COLUNA

Sônia Zaramella

soniaz@ehfonte.com.br

Relatos e fatos, pessoais ou não, do passado e do presente de Cuiabá e de Mato Grosso.

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Mulheres têm o voto na luta contra a violência

 

No estado que lidera, proporcionalmente, o ranking do feminicídio em 2025 no país, que é Mato Grosso, a violência contra mulheres se insere como pauta obrigatória da campanha eleitoral de 2026.

É isso que se apreende da realidade local e do que foi exposto nas falas, depoimentos e participações das mulheres durante o ato, em Cuiabá, contra o aumento dos casos de feminicídio e outras formas de violência, convocado por entidades, entre as quais o movimento Levante Mulheres Vivas.

As participantes destacaram palavras como ‘união’, ‘amor’, ‘foco’, ‘luta’, ‘dor’ e ‘voto’, entre outras. Já próximo do fechamento do ano, em Mato Grosso são contados 51 feminicídios de janeiro a novembro de 2025. Ano passado foram 47 casos e, em 2023, 46 no estado.

Realizado na praça Santos Dumont, no sábado (6), o ato da capital acompanhou outros realizados no fim de semana passado em diversas cidades do país. No Brasil, segundo o Mapa Nacional da Violência de Gênero, 1.197 mulheres foram mortas pelo crime de feminicídio neste ano, até o momento.

“Nosso título de eleitor é a nossa principal arma em 2026’, declarou a representante das mulheres do movimento negro. “Só o voto vai mudar isso”, manifestou uma ex-deputada estadual. “A força está na união das mulheres”, ponderou uma ativista. “Temos que votar em mulher”, recomendou outra participante.

Mas raras foram as lideranças políticas femininas presentes na praça em solidariedade às preocupações do momento das mulheres. Mato Grosso tem duas integrantes na Câmara dos Deputados, uma na Assembleia Legislativa e oito vereadoras na Câmara de Cuiabá. Mas nenhuma delas compareceu às manifestações na capital.

Entre as mulheres participantes encontrei Carolina Couto, que foi ao evento acompanhada do marido e do filho. Atenta às falas, comentou comigo sobre o voto feminino:

– Conheço muitas mulheres que não levam as pautas femininas e feministas como prioridade, então não adianta só eleger mulheres. Isso é importante? É sim, mas precisamos eleger aquelas que enxergam a realidade, que entendam que as pautas femininas são importantes – argumentou.

Ela disse à coluna que a mobilização contra o aumento do crime de feminicídio e outras formas de violência contra a mulher é fundamental, porque “claramente o poder público não enxerga que isso é relevante e por isso precisamos mostrar que é grave”.

A escalada desses crimes no país levou especialistas a classificarem o quadro atual como uma epidemia. Nesse caso, o que sugerem como prevenção é uma ação coletiva que exige esforços para identificar, denunciar e transformar a cultura de violência de gênero.

Porém, em Mato Grosso, tudo fica complicado quando se acompanha, por exemplo, a decisão divulgada semana passada do desembargador Wesley Lacerda, do TJMT, anulando o júri de um acusado de tentativa de feminicídio, com a justificativa de que o ato foi interrompido por ‘desistência voluntária’, ou seja, ele teria desistido do assassinato.

O réu agrediu sua companheira reiteradas vezes com uma barra de ferro e ela teve que pedir ajuda aos vizinhos para ser salva. O Ministério Público Estadual recorreu ao STF e ao STJ contra decisão da 1ª Câmara Criminal do TJMT.

Para relembrar, segundo a lei brasileira, feminicídio é o homicídio de uma mulher cometido por razões da condição de ser mulher, como violência doméstica, familiar, menosprezo ou discriminação de gênero, com penas como reclusão de 20 a 40 anos.

É o último degrau de uma escada de violências contra a mulher e atinge todas, não importando idade, raça, classe social, grau de instrução e religião.

Sobre as lideranças políticas femininas mato-grossenses, é bom que desloquem para as ruas, praças e bairros das cidades seus discursos feitos em plenário e publicações de textos indignados elaborados em gabinetes, abordando a violência contra as mulheres.

São nos espaços públicos que tais presenças se fazem, concretamente, necessárias para ajudar no encaminhamento de ações e pautas femininas. Além disso, o ano eleitoral de 2026 já se avizinha.

Denuncie a violência contra mulheres e meninas.

Disque 180.

 

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