Suspeita de vazamento em investigação de emendas

Por Adriana Mendes

O empresário Alessandro do Nascimento no Aeroporto /Foto: Reprodução relatório da Polícia Civil
A Polícia Civil de Mato Grosso suspeita que houve vazamento na investigação de um esquema de desvio de recursos na execução de emendas parlamentares da Assembleia Legislativa (ALMT), durante o período eleitoral.
Catorze deputados estaduais de Mato Grosso, um prefeito e um secretário de estado são citados no relatório policial. Um dia antes da operação, o empresário Alessandro do Nascimento, que é apontado como “laranja” do esquema, deixou “dois caixotes” com documentos na casa de amigos e comprou passagens para viajar.
A investigação apura um esquema de desvio de recursos públicos por meio de emendas destinadas ao Promatur para compra de kits agrícolas superfaturados. Os kits continham objetos como roçadeira, motocultivador, adubadeira costal e perfurador de solo
A Operação Suserano foi desencadeada em 24 de setembro de 2024 pela Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor). O instituto Promatur, conforme revelou o eh fonte na série “Balcão de Emendas: para onde vão os milhões da ALMT”, é a segunda instituição que mais recebeu recursos da ALMT para execução de emendas no período de 2021 a 2024.
Documento divulgado pelo UOL e obtido também pelo eh fonte revela que o empresário e sua família deixaram a residência na madrugada do dia da operação, horas antes da chegada dos agentes. Vestígios encontrados no local – como roupas remexidas e malas fora do lugar – reforçam a suspeita. Também foi registrada a tentativa de ocultação de provas: Alessandro, segundo o relatório, deixou “dois caixotes” com documentos na casa de amigos. No aeroporto, pediu para que fossem pegar um celular e um notebook.
“O intuito de Alessandro Nascimento evidencia tentativa de destruição e/ou ocultação de informações que seriam úteis para a investigação”, aponta o documento.
Em cadernos de anotações que estavam na caixa são citados nomes dos deputados estaduais Eduardo Botelho (União) e Ondanir Bortolini (Republicanos), conhecido como Nininho. “500k Nininho” e “1m Botelho” e, abaixo, “Distribuição e fomento de materiais esportivos para?”. Os cadernos que o investigado supostamente tentou esconder também mostram anotações em nome dos deputados Dr. Eugênio (PSB), Dilmar Dal Bosco (União), Faissal Calil (PL), Carlos Avallone (PSDB) e Thiago Silva (MDB). Todos negaram qualquer envolvimento com o caso.

Caderno apreendido na investigação/ Foto: Reprodução relatório policial
Segundo a Polícia Civil, o empresário comprou passagens no mesmo dia do embarque com a família, na véspera da deflagração da operação, com retorno previsto para o dia seguinte. Ele foi abordado no Aeroporto Marechal Rondon, no retorno a Cuiabá, e teve R$ 10 mil em espécie apreendidos, sem qualquer declaração sobre a origem do dinheiro. O relatório também registra uma tentativa da esposa de Alessandro de repassar discretamente um celular à filha durante a abordagem, o que, para os investigadores, reforça a suspeita de ocultação de provas. Procurada, a defesa de Nascimento informou que “foi uma coincidência” que “tanto que ele voltou no dia seguinte ou dois dias depois”. A caixa de documentos foi entregue pelo próprio Nascimento à Polícia Civil dias depois.
A polícia suspeita ainda que Nascimento planejava comprar dois imóveis nos Estados Unidos por R$ 7 milhões. O empresário teria atuado para lavar dinheiro no exterior, utilizando um contador nos Estados Unidos. A defesa também negou.
Amizade com Carlos Avallone
Apontado como próximo ao deputado estadual Carlos Avallone (PSDB), Alessandro do Nascimento teria recebido o parlamentar na festa de 15 anos de sua filha, segundo apontam as investigações. Avallone foi o responsável por uma emenda parlamentar de R$ 10 milhões destinada à aquisição de 25 mil kits de ferramentas para a agricultura familiar. Em nota, a assessoria do deputado afirmou que “não houve entrega de kits em período eleitoral e as entregas feitas pelo deputado foram publicizadas nas redes sociais do parlamentar, para total transparência. O deputado reitera que está à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento”.
Suspeita de compra de voto
A investigação revelou prejuízo estimado em mais de R$ 28 milhões aos cofres públicos e levou ao bloqueio de bens, quebra de sigilos e afastamentos de servidores envolvidos no caso. A Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (SIAF) e o Pronatur entregaram “kits de ferramentas e barracas para feirantes em 2024, ano de eleições municipais, sem atender às exceções previstas na legislação”.
A delegada responsável pelo caso, Juliana Rado, solicitou o encaminhamento do inquérito à Polícia Federal no dia 15 de maio. “Documentos obtidos indicam que houve participação direta dos deputados nos eventos de entrega, utilização política desses eventos em período eleitoral e coleta de informações pessoais dos beneficiários (nome, CPF, telefone e endereço)”, diz o texto.
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