Terça-feira que vem, 8 de abril de 2025, dia em que Cuiabá completa 306 anos de fundação, convido meus conterrâneos para festar. Além de ser um povo caloroso, o cuiabano tem a alegria como a característica que mais sobressai na sua imagem e história. Portanto, o aniversário da nossa terra natal é, sim, dia de festa e vamos nos divertir do jeito que der e puder.
Nada de pegar em enxada, rastelo, ancinho, cortador de grama etc para limpeza das vias e espaços públicos em 8 de abril, nem nos dias que antecedem a data. Quem tem essa função institucional de manter Cuiabá limpa é a prefeitura, a quem pagamos impostos e taxas, como a do lixo, cujas receitas destinam-se, entre outras, à manutenção da capital.
Essa obrigação do município de zelar pela cidade vejo como similar à de cuidar de nossa casa, no dia a dia. Naturalmente, cada família cuiabana, nos seus diferentes níveis econômicos e nos vários bairros e locais em que mora, é cuidadosa com seu lar, da calçada ao quintal, passando pelos cômodos.
Não se ignora, porém, que haja moradores relaxados, aqueles cujo descompromisso coletivo prejudica os vizinhos. Mas a missão de cobrá-los também é institucional, foge da alçada pessoal. Do mesmo modo é dever municipal reorganizar finanças, corrigir prejuízos e criar alternativas para cumprimento de tarefas, excluindo, por óbvio, a população dessa função.
Apesar de inusitadas, penso que as colocações acima, às vésperas de 8 de abril, são necessárias por causa do inédito (e bizarro) comunicado do atual gestor de Cuiabá a respeito do aniversário da capital. Ele propôs substituir as comemorações tradicionais por uma faxina dos ambientes públicos da cidade, convocando-se inclusive os cuiabanos a se engajarem em mutirões com esse propósito no dia festivo de aniversário.
Pelas conversas e comentários, a proposta dividiu os moradores, que, aliás, estão também divididos em relação ao apoio ao prefeito, desde as eleições de 2024. Nesse caso da faxina, destaque-se, a maioria reprova a ideia do gestor, conforme mostrou enquete do site gazetadigital sobre o assunto.
Os resultados foram estes: 51% acharam “um absurdo, pagamos impostos e isso é obrigação da prefeitura”; 40% responderam que “não custa ajudar, não vejo nada de errado” e 9% optaram por “já não tem comemoração, agora quer tirar o descanso”.
De fato, para muitos conterrâneos, a ideia de faxina em pleno aniversário de Cuiabá no lugar da comemoração não ‘colou’. Eles aproveitaram, inclusive, para lembrar que, sob o mesmo argumento de falta de recursos, o município não patrocinou, neste carnaval de 2025, os costumeiros festejos na capital.
“Não se estraga a alegria do cuiabano assim, duas vezes seguidas”, reclamou meu amigo Francisco. “O morador não tem culpa se o município falhou; ele não pode arcar com isso e ser chamado a limpar a cidade”, criticou Vera. “É muita cara de pau”, comentou Alberto nas redes sociais.
Retomando então o foco em 8 de abril, vamos aproveitar o feriado para descansar, para o lazer com a família, para festejar o aniversário da maneira que der. O essencial é render homenagens à valente Cuiabá, um lugar entre “a Chapada e o Pantanal”, como diz a música de Maurício Detoni.
Nesse ‘astral’ de aniversário vamos de animação, satisfação e agradecimento, deixando por um tempinho as críticas, lamentos, trânsito e limpeza da cidade, essas coisas que atropelam nosso cotidiano. Afinal, as dificuldades sempre existiram e continuarão a existir.
Particularmente, celebro a cidade onde nasci, e que é a terra natal também dos meus antepassados, com gratidão. Tenho orgulho de ser cuiabana de “chapa e cruz”, nascida no antigo Mundéu, bairro próximo ao morro da Conceição, onde se localiza o Santuário de Nossa Senhora do Bom Despacho, uma das igrejas mais suntuosas de Cuiabá.
Do Mundéu, antigamente, eu me deslocava a pé para a Escola Modelo Barão de Melgaço (primário), para o Ginásio Brasil (ginásio) e para o Colégio Estadual, hoje Liceu Cuiabano (científico). Completei meus estudos em Brasília, visto que à época a UFMT não ofertava Comunicação Social (Jornalismo).
Hoje, como ontem, sigo apegada à minha ‘cuiabanidade’. Sou devota de São Benedito, apreciadora da nossa comida (pacu, piraputanga, paçoca de pilão, revirado de rim, carne com banana etc.), admiradora do (pouco) verde dos nossos quintais, do animado som do rasqueado e amo os rios e cachoeiras que circundam Cuiabá.
E sou festeira também, o que é uma herança das minhas raízes indígenas. Portanto, comemorar o aniversário de minha cidade natal é inerente à minha história.
Tim-Tim Cuiabá!
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