Desafios e oportunidades do agro em 2024
Que baita desafio tem o agro neste 2024! Ano de recalcular rotas e de fazer muita conta, considerando todos os números depois das vírgulas. Serão necessários ajustes finos, mas nada que não tenha sido feito antes. Certamente a pressão é maior, seja devido às condições climáticas extremas, à geopolítica mundial com guerras sangrentas que se alongam, e às incertezas econômicas. Pelo ângulo do copo cheio, o agro brasileiro mostra dinamismo para responder rapidamente às mudanças de cenário, investe em ganhos de produtividade e tem setores, como o de agroenergia, que dão mostras de vigor e potencial de expansão.
Nesta safra de grãos, os sinais de alerta vieram nos últimos meses de 2023. As chuvas irregulares, menos volumosas, com sol e calor de rachar coco, confundiram o calendário das principais culturas. Aqui em Mato Grosso, o plantio da soja atrasou, lavouras inteiras se perderam e a Aprosoja – MT estima redução de 20% no volume a ser colhido. E o efeito dominó vai repercutir no milho segunda safra que deverá ter a área de cultivo reduzida em quase 25%.
No relatório mais recente do Rabobank, o banco global com forte atuação no agronegócio, sobre as perspectivas para o agro brasileiro neste ano que se inicia, os analistas enumeram as principais dificuldades e as oportunidades para o setor. De forma resumida, consideram positiva a aprovação de reformas estruturais, assim como a inflação sob controle. Mas avaliam que os juros, mesmo com a sucessão de cortes, ainda são altos.
Na análise por produto, o relatório mostra que as margens de lucro serão mais apertadas para os produtores de soja. O milho, que terá produção menor, deverá ter valorização no mercado externo, puxada também pela demanda aquecida pelo etanol feito com o cereal e pelo grão para a produção de ração animal.
Para o algodão, 2024 pode ter, no país, incremento de 8% na área plantada, mantendo a sequência de 5 anos de crescimento. Do consumo global da fibra, o Brasil deve entrar com 10%, tendo Mato Grosso na dianteira. Aqui as lavouras deverão ocupar 1,35 milhão de hectares, um recorde, com produção estimada de 5,78 milhões de toneladas de algodão em caroço. A produtividade, porém, deve cair 8,6%. A estimativa é do Imea que prevê a recuperação da demanda global pela fibra este ano.
Quanto aos custos de fertilizantes, depois de atingirem picos em razão da pandemia de covid e da guerra entre Rússia e Ucrânia, houve redução nos preços no segundo semestre de 2023 e a tendência é que se estabilizem nos patamares atuais.
Para a pecuária de leite, 2023 foi particularmente difícil. A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) lembra que a queda vertiginosa dos preços pagos ao produtor se deveu às importações subsidiadas do produto proveniente da Argentina que inundou o mercado brasileiro. Com o criador descapitalizado, a expectativa é que a produção nacional de leite permaneça estável.
Já na pecuária de corte, os abates aumentaram quase 10% no país no ano passado. A estimativa da entidade é que haja uma discreta melhora de 0,2% este ano na produção de carne, motivada pela demanda interna ainda tímida.
Diante das incertezas geradas pelos problemas climáticos, a CNA defende o fortalecimento do seguro rural como “uma política de Estado, com volume de recursos previsível e em volume adequado para atendimento ao Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR)”. No orçamento de 2024, o Congresso aprovou, no final de dezembro, a destinação de R$ 964,5 milhões, bem abaixo dos R$ 3 bilhões pedidos pela entidade.
Para 2024 uma novidade que anima o setor da soja é o aumento da mistura de biodiesel ao diesel que passará dos atuais 12% para 14% já a partir de março. Isso deve movimentar as indústrias que vinham operando com metade da capacidade ociosa. E em março de 2026 a mistura subirá para 15%. Segundo o Ministério das Minas e Energia, esta medida vai evitar a emissão de 5 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera e vai reduzir cerca de R$ 7,2 bilhões com a importação de diesel fóssil.
Os principais desafios para o agro são conhecidos, vão dos crônicos gargalos logísticos, no transporte e no armazenamento, às incertezas geradas pelas oscilações climáticas. Nem tudo está na mão do produtor, há impactos gerados de fora das porteiras. As formas de enfrentamento também não são novidade. O que parece ter mudado mesmo é a velocidade exigida para as respostas.
Os líderes do setor e os especialistas recomendam cautela nos gastos e, sobretudo, gestão financeira eficiente. Um ano desafiador pede muito cuidado na arrumação da casa. Margens de lucro apertadas e queda no preço das commodities demandam decisões certeiras, bem fundamentadas, para não comprometer demais a rentabilidade.
E há premissas que não podem ser esquecidas, como a de produzir sem pressionar mais ainda os recursos naturais e também a de diminuir desperdícios ao longo das cadeias produtivas. A cautela não é desculpa para postergar o que é urgente, como o compromisso com a transição energética. Que, na verdade, é tarefa de todos os setores produtivos, de governos e sociedade, mas que, particularmente sobre o agro atrai o interesse ampliado pela lupa da opinião pública que defende avanços consistentes das práticas sustentáveis na produção dos alimentos.
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