COLUNA

Adriana Mendes

adrianam@ehfonte.com.br

Informações de política, judiciário e meio ambiente.

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Desafios do comércio local na aliança com o digital

A queda nas vendas e a concorrência com o comércio digital preocupam o presidente da Fecomércio-MT, Wenceslau Júnior, mais conhecido como Júnior da Verdão. Mas o empresário segue persistente na meta de elevar o varejo de Mato Grosso a um novo patamar no futuro. No estado, 425 mil empresas ativas do setor de comércio de bens, serviços e turismo empregam 62% dos trabalhadores regionais. Além disso, o segmento representa 68% da arrecadação estadual.

Articulado e reconhecido como um case de sucesso no comércio da construção civil, o presidente da Fecomércio está em seu segundo mandato à frente da entidade. Ele coordena a Câmara Brasileira de Materiais de Construção (CBMC) e tem defendido mudanças na atuação do empresariado, além de ser favorável a uma tributação diferenciada para compras online.

O Sistema Fecomércio, que inclui o Sesc e o Senac, desempenha um papel crucial na qualificação profissional e na oferta de benefícios aos trabalhadores do comércio mato-grossense.

O que a população não sabe sobre o comércio em Mato Grosso? 

Desde que cheguei na Fecomércio, há um trabalho de divulgação das nossas ações. Nós defendemos, com unhas e dentes, perante os órgãos governamentais, os empresários e comerciantes de Mato Grosso. Temos um programa chamado Renalegis (uma rede que permite a gestão de informações legislativas) e todo projeto de lei da Assembleia Legislativa, que mexe com o comércio, chega um link para o nosso jurídico. Daí, vamos estudar e o representante daquela área vai dar seu parecer.

A Assembleia Legislativa está trabalhando bem pelo comércio?

Sim. Tem acatado em 90% as nossas proposituras. Mas a gente vê que a maioria dos deputados usa a assessoria (para elaborar as propostas) e às vezes nem tem ciência (do conteúdo). Eu acho uma maneira errada – não só aqui, na Câmara Federal também – de avaliar o deputado pelo volume de projetos de lei. A grande maioria (dos projetos) não tem qualidade ou é repetitiva. Muitas vezes é um  projeto de lei que ele copiou e colou e mandou pra lá. Quando vai ler,  é um projeto de lei do Rio Grande do Sul. O cara não teve nem tempo de corrigir para Mato Grosso.

Recentemente, houve um caso do deputado Wilson Santos…

Wilson é campeão.

E como é o trabalho social da Fecomércio? 

Nossos braços sociais são o Sesc, Senac e o Instituto de Pesquisa, que ficam sob a batuta do presidente. Com o Instituto de Pesquisa, damos uma grande contribuição para a imprensa mato-grossense, pois fazemos a coleta semanal  de dados da cesta básica. Temos vários programas sociais. A expertise do Senac é a qualificação da mão de obra. O curso mais procurado é o de enfermagem, que é a cereja do bolo. Na diplomação 100% de quem faz o curso está empregado. No Sesc são várias ações culturais, de saúde, turismo e educação. Temos creches para atender os filhos dos trabalhadores do comércio, hoje são 78 crianças matriculadas.

Qual o setor em alta no comércio em MT? 

A grande locomotiva nossa é o agronegócio, um grande parceiro do setor do comércio. Onde o agro vai bem, o comércio vai bem.

A queda na safra preocupa? 

Isso já afetou diretamente o comércio. Há uma queda geral nas vendas no Brasil. E falta de segurança jurídica. Na área de materiais de construção – sou coordenador e presidente desta câmara (na CNC) – falta uma política (do governo federal) para o setor. Desde que esse novo governo assumiu, vários setores tiveram queda. Aqui também não ficou atrás, em todos os setores a venda caiu bastante.

Tem uma estimativa dessa queda?

Olha, ela é variável. O setor de material de construção ficou em torno de 20%. Na feira que aconteceu agora, em Ribeirão Preto, caiu 38% a venda de máquinas agrícolas em relação ao ano passado. E ainda tem muitos empresários com resquício lá de 2020, da Covid. O empresário acabou pegando empréstimos, grande parte não conseguiu pagar essas dívidas, porque o Covid demorou dois anos. A economia vai voltando ao normal, de repente falta segurança jurídica, falta planejamento do governo, a economia está patinando novamente.

 O que mudou no comércio após o Covid?

