Festa das Yabás: exaltação do feminino nas tradições de terreiro

Fátima Lessa*
Evento promovido no Ilê Axé Òkowoó Asé Ìyá Lomin`Osá, pelo Olóri Egbé Bosco D´Sango no bairro Jardim Universitário, no último sábado (18) foi impecável na homenagem às Divindades ancestrais femininas nas culturas tradicionais de terreiro. A cerimônia marcou a coroação do início das atividades públicas da casa. Com toda a beleza e perfeita organização, o evento celebra as Yabás, as Orixás que simbolizam a força, a sabedoria e a energia transformadora do feminino.
O festejo, que acontece uma vez por ano, resgata a história e homenageia as Divindades como Oxum, dona das águas doces, e Iemanjá, rainha dos mares. “Por isso, nada mais justo do que uma festa dessa magnitude para celebrar Oxum e Iemanjá, que são as senhoras do chão do Ilê Axé, junto às Yabás, que são as guardiãs de nossas vidas, de nosso destino, das nossas grandes mães e protetoras”, explica Olóri Egbé Bosco D´Sango. Como todas as cerimônias públicas no Candomblé de Nação Ketu, esta também foi aberta ao público.
Naquele sábado, o local estava repleto de pessoas ansiosas para vivenciar o momento de profunda conexão espiritual. Sorrisos e risos ecoavam, misturados à alegria de quem sabia que estava prestes a experimentar algo sagrado e transformador. Cada detalhe, cada preparação, parecia ter sido pensado para que as Orixás fossem recebidas com o respeito e o amor que merecem, criando um ambiente mágico e acolhedor.
O calor humano e a harmonia do evento se refletiram nas danças, nas cantigas e nos gestos de reverência. A festa foi mais do que uma celebração, representou um tributo ao feminino em sua totalidade, ressaltando a força das mulheres e das divindades que as simbolizam.
As Yabás foram saudadas no Salão Nobre do terreiro, onde todos se uniram em comunhão, celebrando a vida, a tradição e a ancestralidade.
As cerimônias públicas no Candomblé de Nação Ketu têm início com o Xirê, momento em que as mulheres se reúnem em círculo para reverenciar todos os Orixás cultuados no Brasil.
Em seguida, ocorre a Roda de Xangô, quando os Orixás tomam o corpo de seus devotos iniciados, que, após se vestirem e se adornarem, retornam ao salão para o Rum, momento em que as divindades celebram com sua presença, dança e alegria, contagiando todos.
Neste evento, estiveram presentes as Divindades: Oxum, Oyá, Iemanjá, Logun Edé, Oxumaré e Omolu, entre outros.
Omolu foi adornado e dançou na festa das Yabás porque, segundo explicaram os organizadores, havia uma devota iniciada para esse Orixá que deu obrigação de sete anos.
Oxum carrega abebê dourado em sua mão, Iemanjá carrega um abebê prateado, Logun Edé um abebê e um ofá, sendo o abebê um abano e o ofá um ornamento feito de metal ou madeira que representa o arco utilizado por Logun Edé, o orixá associado à caça, à juventude, à beleza e à abundância.
No Ilê Axé, a festa das Yabás é marcada por momentos de grande significado, entre os quais se destacam os rituais de rodar os balaios de Oxum e Iemanjá. Neste ano, além desses dois balaios, também foi realizado o balaio para Bàbá Logun Edé, e os três balaios estavam repletos de flores, simbolizando a conexão espiritual e a oferenda aos Orixás.
A expressão “balaio para Bàbá Logun Edé” é uma prática no Candomblé. Logun Edé, o orixá associado à beleza, juventude, caça e abundância, filho de Oxum com Oxóssi, recebe uma oferenda. O balaio, portanto, simboliza generosidade e é uma maneira de estabelecer uma ligação espiritual com o orixá, oferecendo algo em troca de suas bênçãos.
Também estiveram presentes religiosos de matriz africana pois, segundo explicaram os organizadores, o evento é o momento de confraternizar, alegrar e congratular com as Divindades Africanas presentes no mundo visível através de seus devotos.
O termo “Iyabá”, da cultura yorubana, traduzido para o português, significa “iya” = mãe e “abá” = mais velha. Portanto, “Iyabá” pode ser interpretado como “mãe ancestral” ou “mãe divinizada”.
Os orixás
Oxum é a orixá do poder da fertilidade e da maternidade, e determina seus próprios limites. Bonita, extremamente vaidosa, mas não fútil, Oxum é a soma de todas as qualidades, boas e ruins, de um ser. Basta saber dosar essas qualidades para alcançar a perfeição. Esta Yabá é essencial para todos, pois é a única que possibilita alcançar o equilíbrio. É necessário observar atentamente seus ensinamentos, pois são os limites que ela determina. Ela é a alegria, a riqueza e a harmonia, mas também a desarmonia – não há monotonia. Oxum é importante e necessária.
Iemanjá, senhora das águas e do equilíbrio, é reverenciada sempre que se busca paz. Seu aprendizado está em observar, guardar o necessário e seguir suas orientações. Ela ensina ajuda, cooperação, compreensão e solidariedade, mas também a importância de reconhecer e saber que somos a nossa própria prioridade para alcançar o equilíbrio. Se não estivermos bem, não poderemos ajudar ninguém. Iemanjá é, ainda, a essência do poder absoluto feminino, a senhora de nossas cabeças.
* Fátima Lessa é jornalista (UFMA) e mestra em política social (UFMT)
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