COLUNA

Adriana Mendes

adrianam@ehfonte.com.br

Informações de política, judiciário e meio ambiente.

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Sem uso, nem manutenção, trilhos do VLT de Cuiabá  estão em local  “secreto” 

São quase dez anos com obras, a maior parte parada na avenida da FEB, em Várzea Grande,  principal ligação do  Aeroporto Marechal Rondon à capital Cuiabá (MT).  Este é o “legado” da Copa do Mundo de 2014 deixado para a cidade.

Ali os modernos trens do VLT (Veículo Leve sob Trilhos) deveriam estar em operação, transportando milhares de passageiros. Contudo, sem  consulta pública ou discussão com a sociedade, o governo optou pelo desmonte do projeto no final de 2022. Os quatro quilômetros do projeto concluído foram arrancados no primeiro semestre deste ano e os trilhos importados da Polônia  (oito quilômetros no total) amontoados em um terreno todo murado, com dois grandes portões de ferro e guarita. Este local não tem número, fica na própria avenida.

Durante o desmonte,  acompanhei um caminhão descarregando os trilhos e, recentemente, estive no local. Os seguranças confirmaram que o material ainda permanece nos fundos do terreno. A Secretaria Estadual de Infraestrutura e Logística (Sinfra-MT) informou apenas que  “os materiais estão guardados em locais cedidos pelo governo do estado e fiscalizados pelo Consórcio Construtor BRT”.

O destino dos trilhos removidos até agora é incerto. Para serem transportados, eles precisam de um caminhão guindaste, pois cada metro de aço pesa 108 quilos. Segundo engenheiros especialistas, a reutilização depende dos cuidados que foram tomados na remoção. Há quem garanta que acabarão no ferro velho.

É pertinente lembrar que o trecho já concluído tinha estrutura completa, com os cabos elétricos e postes que fariam a condução dos trens do VLT. Com o desmonte, montanhas de entulho de cimento e ferro se formaram.
O material teria sido até vendido a particulares, segundo trabalhadores da obra. No entanto, isso não chegou a ser comprovado.

De acordo com o consórcio VLT, o prejuízo estimado foi de R$ 84 milhões, valor a ser somado com R$ 1 bilhão gasto com o modal que não será concluído. A obra foi destaque em uma coluna brilhante de Sônia Zaramella, no eh fonte, onde ela relata todo o histórico e o transtorno causado à população.

O governo estadual optou pelo modal BRT (Bus Rapid Transit), sem consultar a população.  Assim, começou  uma nova obra na Av. da FEB, agora também inacabada, em meio a disputas políticas entre o governador Mauro Mendes (União) e o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB). Um imbróglio sem previsão para acabar.

No total, foram adquiridos 90 km de trilhos para o projeto do VLT em Várzea Grande e Cuiabá, contabilizando também o material da Espanha que seria instalado ao longo da via. O que não foi retirado permanece sob custódia do consórcio VLT. Em novembro, uma reportagem no Kanal1 do YouTube mostrou pilhas de trilhos abandonadas em uma área de mata, sem especificar a localização. O eh fonte recebeu outras imagens do material e confirmou que os trilhos estão sob a guarda do VLT, em Várzea Grande, na mesma área onde estão os 40 vagões de trens.

Por que os trilhos estão ali no mato sem nenhum tipo de cuidado? E os outros materiais? Embora destinados ao uso a céu aberto, não seria necessário um cuidado maior? Qual foi a depreciação do material parado? Quanto custou?  São questões que evidenciam o descaso com o  dinheiro público.

As assessorias dos consórcios, tanto do VLT como do BRT, foram procuradas e não responderam aos questionamentos. Aos mato-grossenses restou só frustração.

O dinheiro investido nesse modal foi para o ralo, deixando a população à mercê de um sistema de transportes deficiente e de serviços de baixa qualidade.

Foto: Adriana Mendes/ehfonte

Foto: Adriana Mendes/ehfonte

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