Campo quer mais conectividade digital
A agropecuária moderna se ancora fortemente em tecnologias digitais. Com a internet, consegue-se gerir, em tempo real, dados gerados por sensores, máquinas, equipamentos e softwares. Eles definem as operações de adubação, plantio, controle de pragas e doenças e também o melhor momento da colheita.
Numa lavoura conectada, os equipamentos conversam entre si, não há desperdício de tempo e de insumos e aumenta a chance de se alcançar os resultados programados. São avanços indiscutíveis, mas nem todos se beneficiam ainda destas ferramentas. A conectividade chega ao campo de forma desigual.
O acesso à internet, televisão, rádio e posse de celular móvel no campo e na cidade é retratado pelo IBGE na Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios. A minha colega de eh fonte Sonia Zaramella já trouxe em uma coluna o recorte da relação dos idosos, os 60+, com as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), baseada na PNAD Contínua de 2022.
Recorro à mesma pesquisa para trazer uma visão panorâmica de como está a conectividade de quem vive e trabalha no meio rural. Houve evolução: em 2016, o acesso à internet era de 33,9%, saltou para 67,5% em 2021 e atingiu 72,7% em 2022.
Essa ampliação se deve à expansão da rede de telefonia móvel. No ano passado, no campo, 71% das pessoas com mais de 10 anos tinham celular. Mas há empecilhos para a democratização do acesso e também da garantia da qualidade dos serviços. E eles têm relação com renda, infraestrutura e educação.
Na região Centro-Oeste apenas 15% dos habitantes de zonas rurais não tinham telefone celular, bem abaixo da média nacional, 29%. Quanto aos tablets e computadores, no país houve retrocesso na ordem de 17%. Em 2022, apenas 13% dos domicílios rurais tinham estes equipamentos; contra 16% em 2016. Aqui no Centro-Oeste 19% tinham microcomputador e 5%, tablet.
Como motivo principal para tantos no país ainda não terem internet, foi apontado o preço do serviço por 31% dos domicílios. Os que acessam a internet ganham 27% a mais do que os não conectados. Em média, eram R$ 951 de renda per capita contra R$ 746.
Outro motivo é a indisponibilidade da oferta do serviço na área. No Brasil esta é a situação de 15% dos domicílios, a mesma média da região Centro-Oeste. Falta infraestrutura de conectividade no interior do país, pois os serviços focam nos grandes centros urbanos.
Em boa parte das áreas rurais a principal opção disponível é a internet via rádio, que requer a instalação de antenas na propriedade para captar o sinal das operadoras. E cada antena pode ter um custo médio de 5 mil reais.
Apenas 5,2% do território brasileiro têm cobertura 4G em níveis excelentes, que proporcionam o uso efetivo de tecnologias digitais no campo. Este resultado, que considerou o número de antenas instaladas, foi divulgado pela Embrapa.
A empresa estatal desenvolve, em parceria com a aceleradora Venture Hub, o Programa TechStart Agro Digital. Iniciado em 2019, o programa objetiva fortalecer startups voltadas para o agronegócio. A estimativa é que no Brasil estão ativas cerca de 1.700 agrotechs.
Em julho passado, uma pesquisa da Embrapa, Sebrae e Inpe revelou que 80% dos agricultores brasileiros já usam pelo menos uma tecnologia digital inovadora como ferramenta desenvolvida pelas agrotechs.
E na lista dos entraves à conectividade foi identificada também a dificuldade de as pessoas usarem a ferramenta. Segundo a PNAD Contínua, em 26% dos domicílios não havia ninguém que soubesse mexer na internet.
A inclusão deve caminhar, portanto, ao lado da educação. Desde o letramento digital de gerações inteiras até a formação e capacitação contínuas que este universo exige. E, como um direito à informação e à comunicação, a conectividade deve ser fomentada por meio de políticas públicas.
Em setembro deste ano, o Ministério da Agricultura, em parceria com o BNDES e os ministérios das Comunicações (MCom) e do Desenvolvimento Social (MDS), lançou o Projeto Rural + Conectado.
O objetivo é ampliar a infraestrutura para acesso à internet em povoados pouco populosos que ainda não têm o serviço. Foi criada uma linha de crédito, a juros subsidiados, para as empresas de telecomunicações. O projeto começa pelo Nordeste e Norte do país.
O processo de digitalização precisa se consolidar no campo e com o desafio de democratizar acesso a produtores de diferentes portes e de todos os cantos do país. E, sem internet de qualidade, pode-se perder o timing de um ambiente tão inovador como é o da agropecuária.
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