O ódio à cultura não cessa
Fátima Lessa*
Ah, os bolsominions, esses militantes da cultura do ódio!
Esse pessoal tem um talento inexplicável para odiar tudo que é bonito, que emociona, que inspira. Cultura, então, é uma das suas maiores vítimas. Não sei se é a inveja, se é o ressentimento, ou se é só uma necessidade quase fisiológica de despejar raiva no mundo, mas o fato é que, quando a vitória de alguém é legítima, eles fazem cara feia e cospem fogo.
É o que tá acontecendo desde a madrugada desta segunda-feira, porque a Fernanda Torres trouxe o Globo de Ouro por sua atuação espetacular no filme Ainda Estou Aqui.
E, claro, o Brasil vibrou, ficou radiante com a conquista. Mas aí, não demorou muito para que surgissem os bolsominions para TENTAR estragar a festa.
Eu fico pensando: será que eles não sabem simplesmente sentir felicidade pelo outro? A sensação que me dá é que, para eles, é como se a alegria do outro fosse um veneno que pode os matar. Deve ser um grande complexo de inferioridade!
E olha, isso, esse ódio contra a família da Fernandinha, não é novidade, não. Já aconteceu antes. Lá em 1999, quando Fernanda Montenegro foi indicada ao Globo de Ouro pelo seu papel em Central do Brasil, a reação foi a mesma.
Só que, naquela época, a internet ainda era uma utopia distante e as redes sociais, nem de longe, tinham esse poder que possuem hoje. Então, o ódio ficava mais restrito, não tinha aquele fluxo instantâneo de indignação no Twitter, por exemplo. A raiva da galera era mais silenciosa, mas ainda assim, muito palpável.
Lá atrás, eu editava o Jornal Folha do Iguaçu, em Foz do Iguaçu (PR,) com meu amigo o também jornalista Nelson Figueira e, num belo dia, um dos colunistas, que já era fã do Olavo de Carvalho, fez questão de mostrar o quanto estava torcendo para a Fernanda Montenegro não vencer e trazer a estatueta.
Eu, por outro lado, disse com todo o entusiasmo: “Olha, eu acho que ela tem tudo para ganhar.” Nelson ficou indignado e, claro, sem pestanejar, fez uma análise sensata e elogiosa sobre o filme e a atriz. Nunca tinha visto meu amigo tão irritado. E, infelizmente, a estatueta não veio com a atriz. O Brasil ficou triste.
Por outro lado, adivinhem? O colunista quase pulava de alegria, como se tivesse ganhado uma medalha por espalhar veneno.
Tanta gente vivendo a vida e, de repente, ele, o filhote do mestre do ódio, começou a destilar ódios, inveja contra a Fernanda Montenegro. Aí, pensei: “Será que é liberdade de expressão ou só um prato cheio de amargura?”
Olha, não era liberdade de expressão, não. Ele já estava dando dicas que a escola do tal Olavo de Carvalho, o mesmo que hoje, mesmo depois de morto, continua sendo o guru de toda essa turma de intolerantes, já funcionava a todo vapor.
Um dia, ele, o colunista me deu de presente o livro do Olavo, O imbecil Coletivo, hoje cinzas. O livro veio com recomendação: “leia e conheça o PT, esse partido ladrão”. Até me assustei, mas não nego fiquei curiosa, porém, após ler duas páginas, senti ânsia de vômitos. O livro não merecia nem fazer parte da minha estante – e já viu, né? Fui logo e botei fogo. O cheiro de papel queimado não é muito pior do que a sensação que esse tipo de leitura nos deixa.
E sabe o que mais? O que esse pessoal não entende é que a raiva que eles sentem pela Fernanda Torres, pela cultura e por tudo que é bom nesse país, não é apenas um desgosto pontual. Não. É o mesmo ódio que sentem pelo PT, pela Justiça Social, pelos direitos humanos.
Como já disse Luís Fernando Veríssimo, o ódio que essa turma tem pelo PT não começou com o PT. Esse ódio é anterior, está no DNA da classe dominante brasileira, que detesta qualquer ameaça à sua estrutura de poder. Como o Veríssimo bem colocou: “O antipetismo é consequência, o ódio ao PT é inato.”
No fundo, tudo isso é um reflexo de um ódio de classe. A classe que não consegue entender que, quando a cultura brilha, ela ameaça a sua zona de conforto.
E os bolsominions, como bons discípulos dessa filosofia do caos, não podem ver ninguém feliz, ninguém ganhando. Eles querem que a história da vitória seja escrita de outra forma, com eles no controle, com os seus valores – ou melhor, com a falta deles – sendo exaltados.
E não é só a Fernanda Torres ou Montenegro. Se um artista se destaca, logo vem o ataque. O Brasil vive uma radicalização extrema, mas quem conhece um pouco da história sabe que essa raiva não é novidade. Ela já existe há muito tempo, com outros nomes, outras siglas e outras desculpas esfarrapadas.
O que a gente vê é a continuação de um projeto de dominação, onde a cultura e a educação são tratadas como inimigas.
Portanto, se tem uma coisa que os bolsominions não suportam é a cultura, e isso é um ódio que vem de dentro, com a força da classe dominante, que teme ver um país mais educado, mais crítico, mais alegre e mais justo.
Ah, mas eles podem tentar o que quiserem. Fernanda Torres, Fernanda Montenegro, e todos os artistas que se levantam contra esse retrocesso, continuam sendo símbolos de uma cultura que, por mais que tentem atacar, nunca morrerá.
Porque a cultura, a verdadeira cultura, está acima do ódio e das mesquinharias de quem só sabe vomitar raiva. E, no fim, a vitória deles vai sempre ser uma vitória amarga.
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