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Mimimi governamental

Josana Salles*

Foto: Observa MT

Em meio às consequências drásticas das mudanças climáticas no Brasil, cheia histórica no Rio Grande do Sul e os incêndios florestais e queimadas em áreas abertas por todas as regiões, assistimos autoridades federais e estaduais jogando a culpa uns nos outros. Uma guerra de versões que exime erros de todos os lados, um jeitinho oportunista típico da política brasileira.

Na geopolítica, o mesmo fenômeno tem ocorrido há anos, sempre quando o tema é emissão de gases que agravam o efeito estufa e aquecem a Terra. Tudo cai na vala de quem quer mais dinheiro. Veja se não parece briguinha cínica de comadres: “Os países ricos acabaram com o meio ambiente e agora querem que o Brasil não desmate mais”; “Nos deem mais dinheiro para pagar a conta de não desmatar mais”; “Querem roubar a nossa Amazônia (esse é mais velho que minha avó)”; “Multamos muito, bilhões em multas (pagaram tudo? quanto entrou efetivamente nos cofres públicos e o que foi feito com o dinheiro?)” e blá, blá, blá.

Se o problema é dinheiro, então vamos visitar as inúmeras pesquisas econômicas que demonstram o que se espera da economia mundial. Em abril deste ano, a Revista Forbes anunciou um estudo “Comprometimento Econômico das Mudanças Climáticas”, divulgado pela Revista Nature. A estimativa é que a diminuição da produtividade provocada pelas transformações climáticas vai resultar em uma retração de 19% na economia global até 2049 e pode chegar a uma redução de 29% do PIB Global. A um custo de US$ 1,7 trilhão até 2050.

Existem inúmeros modelos científicos demonstrando que o agravamento da emergência climática no Brasil está associado ao desmatamento. A derrubada das florestas não apenas suprime a vegetação que remove carbono da atmosfera como também promove a emissão bruta de gás carbônico decorrente de queimadas. O desmatamento altera ainda o regime de chuvas e a umidade do ar com forte impacto sobre a agricultura e a vida nas grandes cidades.

É preciso parar com a disputa de narrativas e partir para a ação. O Brasil precisa investir em pesquisa mesmo sabendo que as consequências são incertas. Ao contrário do que se faz no mercado financeiro ao frear os investimentos quando o cenário é incerto, é preciso financiar a pesquisa e encontrar soluções.

Os governos estaduais devem ampliar os investimentos em unidades de conservação, parar de premiar grileiros, frear leis destrutivas, investir na cadeia de turismo, gerando mais empregos no setor, e apoiar o desmatamento zero. Mais uma dica; o Judiciário deve promover capacitações, abrir diálogo com a ciência e a sociedade civil.Aos eleitores muita atenção: a conta chega nos cidadãos comuns e mata os mais pobres. Pensem mais os cuiabanos ao votar para prefeito, deputados, senadores, governadores: vocês estão sendo fritos, estão pagando caro para respirar em ambientes fechados com ar condicionado. É isso que queremos para nossos filhos e netos?

O estudo publicado na Nature adota uma abordagem mais agressiva, calculando a perda de produtividade, além dos esforços para mitigação dos danos, a partir da análise de 1.600 regiões e 40 anos de dados comparativos para a realização dos cálculos.

*Josana Salles é jornalista em Mato Grosso

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