Um Agosto fraterno, trágico e surreal

Este agosto que findou, para mim, correspondeu à fama do mês ser ‘infinito’ e atravessado por ‘coisas tristes’. Mas, em contraste com esse tom sombrio, também espelhou fatos positivos e reencontros que confortam o coração. Efetivamente, o ‘pacote’ do mês ainda incluiu um episódio nem bom nem triste, simplesmente surreal, protagonizado pelo gestor de Cuiabá, de quem se pode esperar esquisitices a todo instante.
O meu cenário agostino bem heterogêneo começa com as boas novas. A primeira foi a vitória do cineasta conterrâneo Bruno Bini no 53º Festival de Cinema de Gramado. Que orgulho vê-lo triunfar com o longa metragem genuinamente mato-grossense Cinco tipos de medo, arrebatando quatro troféus Kikito de 2025, entre eles o de melhor filme. Parabéns ao grupo todo por revelar ao país a potência da cinematografia local.
O segundo acontecimento, desta vez na linha da fraternidade, que significa amizade combinada com solidariedade e amor, foi minha viagem a Brasília, onde vivi por 12 bons anos e meus filhos nasceram. Visitei os compadres, revi amigas queridas (Regina Alvarez, Michele Mendes e Mariana Borela), os sobrinhos do coração e suas famílias e passei por locais novos da cidade. Foram grandes mudanças nas últimas décadas.
Nesses dias em Brasília, por coincidência do Universo, fui ao aniversário de 88 anos de Luiz Gutemberg, amigo jornalista das antigas. Alagoano de Maceió, Gutemberg, editor, jornalista, biógrafo e romancista, trabalhou no Jornal do Brasil, Veja, JOSÉ-jornal da semana inteira, Jornal de Brasília e Rede Bandeirantes. É autor de nove livros, entre eles MOISES-Codinome Ulysses Guimarães, O jogo da gata parida e Rendez-vous no Itamaraty.
A festa de Gutemberg me juntou a Rosângela Bittar, Eliana Lucena, Jandira Gouvêa e a comadre Mirian Guaraciaba numa mesa regada a conversas que lembraram um tempo em que éramos jovens repórteres de linha de frente em coberturas jornalísticas. Foi numa Brasília dos anos 1970 e 1980, num ambiente de ditadura militar driblado por amizades. “A vida presta”, diria a atriz ao ver as amigas contando como está a fase de cada uma neste 2025.
Em contraponto à atmosfera festiva, agosto trouxe um acontecimento muito impactante para mim e o enorme grupo de amigos que reuni na profissão, ao longo dos anos. Custei a acreditar quando, ainda em Brasília, recebi a notícia do trágico falecimento de Anselmo Pinto de Carvalho. Fiquei muito abalada, triste, tentando entender as perdas da vida. Minha última conversa com Anselmo pelo whats foi em julho. Trocamos figurinhas sobre as ‘bets’, tema de uma coluna no eh fonte, e o diálogo terminou com uma saudação simples:

Não imaginei que não voltaríamos a nos falar. Digo vez por outra que coleciono amigos jornalistas que se tornaram tão ou até mais amigos do meu marido José Luiz do que meus. Não me perguntem por quê, não saberia explicar a razão. Um deles foi justamente o Anselmo, que demonstrou toda sua tristeza com a morte de José, em abril do ano passado. Eram próximos. Por conta disso, em algum momento, creio, vão se encontrar no céu e conversar principalmente sobre o Flamengo, time do coração deles.
Depois de citar os assuntos felizes e tristes deste meu particular agosto, recordo agora uma fala do mês, disseminada pela mídia, do prefeito de Cuiabá a propósito da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), à qual pertenço. Penso que pelo esgotamento do assunto nem deveria mais abordá-la. Mas, diante de sua natureza surreal, – o prefeito chamou a UFMT de bosta – nenhum integrante da instituição deve ‘passar pano’ para esse raciocínio absurdo e sua consequente verbalização.
No dicionário há pelo menos nove sinônimos para dois sentidos da palavra surreal: aquilo que foge da realidade; absurdo, incongruente, incoerente, ilógico, estranho, bizarro, esquisito e kafkiano. Desse modo, a declaração desrespeitosa do prefeito em relação a uma instituição do tamanho da UFMT, mencionando casos de assédio, drogas, assaltos e furtos que afirma ocorrer dentro da Universidade, além de citar uma suposta militância de esquerda no local, se encaixam bem no contexto surreal e chulo.
Não se trata de negar as dificuldades estruturais e orçamentárias das instituições federais no país. Elas existem. Todavia, o que se percebeu foi um silêncio oportunista do gestor bolsonarista em não apontar as falhas de gestões anteriores que agravaram o atual quadro deficitário das universidades, entre elas, escândalos de corrupção na área e cortes de recursos para a educação, além de nomeação de cinco ministros de Educação no período do governo Bolsonaro.
O provérbio português ensina que “não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe”, ou seja, todas as situações da vida são transitórias. Aconselha que se deve aceitar a impermanência de tudo, mantendo o equilíbrio. É nisso que me apoio ao acompanhar, por dever de ofício e como cidadã cuiabana, a atual administração de Cuiabá. Vai passar!
Quanto ao conhecimento, que é um dos legados da universidade, esse seguirá dinâmico e plural, transformando a sociedade.
Mais sucesso Bruno Bini. Obrigada pelo bem-querer amigos de ontem e de hoje. E todo meu carinho a Roberta, esposa do Anselmo.
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