COLUNA

Francisca Medeiros

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África e Brasil unidos por um oceano de oportunidades

O Brasil tem laços históricos, culturais e étnicos com a África e o governo brasileiro quer estreitar estes laços e aumentar a influência no continente. A agropecuária é uma das áreas estratégicas de cooperação e pode envolver projetos de transição energética e de agricultura de baixo carbono. O Brasil, porém, não está sozinho neste projeto. De olho no potencial africano, China e Rússia têm agido em várias frentes. E qual é a importância deste mercado tão negligenciado nas relações internacionais brasileiras?

Em número de pessoas, é um gigante. Os 54 países abrigam 1,47 bilhão de habitantes, dos quais 58% ainda vivem no campo. É o continente mais jovem – 19 anos, em média -, com previsão da ONU de que chegue a 2,5 bilhões de pessoas até 2050. Nigéria, Etiópia, Egito e Congo são os países mais populosos. Já as economias mais fortes são África do Sul, Egito e Etiópia. Os dois últimos passaram a integrar os Brics neste ano.

Como mecanismo de cooperação, os Brics estão ganhando mais importância geopolítica, representa hoje mais da metade da população mundial e quase um terço do PIB do planeta.

Este grupo de países emergentes (não é um bloco econômico!) agora reúne África do Sul, Brasil, Rússia, Índia, China, Egito, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Irã. Com três membros africanos, os Brics podem ajudar na superação dos maiores desafios do continente, que são a pobreza e a insegurança alimentar.

Um relatório recente da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) alertou que de 828 milhões de pessoas que passam fome no mundo, 278 milhões vivem na África. Embora tenha terras agricultáveis para produzir alimentos para todos, o continente ainda importa ao ano mais de 100 milhões de toneladas de comida.

As dificuldades remontam ao período anterior à independência dos países africanos. Os Estados coloniais impuseram aos agricultores o plantio de um único tipo de cultivo para atender às necessidades dos colonizadores. O relatório analisa que isso atrasou o domínio de práticas agrícolas mais diversificadas e sustentáveis. Lembrando que antes da colonização o continente era autossuficiente na produção de alimentos.

A FAO ainda enumera como problemas o rápido crescimento da população, a falta de investimentos em infraestrutura básica e na agricultura. E também a existência de vários conflitos étnicos e de terrorismo em algumas regiões.

No início deste mês, a organização Médicos Sem Fronteiras fez um apelo para que a comunidade internacional se mobilize para interromper as mortes de crianças sudanesas por causa da desnutrição. A ONG afirmou que em um campo de refugiados na cidade de Fashir uma criança morre a cada duas horas.     

A Embrapa já tem um histórico de cooperação com países africanos na área da agropecuária. Em 2009, por meio da Agência Brasileira de Cooperação, a Embrapa iniciou o projeto Cotton-4 para aumentar a produtividade do algodão em Burquina Fasso, Benim, Chade, Mali e Togo. O foco era a troca e adaptação de tecnologias para a conservação dos solos, adotando a rotação de culturas, alternando algodão com grãos, manejo integrado de pragas e a capacitação de multiplicadores, tanto extensionistas quanto produtores.

Moçambique também já recebeu investimentos do Brasil e do Japão no âmbito do Programa Mais Alimentos Internacional e do ProSavana, por meio de pesquisa, extensão e transferência de tecnologia. E muitas universidades públicas brasileiras também mantêm intercâmbios culturais e científicos com a África. A Universidade Federal de Sergipe, por exemplo, forma alunos e mantém professores africanos em seu quadro e, desde 2023, oferta um doutorado em educação em Moçambique.  

Para demonstrar que deseja fortalecer os laços Brasil-África, o presidente Lula visitou Angola no ano passado. E a primeira viagem para o exterior deste ano foi para Egito e Etiópia. Em Adis Abeba participou, como convidado, da 37ª Cúpula da União Africana. 

Durante a Cúpula, foi anunciado que mil jovens africanos, com idades entre 18 e 39 anos, vão passar por capacitação técnica no Brasil como parte do Youth Technical Training Program (YTTP). A escolha dos participantes será feita ao longo de 2024 e 2025 pelo Instituto Brasil-África e instituições internacionais parceiras.   

O primeiro grupo virá de Serra Leoa e deve desembarcar em junho em Cruz das Almas, na Bahia. Lá, vai conhecer a Embrapa Mandioca e Fruticultura, com foco na capacitação para melhorar as condições produtivas. 

No campo comercial, o Ministério da Agricultura vai promover ações para vender mais carnes para a África. O Egito já elevou o Brasil à categoria de ‘pré-listing’ para exportação de carnes bovina, suína e de aves. Nesta condição, as habilitações de frigoríficos para exportações não dependerão mais de vistorias in loco das autoridades egípcias. 

A movimentação prevê também a ida em breve de uma comitiva de empresários e governo para o Egito e a Nigéria. O governo quer expandir o Programa Mais Alimentos, de fomento à agricultura familiar com financiamento e assistência técnica, para a América Latina e continente africano. É facilitada a compra de máquinas e implementos agrícolas para pequenos e médios produtores. O presidente do Quênia, inclusive, já mostrou interesse no maquinário agrícola brasileiro.

O turismo também deve receber mais atenção. Marcelo Freixo, presidente da Embratur, prometeu aumentar a conectividade entre Brasil e África do Sul, ampliando em 40% a oferta de voos, passando de 15 para 21. Mas ainda faltam voos diretos entre Brasil e Nigéria.

Para além das intenções, um ponto merece atenção. A política externa brasileira para o continente africano precisa de maior e melhor estrutura. Em todo o continente africano o Brasil tem apenas 84 diplomatas, 33 embaixadas e dois consulados-gerais. E das 12 embaixadas com apenas um diplomata, dez estão na África. Para efeito de comparação, somente na França e Suíça atuam 94 diplomatas. O governo planeja reabrir a embaixada brasileira na Líbia.

Ao longo de 350 anos de escravidão, o Brasil acumulou uma dívida histórica com a África. Hoje, com a economia globalizada, a reconstrução destes laços deve respeitar os interesses legítimos entre nações livres e independentes, de forma colaborativa e fraterna. 

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