitivo, e consegue organizar estratos econômicos mais baixos, de maneira eficiente”.

Já com relação às escolas e unidades de saúde, André Luis esclareceu que “são setores básicos vinculadas ao Estado, que demandam custos que vão de equipamentos a pessoal especializado, tornando a instalação mais complexa, considerando ainda que atendem um público heterogêneo economicamente vulnerável, que é a maioria residente das favelas”.

Em todo caso, tais números sinalizam, no mínimo, no meu ponto de vista, a necessidade de reforçar o setor da Educação já instalado nesses territórios.

Isto porque parcelas de moradores com nível de instrução muito baixo podem ajudar, de outro lado, outras parcelas de pregadores sem fé e sem regras a prosperarem nas comunidades.

Além disso, pouca educação reflete ainda nos cuidados com a saúde – indo da vacinação à prevenção de doenças graves.

 

*Os textos das colunas e dos artigos são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do eh fonte

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