Saiba porque Mato Grosso corre risco de apagão nos próximos anos
Um relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) sobre a segurança energética nos próximos cinco anos aponta risco efetivo de apagão em Mato Grosso. A principal causa é a rápida expansão da geração de energia solar fotovoltaica sem o devido acompanhamento da infraestrutura de transmissão e distribuição.
Os dados estão no Plano da Operação Elétrica de Médio Prazo do Sistema Interligado Nacional, que abrange o período de 2025 a 2029.
Um dos efeitos que preocupam é o chamado “fluxo reverso” de energia: em vez de a energia fluir da transmissora para a distribuidora, o excesso de energia gerada e não usada pelos consumidores residenciais e comerciais com painéis solares fazem o caminho inverso, passando da distribuidora para o sistema de transmissão. Isso gera risco de sobrecarga no sistema, o que pode resultar em desligamento do sistema de transmissão por excesso de carga elétrica.
Mato Grosso tem 94% das subestações de fronteira com “fluxo reverso”, é o estado com a maior porcentagem. Em seguida estão o Piauí, com 73%, e Minas Gerais, com 43%.
Atualmente, o estado possui uma capacidade instalada de energia solar de aproximadamente 2 GW de energia na modalidade MMGD (Micro e Minigeração Distribuída), composta majoritariamente por energia solar fotovoltaica. As projeções indicam que, até 2029, essa capacidade deverá dobrar, ultrapassando 4 GW. De acordo com o relatório, o estado terá 145% de energia gerada em relação à demanda máxima prevista, posicionando o estado com maior adoção de geração solar.
O documento aponta que o crescimento do agronegócio em regiões estratégicas como Sinop, Sorriso, Lucas do Rio Verde e Rondonópolis tem intensificado a demanda energética, principalmente à noite, devido ao uso da irrigação evidenciando a necessidade de reforços na rede de transmissão.
A subestação da Eletronorte em Sorriso, por exemplo, operou com medidas emergenciais para evitar colapso, enquanto a obra da nova Subestação Cuiabá Norte, essencial para aliviar a sobrecarga em Cuiabá e Coxipó, está atrasada e sem previsão de entrada em operação.
“A estrutura atual não está preparada para acompanhar essa transição energética tão rápida. Se não houver reforço na rede, o sistema pode entrar em colapso”, alerta o relatório do ONS. Diante dos desafios, foram adotadas medidas emergenciais, como a flexibilização de sobrecarga em transformadores e a adoção de horários de pico diferenciados para irrigação, mas essas soluções não são suficientes a longo prazo.
Além de Mato Grosso, o ONS vê risco de sobrecarga “inadmissível” – superior à capacidade operacional de curta duração dos transformadores – em subestações do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rondônia, Bahia, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Piauí. Em 2023, o país sofreu um apagão de seis horas em 25 estados, justamente em razão de problemas com a intermitência da energia solar e eólica.
Obras atrasadas
O ONS identificou atrasos em obras essenciais para o fornecimento de energia elétrica em Mato Grosso e no Pará. A Subestação Cuiabá Norte, planejada para aliviar a sobrecarga na rede de Cuiabá, deveria estar pronta em março de 2025, mas atualmente não há previsão para sua conclusão. Para mitigar os problemas decorrentes desse atraso, está sendo considerada a instalação de um segundo transformador na Subestação Cuiabá.
Além disso, há projetos importantes para a região de Novo Progresso, no Pará, que também beneficiarão o norte do estado. Esses projetos incluem a construção de novas subestações e linhas de transmissão para melhorar o atendimento elétrico nessas áreas.
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