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MT lidera morte de chikungunya no Brasil, saiba mais sobre a doença

Por Fátima Lessa*

Foto: SECOM/VG e SMS/VG

O aumento das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, como chikungunya, dengue e zika, coloca Mato Grosso e o restante do país em alerta. O estado de Mato Grosso, em particular, se destaca pela alta incidência de casos e mortes por chikungunya.

Até o dia 25 de fevereiro, Mato Grosso registrou 16 das 19 mortes por chikungunya no Brasil, o que representa impressionantes 84% do total. As três mortes restantes ocorreram em São Paulo, Minas Gerais e Bahia. Além disso, outros nove óbitos estão sendo investigados no estado, conforme informações do Painel de Monitoramento das Arboviroses, do Ministério da Saúde.

Com uma taxa de incidência de 396,6 casos a cada 100 mil habitantes, Mato Grosso concentra mais de 15 mil casos prováveis da doença, somando quase metade dos casos registrados em todo o Brasil. No total, o país contabiliza mais de 30,9 mil casos prováveis de chikungunya.

O estado continua enfrentando um surto crescente, o que reforça a urgência de medidas de prevenção contra o Aedes aegypti, vetor responsável pela disseminação de chikungunya, dengue e zika.

A evolução da doença ocorre em três fases distintas:

Fase Febril ou Aguda: duração de 5 a 14 dias, caracterizando-se por febre alta e dores no corpo.

Fase Pós-Aguda: pode durar de 15 a 90 dias, com a persistência das dores articulares e outros sintomas.

Fase Crônica: Se os sintomas persistirem por mais de 90 dias, a doença entra em sua fase crônica, onde mais de 50% dos casos evoluem para dor articular crônica, que pode durar anos, comprometendo a qualidade de vida dos pacientes.

Segundo o Ministério da Saúde, os casos graves de chikungunya podem exigir internação hospitalar e, em algumas situações, resultar em morte. A dispersão do vírus e o aumento do número de casos exigem atenção das autoridades de saúde e reforçam a importância de medidas preventivas, como o controle do mosquito transmissor e o manejo adequado dos sintomas.

Conforme especialistas, a chikungunya, assim como outras doenças transmitidas pelo Aedes, é um reflexo da precariedade dos serviços públicos e da falta de um compromisso real com o bem-estar coletivo. A falta de saneamento básico no Brasil é um problema estrutural e complexo, mas a urgência da situação exige soluções rápidas e contundentes.

Portanto, quando olhamos para os números e constatamos a tragédia que a chikungunya tem causado em Mato Grosso e em outras partes do país, é impossível ignorar o papel fundamental do saneamento na questão da saúde pública.

O combate à proliferação do Aedes aegypti não pode se dar apenas por campanhas de conscientização e pela eliminação de focos de água. A transformação deve vir de uma política pública ampla, que invista em infraestrutura, em saneamento básico e em serviços de saúde eficazes para todos os cidadãos.

O problema de saneamento não é exclusividade de Cuiabá. No Brasil como um todo, milhões de brasileiros ainda vivem sem acesso a sistemas de esgoto adequados e sem tratamento de água eficiente. Isso facilita o surgimento de criadouros para o mosquito transmissor das arboviroses. Em áreas periféricas e em bairros menos periféricos, a realidade é ainda mais dura, com a precariedade dos serviços públicos e a escassez de políticas eficazes de controle e prevenção.

Causa do aumento de casos 

Segundo especialistas, o principal fator para o aumento dos casos foi o crescimento das populações do mosquito Aedes aegypti, vetor da chikungunya. Fatores como o aumento de áreas com acúmulo de água parada e o descuido com o controle do mosquito facilitaram a disseminação.

Outra questão que contribui para a disseminação do vírus é a maior mobilidade das pessoas, com viagens para outras regiões e países. A circulação do vírus pelo continente americano facilitou a transmissão para o Brasil. E devido a chikungunya ser uma doença nova no Brasil levou a uma falta de preparação nas medidas de controle e prevenção, o que contribuiu para sua rápida propagação.

