COLUNA

Adriana Mendes

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Informações de política, judiciário e meio ambiente.

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Mauro Mendes tem a faca, o queijo e a conta

Foto: Secom-MT

O governador Mauro Mendes reagiu com dureza à cobrança dos demais Poderes de Mato Grosso, que pedem a recomposição integral do duodécimo e afirmam que o Orçamento estadual está subestimado. Ao dizer que, se o aumento for aprovado, será preciso “cortar obras e investimentos”, o governador tenta enquadrar a disputa orçamentária como uma escolha entre gastar mais com o Legislativo e com o Judiciário ou investir em infraestrutura. O discurso é político e pouco convincente para os outros Poderes.

Desde o início do mandato, Mendes transformou o controle das contas em sua principal bandeira, mas o equilíbrio fiscal tem servido também como ferramenta de pressão. O governo centraliza o poder sobre o Orçamento e, enquanto cobra austeridade dos demais, mantém gastos robustos em publicidade e em obras polêmicas como o milionário Parque Novo Mato Grosso — a menina dos olhos do governador, que pode render dividendos eleitorais ou se tornar um calo no pé diante dos atrasos e da falta de transparência nos gastos.

No caso da Assembleia Legislativa, por exemplo, o projeto da Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2026, já em tramitação, prevê duodécimo de R$ 1,05 bilhão, um reajuste de 4,93% em relação ao exercício anterior. O presidente da Casa, deputado Max Russi (PSB), pondera que o repasse deveria ser de R$ 1,6 bilhão. O Tribunal de Justiça busca aprovar um reajuste de 6,8% aos servidores, a proposta passou em primeira votação, mas tem enfrentado resistência da base governista.

Enquanto busca alavancar sua imagem de gestor eficiente, o governador confronta o Tribunal de Contas, o Tribunal de Justiça e a própria Assembleia. Mauro tenta se afirmar como guardião do dinheiro público, mas a reação acaba revelando outro ponto: a união dos Poderes em torno da defesa de mais recursos. Ninguém quer sair perdendo.

Em outra frente, o governador também saiu vitorioso ao conseguir uma liminar no Supremo Tribunal Federal (STF) que suspende o pagamento obrigatório de emendas de bancada, também chamadas emendas de liderança. Neste ano, o governo já pagou R$ 271,57 milhões em emendas de bancadas, distribuídas de forma desigual aos Poderes.

Pagamentos de emedas de bancada em 2025/ Fonte: Portal da Transparência

De acordo com levantamento do eh fonte, o Tribunal de Justiça recebeu o maior repasse (R$ 117,4 milhões), seguido pela Procuradoria-Geral de Justiça (R$ 54,1 milhões) e pela Assembleia Legislativa (R$ 50,7 milhões). O Tribunal de Contas aparece com R$ 41,1 milhões, e a Defensoria Pública, com o menor valor: R$ 8,1 milhões.

O corte nas emendas de bancada promete ser mais uma queda de braço entre governo e a Assembleia. Conforme revelamos, o dinheiro é usado para despesas do dia a dia das instituições, até mesmo para o pagamento de salários.

Se a narrativa da responsabilidade fiscal funciona para a opinião pública, a falta de transparência pode ser usada como arma pelos adversários. Mais do que impor limites, o governador precisa respeitar a independência entre os Poderes e cumprir o que determina a lei.

Ao reagir à pressão, Mauro Mendes mostra força, mas ao que tudo indica deve ceder nas negociações de olho em 2026. Está com a faca e o queijo na mão, mas corre o risco de acabar ficando com a conta política no colo.

 

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