COLUNA

Margareth Botelho

margarethb@ehfonte.com.br

Escreve sobre atualidades, cotidiano, sentimentos e pessoas.

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Sem a sombra do preconceito

Foto: Clube da Notícia/Arquivo

Nem tudo são flores na vida daqueles que já passaram de 60 anos. Os dias atuais surgem mais tensos e preocupantes para os idosos como na época em que formaram família, criaram filhos e enfrentaram o mercado de trabalho. O enfim – aposentado – chega, mas não é nada parecido com os sonhos acalentados por décadas.

A crise começa com o valor da aposentadoria que não paga médico, remédios, moradia e alimentação necessária. Se ficam doentes o jeito é buscar socorro no Sistema Único de Saúde (SUS). As filas por atendimento de especialistas e exames assustam. Muitos esperando ter mais tempo nesta vida enterram os dias na amargura de um telefone (teleconsulta) que não toca.

Como se não bastasse tudo isso, acumulam-se as limitações impostas pela idade, como o andar vagaroso, o olhar que se perde ao vislumbrar o horizonte e as dores do corpo e alma. O legado da experiência tem sido deixado de lado cada vez mais diante das críticas e de censuras direcionadas ao idoso. Elas se referem ao modo que vestem, que andam e até como se manifestam ou se divertem.

Conforme descrito no Relatório Mundial da Organização Mundial da Saúde (OMS), o idadismo diz respeito a “estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionadas às pessoas com base na idade”. A prática do idadismo, também conhecido por etarismo, vem crescendo à medida que as pessoas maiores de 60 anos buscam novas formas de vida, como práticas de esporte, dança e viagens, onde aproveitam para aumentar o círculo de amigos.

Os idosos correspondem a quase 15% da população brasileira. Apesar das estatísticas de avanço da longevidade nos últimos tempos, eles sofrem preconceito. Em Mato Grosso, informações do último Censo indicam que a população envelheceu. Atualmente, existem 34 idosos para cada 100 crianças contra 20 por 100 no ano anterior. Em Cuiabá, o índice de envelhecimento foi de 41,8 e, em Várzea Grande, região metropolitana, 32,1.

Médica da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Ivete Berkenbrock, afirma que o etarismo aumenta a cada ano que a pessoa envelhece, tendo consequências até mesmo psicológicas. Em entrevista à CNN Brasil, ela explica que “o preconceito afeta a saúde mental da pessoa, porque ela tende a ficar em isolamento, não se sente confortável no ambiente onde é basicamente rejeitada por ter mais de 60 anos e isso pode levar à depressão.

Aos 72 anos, a modelo Rosa Saito acredita que “enquanto tiver alegria de viver, não tem essa de ‘ai eu estou com x idade’. O que é x idade? É um mero tempo? A idade está na sua cabeça. Eu acho que não existe. Enquanto você estiver viva, tem que tentar ser feliz, correndo atrás daquilo que você um dia teve vontade de fazer. Dê motivação para você viver, motivação para você se sentir feliz”. Segundo ela, “a gente já vivenciou tanta coisa, que muitas delas se tornaram assim: o depois é agora, tem que ser agora. E para a gente decidir isso, realmente temos que ter coragem e segurança, porque os medos e as inseguranças, nós já tivemos”.

Experiências como a de Rosa que, aos 72, sobe na passarela sem qualquer constrangimento são consequência do aumento da longevidade, que é a maior conquista coletiva da humanidade nos últimos tempos. Trata-se de um privilégio e mostra o quanto o ser humano é resiliente. Vencemos até uma pandemia, porque daríamos vez e voz ao preconceito com nome de idadismo ou etarismo?

 

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