COLUNA

Sônia Zaramella

soniaz@ehfonte.com.br

Relatos e fatos, pessoais ou não, do passado e do presente de Cuiabá e de Mato Grosso.

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Sobre o coração

Arte: Candy Haesbaert

O coração da Rosa, o coração da Janda, o coração da Mari, o coração da Gláucia, o coração da Luciana, o coração da Mirian e … o coração da Sônia. Sim, é isso, me juntei às mulheres amigas e da família com corações fisicamente ‘gabaritados’ e ‘remodelados’ por procedimentos que oferecem benefícios importantes para as condições cardíacas.

Semanas atrás implantei um marca-passo, dispositivo que restaura o ritmo cardíaco irregular. Nesse rol de mulheres citadas, fui a pioneira em ganhar esse aparelho eletrônico. Mari, Janda e Mirian receberam stents, pequenos tubos que restabelecem o fluxo sanguíneo em artérias obstruídas. Rosa, Luciana e Glaucia fizeram ablação, procedimento que trata arritmias cardíacas.

Somos mulheres 60+ e 70+ consideradas empoderadas para seu tempo. Aquelas que, cada qual com histórico próprio, fizeram carreira e conquistaram autonomia. Das sete, cinco são jornalistas. “A mulher saiu de casa, foi estudar, trabalhar, ganhou dupla jornada e o estresse”, pontuou Nádia Valarini, cardiologista que me acompanha há anos. Com eficiência e agilidade, ela conduziu meu caso.

Nádia contou que, nos dias de hoje, em seu consultório, cresceu o número de pacientes mulheres profissionais ou do lar. Ela justificou esse aumento com o fato delas procurarem se cuidar mais em relação aos homens, à perda da proteção hormonal quando entram na menopausa, além, sim, do estresse, que pode apresentar sintomas físicos, ou emocionais, ou comportamentais.

“A coisa não está na partida nem na chegada, está na travessia” é uma frase da internet atribuída a Guimarães Rosa que me chamou a atenção nestes instantes de reflexão pós-marca-passo. A checagem que fiz da autenticidade dela indicou que a frase original do escritor, na obra Grande Sertão: Veredas, afirma que o ‘real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”.

Quer dizer que “a verdadeira experiência da vida ocorre no processo contínuo, nas transformações e nos desafios do caminho, e não apenas no início e fim”. Aplicando isso ao cenário feminino, em hipótese, a mulher nasce, cresce, estuda, trabalha, tem marido (ou não), filhos (ou não), enfim, busca viver no que podemos sugerir como normal.

Contudo, tal linearidade pode ter impactos e, em alguns casos, abalar o coração. Ou seja, o ‘centro das emoções’ das pessoas, durante a ‘travessia’, pode ser afetado na sua performance, pois sabe-se que o cérebro é quem produz os sentimentos, mas o coração é quem sente os efeitos dessas emoções por meio de alterações, ou não. Entre elas, mudanças na frequência cardíaca e pressão arterial. No meu caso, a sinalização foi de baixa frequência cardíaca, o que foi comprovado por exames. O que causou isso?

Não me aprofundei nas razões fisiológicas, mas os fatores de ordem emocional que tocaram meu coração conheço-os bem. Um deles foi a morte de José, meu marido por 50 anos, no ano passado. Pesou essa perda, dói ainda no meu coração, pois José foi meu par preferido, meu sábio e precioso interlocutor para qualquer tipo de assunto. Ele deixou um forte vazio emocional.

Porém, eu e minhas amigas, como eu disse antes, agora com corações no modo atualizado por causas e fatores inerentes à vida de cada uma de nós, superamos os desafios e procuramos avançar naturalmente nossa vivência. Minha mãe diria para mim – “você já está no lucro, continue em frente”.  É como estou procedendo. Inclusive, esta semana, estreei minha carteira de Identificação de portador de DCEI (marca-passo) para evitar cruzar a porta eletrônica do banco.

Quanto à prevenção dos ‘males’ do coração, a cardiologista Nádia Valarini recomenda às mulheres que realizem a bateria de exames do coração de forma precoce, a partir dos 40 anos, e não dispensem a atividade física. Dessa forma, podem chegar à menopausa com tudo sob controle e mais proteção em relação às doenças cardíacas.

Muito obrigada Nádia pela prontidão na minha assistência. Ao cardiologista Samir Bissi, igualmente agradeço pela diligência na realização do implante do marca-passo.

Beijo grande para minha filha Bianca e beijo do fundo do coração para a amiga Adriana, que foi 10 pela ajuda imediata.

Aos que mandaram mensagens e fizeram visitas, todo meu carinho.

Agora é seguir em frente com o coração batendo forte e desfrutar o que a vida ainda tem para me oferecer.

 

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