COLUNA

Margareth Botelho

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Escreve sobre atualidades, cotidiano, sentimentos e pessoas.

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Amor na alma, sexo na carne…

O saudoso jornalista, crítico, escritor e cineasta, Arnaldo Jabor, que nos deixou aos 81 anos em 2022 , já discutiu o tema em crônica, em comentários e, por fim, no livro Amor é prosa, Sexo é poesia. Mas ele não esgotou o assunto por que realmente é um debate instigante para casais hetero e homoafetivos. A grosso modo, poderíamos fazer uma alusão àquela história do ovo e da galinha. Quem surgiu primeiro?

Ninguém até hoje conseguiu respostas convincentes, mas passeando pela história, em se tratando de sexo e amor, a gente pode arriscar uns palpites. Houve épocas em que o sexo, revolucionário, dominava as relações a dois. A descoberta do anticoncepcional deu às mulheres o poder de mando sobre o corpo. O risco de não engravidar e transar com quem aparecesse era tudo que elas queriam mas se enganaram.

O passar dos anos mostrou que a transa não resolvia as carências, criando um vazio, e as mulheres mudaram de opinião. Enquanto a revolução feminina foi sustentada pelo sexo, o homem aproveitou. Na alteração desses valores, a mulher trouxe à tona o que o sexo masculino costuma ter verdadeira aversão: a tal da DR – discutir a relação. É que no sexo, o pensamento atrapalha, os questionamentos ainda mais. O sexo é totalmente irresponsável, sem barreiras, sem caráter e passa por cima de quase tudo que boa parte da sociedade preserva.

Já o amor, que para o Jabor é prosa, pode até ser tão passageiro quanto o sexo, mas é sustentado pela emoção, cria jardins com flores, é regado à música, faz sonhar, ver estrelinhas e constrói até castelinhos no ar. Parece ser eterno, pelo menos enquanto dura. O amor fala muito, é exigente. É altruísta. É solidário. É companheiro e só funciona à base da fidelidade. O amor, ao contrário do sexo, chega inclusive a ser arriscado porque leva as pessoas a situações perigosas, como a transa sem o uso de preservativo. O sexo vem de fora. O amor vem de dentro. O amor é valente. O sexo chega a ser covarde.

Poderia levar horas classificando um e outro, entretanto uma discussão aprofundada não interessa porque muitas respostas não virão tão cedo. A única certeza é de que casais nasceram para ficar juntos, seja por amor, seja por sexo. E não é preciso ir longe. Basta dar uma volta pelos supermercados, por restaurantes, para ver que o mundo ainda é dedicado para quem anda em pares. Os produtos servem sempre a duas pessoas, vêm em duas porções. E se a gente buscar um pouco de ciência na tentativa de encontrar alguma lógica sobre essa relação, chegaremos à conclusão que heteros e homos desejam o mesmo: ficar bem grudadinhos.

Na espécie animal, é tudo bem simples. Complicados somos nós humanos. Pelo racional acabamos escravos da infelicidade. Mantemos ligações ditas afetivas que no fundo são movidas por interesses, como não ficar sozinho ou até por dinheiro. Outros arrastam casamentos e colocam a responsabilidade nos filhos. O que as crianças afinal têm a ver com as nossas angústias existenciais, as nossas decepções mais íntimas? Um pai e uma mãe infelizes sob o mesmo teto, anos a fio, vão ser capazes de passar para as crias exatamente o quê?

Que viva então o amor e o sexo descritos pelo grande Arnaldo Jabor, ora poesia, ora prosa, ora fantasia, ora realidade, ora pleno, ora volátil. O amor está na alma, o sexo na carne e devem caminhar juntos. Se as pessoas aprendessem a lidar com as diferenças, respeitassem os limites um do outro ou, por fim, se priorizassem e não deixassem de fazer coisas pensando na aprovação do companheiro, tudo seria mais fácil. Na verdade, só alguns corações são capazes de olhar para o eu interior e declarar a preferência por si próprio de forma absolutamente egoísta e sem machucar quem segue ao seu lado.

Um aspecto fundamental para que a relação de um casal floresça serena também é não ter medo de dizer não. É cultivar metas individuais, mas sobretudo conseguir compartilhar o prazer da vitória de um e do outro. Infelizmente, a cultura do ser humano é defensora do sacrifício, do esforço, da renúncia, muito mais do que a favor do amor, do sexo, do respeito e por isto os relacionamentos estão cada dia mais difíceis. Talvez seja como a mestre em Comunicação, Tatiana Amendola, da Casa do Saber, questionou no desafio à reflexão: “Por que as pessoas não se apaixonam mais?

 

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