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Sônia Zaramella

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Relatos e fatos, pessoais ou não, do passado e do presente de Cuiabá e de Mato Grosso.

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Os ensinamentos de Mauro Cid

Mauro Cid na sede da MCA/Acervo da Família

Para quem quer fazer comunicação política nos dias de hoje, o ensinamento do jornalista e publicitário Mauro Cid Nunes da Cunha, que faleceu terça-feira passada, é bem prático e simples: pare e ouça! A ‘deixa’ de Mauro é a seguinte: todos os dias repita para você mesmo “eu não sei nada”. Assim, ouça primeiro, depois descubra a forma de fazer a tarefa, e aí comece a caminhar. Ele justificava seu aviso dizendo que, atualmente, a sociedade brasileira está ansiosa para falar.

“Hoje, todo mundo sabe tudo, você vai em uma reunião e cinco segundos depois alguém está levantando o braço, dando opinião sobre o que foi colocado. A pessoa nem ouviu, nem esperou a finalização do assunto”, lembrava. Para Mauro, “esse afoitamento da conclusão é uma coisa muito ruim”. Daí que ele sinalizava que, na comunicação política, deve-se parar, ouvir muito, e só depois construir as formas de trabalho. “Não sabemos nada, mas a desilusão não pode tomar conta da gente”, pontuava.

Essa é somente uma das lições extraídas das experiências de Mauro Cid e resolvi reproduzi-la para homenagear o colega e amigo que partiu para o céu e porque coincide com o momento político do país, que são as eleições, uma área na qual ele trafegou realizando marketing com muito sucesso. Faz parte do conteúdo da entrevista que há pouco mais de um ano Mauro Cid concedeu aos jornalistas Julia Munhoz, Antero Paes de Barros e Pedro Pinto de Oliveira, do PNB Online, ocasião em que contou momentos importantes de sua carreira.

Mas, para além do êxito dele como marqueteiro, duas outras facetas se sobressaiam no seu perfil profissional com repercussões na comunicação de Cuiabá e de Mato Grosso. Uma delas é a de que, capitaneando a sua agência – a MCA Propaganda – Mauro Cid e ex-funcionários da agência, segundo o publicitário Flávio Prates, foram os principais atores na consolidação do mercado publicitário regional. “Ao mesmo tempo, a MCA foi uma incubadora de novas agências, já que Osmar (Época), Marcia e José Dorileo (DMD), Regina Kaiser (RKF), e Remy Biancardini, todos eles são crias da MCA”, acrescentou.

Flávio Prates, que é professor de Publicidade e Propaganda da UFMT, conseguiu demonstrar tal particularidade na dissertação de mestrado que vai defender daqui a duas semanas na Universidade Fernando Pessoa de Porto (Portugal) intitulada “A consolidação do mercado publicitário em Mato Grosso – uma história contada (O caso da MCA Propaganda, a Escola antes da Escola). Período de 1979 a 1989. Nela, o professor Flávio recupera a trajetória e as realizações do cuiabano Mauro Cid e apresenta um gráfico no qual cem por cento dos entrevistados de sua pesquisa o proclamam como o “pai da publicidade mato-grossense”.

Mais conhecido por movimentar o mercado da propaganda regional e por profissionalizar as campanhas políticas no estado, a outra característica da trajetória de Mauro, contudo, se manifestou em nível acadêmico, pois ele foi um dos articuladores da comissão que criou o curso de Comunicação Social da UFMT. Desse modo, apoiou a formação de profissionais locais nas áreas de propaganda e publicidade, jornalismo, e rádio e tevê, que são as habilitações do curso desde 1990, quando realizou seu primeiro vestibular. Em algumas ocasiões nos encontramos na UFMT, instituição da qual sou docente aposentada.

Mauro Cid faleceu em Cuiabá, aos 80 anos de idade, no dia 13 de agosto. O pai dele, o médico Cid Nunes da Cunha era filho de Othon Nunes da Cunha e irmão caçula de Jovino Nunes da Cunha, pai de Noemy, avó do meu marido José Luiz. Por conta desse parentesco das antigas que, com o passar de gerações, se transformou em consideração, Mauro Cid chamava José Luiz de primo e o apresentava às pessoas como ‘parente lá de Poconé’. Na origem, as famílias de Mauro e de José Luiz são poconeanas – pantaneiras.

Os Nunes da Cunha descendem do Barão de Poconé e os Zaramella de Ernesto Zaramella, advogado italiano que imigrou para a cidade no início do século XX e lá se casou com Noemy Nunes da Cunha, mãe de Luiz Zaramella, pai de José Luiz e avô dos meus filhos Bruno e Bianca.

Recordei tudo isso não para demonstrar proximidade, mas sobretudo fraternidade com Mauro Cid, que tentei homenagear na coluna de hoje. Nos anos 1980, quando voltei à Cuiabá para atuar na imprensa local, Mauro se apresentou para mim como um colega, amigo e ‘parente por afinidade’, visto o vínculo familiar de ascendência dele e de José Luiz.

Desde aquela época seguimos com nossas vidas até que nesse vai e vem do tempo, nos anos 2010, eis que um jovem aluno de Jornalismo chamado Humberto Frederico identificou-se para mim como o filho mais novo de Mauro. Foi o suficiente para reavivar os laços. A amizade e o bem-querer por Humberto só cresceram de lá para cá e o ex-aluno, atualmente um jornalista bem-sucedido, passou a fazer parte do grupo de amigos do casal Sônia e José Luiz (em memória).

Descanse em paz, Mauro! Vou ficar de olho no Humberto por aqui, lembrando a ele continuamente a importância de ouvir antes de avançar com qualquer coisa.

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