Na era digital, a comunicação é truncada
Estudos, pesquisas, teses e dissertações de pós-graduação que tratam da tecnologia na comunicação e o impacto disso em nossas vidas existem em quantidade e estão disponíveis em fontes diversas, principalmente as digitais.
Influenciando mais, ou menos, no comportamento de cada pessoa, o fato é que, nos tempos atuais, a tecnologia faz parte do cotidiano, pois está ligada à forma como os indivíduos se comunicam, trabalham, se relacionam e se divertem, entre outros aspectos. Isso é inegável.
Em vista disso, sabe-se que, no geral, são mencionadas, em relação à comunicação na era digital, mais vantagens que desvantagens.
Mas percebo, de outro lado, sinais de desconforto de pessoas da minha geração com esse novo, ou nem tão novo, padrão de comunicação nas relações pessoais.
Uma amiga que mora em Brasília considera que a comunicação com a família residente em outro estado está mais escassa, embora os canais de comunicação sejam abundantes.
Perdeu-se o hábito de ligar para os parentes nos finais de semana e esticar a conversa.
Agora a “conversação” é feita por troca de mensagens no whatsapp ou picotada por áudios, que as pessoas no geral têm preguiça de ouvir e muitas vezes colocam no modo acelerado.
Ligar sem aviso prévio, nem pensar, porque a pessoa do outro lado da linha pode estar ocupada ou até se assustar, achando que é alguma notícia ruim.
E assim o tempo vai passando e aquela prosa sem pressa vai sendo adiada.
São raros os telefonemas no dia do aniversário, por exemplo, porque eles foram substituídos por mensagens curtas de texto, acompanhadas das famosas figurinhas.
E com isso a comunicação fica prejudicada. Não se alonga a conversa, porque todo mundo está muito ocupado, mesmo que seja fixado na tela do celular acompanhando os detalhes da festa da filha do Neymar ou as notícias sobre as novas grávidas famosas.
As coisas que realmente importam, como saber o que se passa na vida dos nossos amigos e parentes para além da rede social, essas vão ficando em segundo plano.
Muitos podem achar que a popularização das redes sociais ajudou as pessoas a se comunicarem de forma rápida e fácil, superando barreiras geográficas e culturais.
Sim, o argumento é plausível. Mas o fato é que essa comunicação na maioria das vezes é superficial. Nos tempos atuais, há uma forte adesão à ‘onda do áudio’, seja por conveniência, preguiça, falta de tempo, ou qualquer outro motivo.
Nessa mesma linha, mas na área da linguagem, o jornalista e escritor carioca Joaquim Ferreira dos Santos, em coluna recente publicada no jornal O Globo, abordou a comunicação por zap (whatsApp), classificando-a como “a nova praga”.
Na coluna, intitulada de “OV? Hum, tks, vlw, bjs e tdb — sqn. Que língua é essa?!”, o jornalista define a comunicação por zap como um código emburrecedor de siglas, de abreviaturas preguiçosas e de grunhidos curtos.
Na visão dele, “o internetês”, que é outro idioma muito falado, “veio para deixar essa conversa ainda mais cafona”. “É um tal de stalkear pra cá, de crush pra lá, de resetar sei lá pra onde, quando há maravilhas para se lambuzar a língua de português claro e dizer a mesma coisa, ou seja, xeretar, paquerar ou se liga, mané, e deixa de ser otário”, escreveu.
Além de divertida, a coluna de Joaquim Ferreira dos Santos, bem como as considerações de minha amiga sobre a substituição de conversas afetivas por mensagens e áudios, convida, sobretudo, a uma reflexão sobre a era da comunicação digital da contemporaneidade.
Como bem me lembrou um amigo recentemente, “sim, estamos com mais idade, mais esquecidos, mas mais sonhadores”. Isso sinaliza que temos de seguir por caminhos híbridos, ou seja, harmonizando o antes e o agora.
Porque, como ele mesmo acrescentou: “o passado é uma complexidade resolvida, não há o que fazer, o futuro é uma complexidade que já não nos assusta, parece até que o controlamos, mas o presente, esse está difícil”.
Concordo! E a dificuldade está em várias frentes, tem várias ‘abas’, como se diz na linguagem tecnológica dos dias de hoje.
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