Observatório de reflorestamento
Os dados sobre áreas queimadas ou desmatadas no país estão facilmente disponíveis. As causas e evolução da degradação, também. E quando se quer saber o que está sendo recuperado, onde buscar? Uma opção é o Observatório de Restauração e Reflorestamento, criado em 2021 com o objetivo de retratar e avaliar a evolução destas iniciativas.
E a notícia é que há 27,5 milhões de hectares em processo de recuperação florestal no país. Isso é 3,2% do território nacional e equivale às áreas perdidas por desmate nos últimos 24 anos. Segundo o Inpe, desde 2020 a área desmatada soma 27,7 milhões de hectares.
As informações que alimentam a plataforma digital são oficiais e vêm de vários lados – governos, sociedade civil, universidades -, incluindo dados de vegetação secundária gerados pelos centros de referência no mapeamento de uso e ocupação do solo.
Na corrida contra a perda de biodiversidade são usadas diferentes técnicas, como a restauração, o reflorestamento e a regeneração. A restauração é mais arrojada, envolve processos complexos e busca reverter a degradação e a retomada gradual da biodiversidade original e a função ecológica da área.
No reflorestamento se reconstrói uma floresta em uma área degradada, mas não necessariamente com espécies nativas, pode incluir espécies únicas, muitas vezes exóticas, como o eucalipto e a teca.
Já a regeneração natural ocorre sem a intervenção humana depois de cortes rasos, queimadas ou uso agropecuário. Ela proporciona o surgimento da vegetação secundária.
Todos estes processos são importantes e podem coexistir, dependendo das possibilidades financeiras e técnicas em cada situação.
Voltando aos números, no Brasil a área de restauração quase dobrou entre o primeiro e o segundo mapeamento do Observatório. Eram 79 mil hectares em 2021 e agora alcança 153 mil hectares. A maior parte (77%) está na Mata Atlântica, depois vem o Cerrado (13%) e a Amazônia (9,5%). No Pantanal, nenhuma iniciativa foi mapeada.
O levantamento mostra que a área reflorestada no país é de 8,76 milhões de hectares. Aqui são incluídas as iniciativas comerciais, como as florestas plantadas para papel e celulose e a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).
Já as áreas de vegetação secundária somam 18,58 milhões de hectares. Aqui a natureza, aos poucos, se recompõe por si só.
E como Mato Grosso aparece no Observatório? Em restauração ocupa apenas a nona posição com pouco mais de 3 mil ha; é o décimo em reflorestamento e o terceiro em vegetação secundária com 1.750 ha mapeados. O Pantanal, com seus 15 milhões de hectares totais, infelizmente não aparece no campo da restauração e nos de vegetação secundária e de reflorestamento só há registro de poucos hectares.
Todos estes números revelam o quanto o Brasil está longe de cumprir as metas de redução das emissões de gases de efeito estufa. A NDC brasileira – sigla em inglês que se refere a um plano de ação climática – é de redução em 48% até 2025 e em 53% até 2030, em relação aos patamares das emissões de 2005. E o objetivo a médio prazo é alcançar a emissão líquida zero em 2050.
Claro que a redução das emissões não passa só pelo plantio ou a preservação de árvores. Mas este é, reconhecidamente, o meio mais barato e que traz benefícios abrangentes. A meta da NDC nacional é restaurar pelo menos 12 milhões de hectares até 2030.
O Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg) prevê que a restauração se dê por vários meios, como a regularização ambiental de Áreas de Preservação Permanentes e Reservas Legais e pelo incentivo a modelos de agroflorestas e ILPF. Outro foco é a recuperação de áreas públicas como as Terras Indígenas e ainda a recuperação compulsória, quando a restauração é determinada em Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) ou em processos de licenciamento ambiental de grandes obras de infraestrutura.
Além do viés do que falta ser feito, pode-se olhar o tema pelo ângulo do mar de oportunidades em aberto para o Brasil neste setor. Além de ter boa parte de seu território ocupada pela maior floresta tropical do planeta, nosso país tem um dos maiores potenciais mundiais de reflorestamento.
Por isso, merece atenção o trabalho do Observatório que, além de reconhecer os esforços em andamento, dedica-se a promover a colaboração entre os movimentos que atuam para repor vegetação e devolver parte da biodiversidade perdida. Um trabalho que é feito por produtores rurais, comunidades tradicionais e organizações sociais.
Os benefícios de trazer mais árvores de volta são compartilhados coletivamente. Elas têm o poder de revitalizar bacias hidrográficas, de melhorar a ambiência para a vida, com temperaturas mais amenas e umidade em níveis saudáveis.
Quando se implanta corredores verdes a circulação de animais é facilitada e a biodiversidade, protegida. As florestas também são geradoras de emprego e renda e, apesar das diferentes tecnologias para capturar e armazenar carbono, a árvore é a mais eficiente e barata entre todas.
O trabalho do Observatório de Restauração e Reflorestamento é bem-vindo. Que ele inspire Mato Grosso a ter ambição para ocupar posições de mais destaque na promoção do desenvolvimento sustentável e na restauração dos seus ecossistemas naturais, tão ricos e promissores!
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