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Sônia Zaramella

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Relatos e fatos, pessoais ou não, do passado e do presente de Cuiabá e de Mato Grosso.

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Mulheres se distanciam da Câmara de Cuiabá

Nas eleições de 2016 nenhuma mulher foi eleita para a Câmara Municipal de Cuiabá. Em 2020, na disputa de 25 cadeiras, duas mulheres saíram vitoriosas como vereadoras. Agora em 2024, com 27 assentos disponíveis, 155 mulheres registraram candidaturas à vereança da capital (35%), contra 290 (65%) concorrentes homens, segundo o TSE. Mesmo em um cenário aberto à participação, aparentemente, a política partidária e a disputa por cargo eletivo não se apresentam, de forma atrativa, como um campo de luta do público feminino na Câmara de Cuiabá nos dias de hoje.

De fato, o pleito é um desafio para as mulheres, ao se considerar a dedicação à campanha, arrecadação de recursos financeiros e outras atividades inerentes à corrida política. Mas a Justiça Eleitoral tem adotado medidas para coibir práticas danosas e apoiar o perfil feminino. Uma delas é a Ouvidoria da Mulher, criada em função da lei n° 14.192/2021, que considera violência política de gênero toda ação, conduta ou omissão com a finalidade de impedir, criar obstáculo ou restringir os direitos políticos da mulher, seja ela candidata ou política eleita.

Essa Ouvidoria, que é uma novidade nas eleições municipais, vai receber e tratar exclusivamente de denúncias envolvendo violência política de gênero. No TRE de Mato Grosso, a juíza Suzana Guimarães Ribeiro, da 39ª Zona Eleitoral, foi empossada como Ouvidora da Mulher. Ao comentar à coluna a participação feminina na disputa, ela pontuou que, “para se alcançar uma verdadeira igualdade de representação, é necessário ir além do apoio financeiro e das políticas de cotas”. Disse que é importante investir também “em educação política, mudança cultural e reformas estruturais, para garantir que as mulheres possam competir de forma justa e eficaz nas eleições”.

A magistrada acredita que não houve uma queda no interesse das mulheres em relação à política, destacando que “tivemos avanços, apesar de pouco expressivos”. Por isso reafirmou a necessidade de outras políticas serem implementadas, “para que as mulheres realmente ocupem os espaços políticos, e não somente concorram às vagas”.

Quanto ao recebimento de denúncias e reclamações pela Ouvidoria, Suzana Guimarães Ribeiro informou que até o momento, desde a criação da unidade, foi recebida uma denúncia específica que envolve violência política contra uma vereadora do interior supostamente praticada por um colega dela, também vereador. “Coletamos as informações necessárias, exigidas para o caso, e encaminhamos ao Ministério Público para as providências cabíveis”, completou.

Seguramente nos tempos de agora há essa necessidade de criar leis de proteção às mulheres no exercício da política, de modo a estimular uma maior representatividade nesse campo e juntar mais forças na defesa das causas da mulher. De todo modo, a realidade local sugere que a função de vereadora nunca foi e continua não sendo significativa no parlamento cuiabano.

Segundo levantamento da própria Câmara Municipal, de 1947 a 2012, foram apenas oito vereadoras com mandatos na Casa. Mas se em termos quantitativos a participação feminina foi pequena no período, em relação à qualidade ocorreu o contrário. São desse tempo as vereadoras apontadas até os dias de hoje como as mais notáveis da Câmara da capital: Maria Nazaré Hans (1955) e Ana Maria do Couto (1963).

Segundo conta Evaldo de Barros, vereador que presidiu a Câmara em 1970, a maior qualidade de Maria Nazaré, que o secretariou no parlamento municipal, era o assistencialismo. “Ela era 100% política, vivia nos bairros de Cuiabá. Os companheiros dela, os eleitores e seus cabos eleitorais não morriam na beira da estrada, ela apoiava todos em qualquer tempo, era uma líder”, recordou.

Barros acrescentou que Nazaré realizava efetivamente a função de vereadora, “indo atrás do prefeito e do governador para resolver os problemas de Cuiabá, por isso exerceu mais de cinco mandatos no legislativo da capital”.

Com relação à May, que era o apelido de Ana Maria do Couto, Evaldo de Barros, que é membro do MP Estadual aposentado, lembrou que era uma professora de educação física popular, que interagia com todas as camadas da sociedade cuiabana. “Era uma parceira e tanto, aquela que jogava baralho com os homens de forma natural e era aquela mulher que ia lavar o carro dela na porta de sua casa sem problema algum”, pontuou.

Ao seu porte requintado, May associava uma cultura igualmente importante. Foi a primeira mulher, no Brasil, a presidir um clube de futebol, no caso o Dom Bosco de Cuiabá.

Com estilos diferentes, mas um objetivo em comum, que era o de atuar para o bem-estar dos cuiabanos, Maria Nazaré e May foram mulheres expoentes que valorizaram o protagonismo feminino na Câmara de Cuiabá no passado.

Que falta fazem na atualidade! Não se vê mais a presença das mulheres vereadoras nos bairros nem correndo atrás de prefeito e governador para reivindicar providências para a cidade e seus moradores. Muito menos defendendo as causas femininas!

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