O comércio mudou muito. O consumidor ficou mais exigente, o consumidor hoje usa mais as redes sociais, as plataformas de compra. Mas o consumidor gosta muito de tocar no produto que ele vai comprar. A grande preocupação, temos conversado com o governador (Mauro Mendes) e com o secretário de Fazenda (Rogério Gallo), que é preciso rever a carga tributária porque nós ficamos sem competitividade com as plataformas digitais. Não tem aquela fidelidade com o lojista. Mas é natural que a pessoa com um produto 30%, 40% mais em conta, vai comprar nas plataformas digitais.

E qual a solução? 

Não tem como nadar contra a correnteza, tem que nadar a favor. Temos que baixar a carga tributária e achar uma maneira de tributar aquele contribuinte que compra pelas redes sociais. Porque até não é justo. Você ganha dinheiro aqui em Mato Grosso e manda esse dinheiro para outro estado gerando emprego, renda e qualidade de vida em outro estado.

Qual é a carga tributária hoje?

A carga tributária hoje, quando você fala estadual e federal, está entre 38% e 42% Então um produto que você paga R$ 1 mil, essa carga tributária vai de R$ 380 a  R$ 420. É uma das cargas tributárias mais altas do mundo.

Comércio de rua ou shopping center? 

A loja física diminuiu muito, perdeu muita concorrência com shopping. Até por comodidade. No shopping você tem estacionamento, climatização. O pós-Covid foi um grande aprendizado.

O que fazer para que o comércio seja mais pujante? 

O  empresário tem que mudar a cabeça, mudar 100% porque estava acostumado a abrir a porta, ficar ali no balcão e esperar o cliente chegar. É preciso mudar a forma de atendimento, principalmente. Quando o cliente vai fazer uma compra, precisa ser um prazer. Uma loja tem que estar limpa, bem higienizada, iluminada. Às vezes o empresário está economizando energia, mas uma boa iluminação chega a aumentar a venda até em 35%, o cliente visualiza melhor a mercadoria. É um fator crucial, climatizar. Porque o cliente que entra numa loja (não climatizada) com esse calor de Cuiabá, ele está louco para sair, para entrar no carro, para ir para casa. Mas quando você climatiza, você cria um ambiente agradável, ele acaba ficando mais tempo do que o necessário e isso acaba em compra. Por impulso, acaba comprando mais.

Mas tem o custo da energia…

A energia de Mato Grosso ainda é uma das mais caras do Brasil. Eu tenho um projeto – que já apresentei  para dois governadores e na nossa Casa de Leis – para  atrair indústrias para Mato Grosso. Hoje somos autossuficientes em energia e o excedente, que chega a 42% do que  produzimos, mandamos para Goiás, Minas, São Paulo, para outros estados. Qual o custo dessa energia que nós mandamos a outro estado? Zero. É zero de ICMS. Então, já que temos excedente de energia e pagamos para produzir essa energia com grande impacto ambiental, podemos atrair indústrias cobrando zero de ICMS em cima da energia, por um prazo de 10 anos, por exemplo. Vai gerar emprego, renda, qualidade de vida e impostos.

Os empresários criticam o fim da desoneração da folha de pagamento. Qual será o impacto para o comércio?

O que foi prometido nesse governo não está sendo cumprido. A desoneração da folha vai impactar diretamente no bolso de nossos consumidores. Eu, como empresário, o aumento do meu custo vou colocar no produto, é lógico, né? Porque o consumidor confunde. Às vezes, acha que é o empresário que paga o imposto. Não é, nós só repassamos. Então o produto que eu vendia por x eu vou vender por xx e quem vai pagar isso? É o consumidor. O que vai acontecer? O poder de compra cada vez vai diminuindo mais.

E com relação à política, essa polarização prejudica o país?

Isso é uma instabilidade muito grande. O que está acontecendo hoje? Você é de centro-direita ou você é de esquerda. Isso faz mal ao Brasil. Mas as eleições são para isso, né? Cada um tem direito a um voto.

O senhor será candidato? 

Não, não. Eu mudei de partido, era filiado ao PSD. Mas o meu perfil é um cara de centro direita e, o PSD, nesse momento, ele está mais para a esquerda, do que de centro, então fiquei bem incomodado. Filiei ao Republicanos a convite do vice-governador, Otaviano Pivetta, que é o presidente do partido no estado. Estou à disposição do partido, como eu estava à disposição quando estava no PSD.

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