Decreto de emergência em saúde pública

A prefeitura de Cuiabá decretou estado de emergência na área da saúde pública devido ao risco crescente de epidemias causadas pelas arboviroses, como dengue e chikungunya. A medida foi adotada diante do aumento expressivo de casos, conforme os dados do Sistema Municipal de Vigilância em Saúde. O decreto, que tem validade de 60 dias, também estabelece a criação de um Comitê de Operações Emergenciais, responsável por monitorar a situação e adotar medidas estratégicas para o controle da epidemia.

De 1º de janeiro até o dia 19 de fevereiro de 2025, a Secretaria Municipal de Saúde registrou 1.977 casos confirmados de chikungunya e 724 casos de dengue. Esse aumento alarmante é visível no cotidiano das unidades de saúde, as upas estão sobrecarregadas, com dezenas de usuários, tanto na recepção quanto nos setores de medicação. De acordo com profissionais de saúde, a principal medida adotada para o tratamento inicial é a hidratação por soro intravenoso, com a orientação de ingerir pelo menos 2,5 litros de água por dia.

Contudo, os números divulgados pela prefeitura podem estar com subnotificações altíssimas, já que os resultados dos testes estão levando até 20 dias para serem liberados, e muitos pacientes não têm paciência para esperar pelo atendimento, nem vão às unidades.

Uma paciente relatou que precisou esperar mais de uma hora para ser atendida e que, ao ser chamada, não havia cadeira nem leitos disponíveis. “Tinha pacientes tomando soro e andando pelos corredores”, contou ela. A usuária do SUS tem mais de 60 anos, é prioritária, por lei. Percebe-se que os profissionais estão sobrecarregados, principalmente a enfermagem.

A prefeitura reconhece que a situação se agrava devido à falta de sinalização adequada por parte de algumas unidades básicas de saúde, dificultando o mapeamento completo dos casos.

Em relação aos dados epidemiológicos, as primeiras sete semanas de 2025 mostram um aumento considerável de casos de chikungunya, com uma média semanal de 302 notificações, enquanto no mesmo período de 2024, a média era de apenas 3, representando um aumento de 9.091%. Já a dengue, embora continue alta, teve uma redução nas duas últimas semanas, com uma média semanal de 132 notificações em 2025, comparado a 41 casos semanais no ano anterior, o que indica um aumento de 220%.

No cenário de óbitos, foram confirmadas 6 mortes por chikungunya em 2025, com outras 6 ainda sob investigação, além de um óbito por dengue que está sendo apurado, segundo a Prefeitura. Vale ressaltar que esses números podem ser ainda maiores devido à demora nas notificações.

Diante desse cenário, a recomendação das autoridades de saúde é que a população de Cuiabá continue adotando medidas de prevenção contra o mosquito Aedes aegypti, com especial atenção à limpeza dos ambientes domésticos e de trabalho, sobretudo durante o período de chuvas, para evitar a propagação das doenças e a sobrecarga nos serviços de saúde.

A chikungunya

Segundo especialistas, a chikungunya é uma arbovirose causada pelo vírus chikungunya (CHIKV), transmitido pela picada de fêmeas infectadas do mosquito Aedes, sendo o Aedes aegypti o principal vetor no Brasil. Introduzido nas Américas em 2013, o vírus provocou uma epidemia significativa em diversos países da América Central e no Caribe.

A chikungunya  não era endêmica antes de 2013. A doença já existia em outros continentes, mas no Brasil, a  chikungunya foi confirmada pela primeira vez em 2014 nos estados do Amapá e Bahia, e, desde então, a transmissão se espalhou por todo o território nacional.

Em 2023, o vírus se expandiu para os estados da Região Sudeste, área que anteriormente não registrava tantos casos. Até então, a maior parte das infecções por chikungunya no Brasil se concentrava na Região Nordeste. As principais manifestações clínicas incluem edema e dor articular intensa, que pode ser incapacitante. Além disso, a doença também pode causar manifestações extra articulares, afetando outros sistemas do corpo.

*Fátima Lessa é jornalista em Cuiabá, colaboradora do eh fonte.

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