COLUNA

Sônia Zaramella

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Relatos e fatos, pessoais ou não, do passado e do presente de Cuiabá e de Mato Grosso.

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Incentivo à leitura entre jovens precisa avançar

A cuiabana Mariah tem 15 anos de idade e lê de 60 a 80 livros por ano, sendo 30% no formato impresso e 70% no formato digital. A obra que leu recentemente no livro tradicional foi “Moxie: quando as garotas vão à luta”, ficção juvenil de Jennifer Mathieu, e como e-book foi “Mulherzinhas”, romance de Louisa May Alcott. Mariah gosta de ler ficção histórica, literatura contemporânea e distopias.

Estudante do ensino privado desde a pré-escola, Mariah, agora aluna do primeiro ano do segundo grau, é privilegiada por um ambiente escolar qualificado que a estimula para a leitura e, em casa, por sua mãe, que a incentiva a buscar os livros. Ela diz que os professores de literatura gostam dos alunos que leem bastante, motivam a leitura, mas reconhece que muitos dos seus amigos “nunca leram nem um livro”.

Na realidade, Mariah é uma exceção no conjunto de leitores jovens no Brasil. O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa/2022) – estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que avalia o conhecimento e as habilidades dos estudantes na faixa etária de 15 anos em matemática, leitura e ciências – divulgou novos resultados em dezembro passado mostrando a performance brasileira.

Em leitura especificamente, esses dados recentes apontaram que o Brasil teve o desempenho médio de 410 pontos, estatisticamente inferior à média do Chile (448) e Uruguai (430), mas superior à da Argentina (401). Ao todo, 81 países foram avaliados pelo PISA. Dos estudantes brasileiros, 50% tiveram baixo desempenho na leitura (abaixo do nível 2). Apenas 2% dos brasileiros atingiram alto desempenho (nível 5 ou superior). Cerca de 73% dos participantes eram da rede estadual.

De seu lado, nossa jovem leitora exemplar Mariah adianta que não tem preferência de leitura entre livros impressos e digitais, gosta dos dois tipos. Para Maria Teresa Carracedo, da Entrelinhas Editora, os jovens das regiões urbanizadas de Mato Grosso poderiam ler muitos livros, tal qual Mariah, se houvesse incentivo para isso. Conforme apontou, atualmente os adolescentes leem pouco nos livros e muito em celulares.

No entendimento de Maria Teresa, não há problema nessa escolha. Ela lembra que o livro digital convive atualmente muito bem com o livro impresso e ocupa nichos específicos. Maria Teresa destaca, entretanto, ao comentar os dois formatos, que a obra impressa traz uma experiência única ao leitor, daí o seu predomínio. “Em toda a Europa e Américas, incluindo o Brasil, predomina amplamente o livro físico dos diversos gêneros literários e ilustrados, assim como os infantojuvenis e livros de arte”, acrescenta.

Da parte da Entrelinhas, editora genuinamente mato-grossense, nascida e estruturada em Cuiabá, Maria Teresa disse que a atuação da empresa se dá em diversas frentes para formação de leitores jovens de livros. Uma delas é “a identificação de autores e obras de conteúdo mato-grossense importante para compartilhar não só com os que aqui vivem, mas com os brasileiros e leitores dos demais países”. A partir disso, a editora constrói um “catálogo necessário, interessante e diversificado”, explica.

Depois, a luta é para que a sociedade tenha acesso a esses autores e obras. Nesse sentido, Maria Teresa diz que a Entrelinhas defende que os sistemas públicos de ensino adquiram os livros para as bibliotecas municipais, comunitárias e escolares, de forma a dar acesso a estudantes, professores e demais leitores àquilo que têm direito: “conhecer sua história, geografia, literatura, arte, cultura, de forma a compreender suas potencialidades e fragilidades, valorizar aquilo que o particulariza como mato-grossense”.

Desse modo, ela advoga a implementação da lei que instituiu o Plano Estadual do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas de Mato Grosso, construído por um grande grupo em 11 anos de discussão, oficializado em junho de 2022, mas até agora sem implementação. O Plano estabelece uma política para o Livro em Mato Grosso, com diretrizes e normas para a aplicação dos recursos públicos, garantindo que 30% do acervo das bibliotecas públicas e escolares sejam de autores mato-grossenses.

Para Maria Teresa, o apoio dos professores e a disponibilização de livros em bibliotecas públicas modernizadas e acolhedoras “alcançam o efeito transformador de realidades, ampliando os horizontes junto aos jovens, instigando perguntas e dúvidas existenciais de forma permanente, como deve ser a nossa jornada evolutiva”. São experiências de maior abrangência e profundidade, “em contraposição ao que vemos nas mídias sociais e na internet”, completa.

A editora reforça que o hábito da leitura começa dentro de casa, “quando os pais promovem o contato com o livro e mostram-se como exemplo para as crianças e jovens”. A leitora Mariah é um modelo dessa formação, portanto, aplausos para ela e seus pais.

O catálogo da Entrelinhas Editora logo, logo trará a obra Além Tordesilhas…, do poeta e escritor Ivens Cuiabano Scaff, trilogia em final de edição. É uma ficção histórica para jovens, que narra as incríveis aventuras de três meninos nas monções do século XVIII. Trata-se de um trabalho de fina elaboração, que demandou muita pesquisa por parte do autor.

Aproveite a novidade e, se seus filhos, netos e sobrinhos não têm o hábito de ler, incentive-os com a leitura qualificada da trilogia de Ivens. Não há tempo a perder!

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