Santo Antônio de Leverger sofre com pesca proibida e obras paradas
Com pouco menos de 17 mil habitantes, segundo o IBGE, Santo Antônio de Leverger (MT), a 35 km de Cuiabá, enfrenta um duro impacto econômico e social. A cidade com sua arquitetura antiga, ruas de pedra estreitas e o rio Cuiabá como como cenário, convive atualmente com queda no movimento comercial. As informações são da série especial produzida pelo Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Formad).
As filas de carros, os preços anunciados por megafone, as famílias carregando sacolas de compras, os vendedores ambulantes atrás de troco e a lanchonete da esquina cheia ficaram no passado. Hoje, quem vai ao Mercado Municipal da cidade encontra apenas um portão fechado, bancas vazias e nenhum cliente. Um ano após a entrada em vigor da lei que proibe a pesca e o transporte, conhecida como Cota Zero, a única atividade que ainda resiste no local é o atendimento da Colônia de Pescadores Z8, que funciona no prédio do mercado.
O rio Cuiabá, que já foi um dos principais cartões-postais da cidade, está cercado por tapumes e placas devido às obras da orla na Avenida Beira Rio. Contratada em novembro de 2022, com previsão inicial de entrega para setembro de 2024, a obra foi paralisada e agora tem nova previsão de conclusão para 24 de outubro de 2025. O orçamento também subiu: passou de R$ 9,9 milhões para R$ 12,3 milhões, segundo dados do Diário Oficial de Mato Grosso. A construção é executada pela Lotufo Engenharia e Construções.
Além dos transtornos causados pelo canteiro de obras, a economia local foi ainda mais abalada pela implantação da Lei 12.434/24, que proibiu desde janeiro de 2024 o armazenamento, transporte e comércio das 12 espécies de peixe mais rentáveis do estado. A medida, conhecida como “Cota Zero”, afetou diretamente restaurantes, peixarias e o comércio em geral.
“Demiti três funcionários e pedi ajuda para familiares. Não temos mais reservas para finais de semana. O movimento caiu demais”, relata Daniel* (nome fictício), dono de um restaurante na orla. Em frente ao Mercado do Peixe, Mayara Ribeiro, que trabalha em uma peixaria, conta que a família passou a trabalhar dobrado para não fechar as portas: “Fazemos o possível para sobreviver”.
Em Leverger, a pesca e a agricultura de subsistência sustentam boa parte da população. Com a queda da pesca, os efeitos em cadeia são visíveis. No comércio, a queda nas vendas é generalizada. Maria Eduarda Luz, atendente de mercado, relata que clientes frequentemente abandonam compras no caixa. Lenil Rosa, dona de loja de utilidades, calcula uma redução de 40% no faturamento e lamenta: “Se eles não pescam, ninguém tem dinheiro”.
A sensação de abandono é reforçada pelas placas de “aluga-se” e “vende-se” espalhadas pelas ruas. Bruno Roberto de Souza, proprietário de uma farmácia, descreve a mudança drástica no fluxo de turistas e consumidores. “A tendência é fechar ainda mais lojas ou trabalhar apenas com a família”, diz. Ele também aponta outro problema: o impacto na saúde da população. “Sem pesca, muitos ficaram sedentários, e aumentaram os casos de pressão alta, ansiedade e obesidade”, alerta.
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