COLUNA

Margareth Botelho

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Escreve sobre atualidades, cotidiano, sentimentos e pessoas.

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Madonna e a liberdade de expressão 

Foto: Prefeitura do Rio

Libertário, polêmico e histórico, o show da cantora Madonna reuniu 1,6 milhão de pessoas no Rio de Janeiro e gerou debates acirrados sobre o futuro do Brasil, com destaque para questões políticas, sociais e culturais. A resposta imediata da noite de sábado (4/5) foi dividir o noticiário do país entre o espetáculo da popstar e a tragédia vivida no Rio Grande do Sul, atingido por enchentes que vêm deixando número significativo de mortos, feridos e desabrigados.

A denunciada acidez nos textos de posts nas redes sociais reacendeu a discussão sobre mudanças no artigo 5 da Constituição, que trata da liberdade de expressão. Militantes e simpatizantes dos ideais de esquerda, centro e direita utilizaram todas as ferramentas possíveis para marcar posição e fazer críticas, que parte dos supostamente atingidos consideraram ofensivas enquanto outros qualificaram como revolucionárias.

O movimento LGBTQIA+ foi ao mesmo tempo o mais atacado e o mais defendido. A comunidade reúne pessoas de diferentes orientações sexuais e identidades de gênero, defendendo a luta pelos direitos civis e o combate à homofobia. Sobre política, o tempo esquentou novamente para o atual presidente Lula e para o antecessor dele. Na noite de domingo, montagens e charges de humor davam o recorde de postagens a Bolsonaro.

Mas se a pauta da liberdade de expressão, em 2024, era considerada tanto pela população quanto por congressistas como de alta prioridade para a democracia, depois de Madonna o status pode mudar. A urgência da discussão avançou.Atualmente, existem alguns projetos em tramitação no Congresso Nacional que abordam a liberdade de expressão. Dois deles são apontados como mais relevantes. O de número 2023/2023, do deputado federal Kim Kataguiri (União/SP) e o 2021/2021, da deputada federal Adriana Ventura e outros.

Kataguiri propõe a livre manifestação do pensamento, proíbe o anonimato, mas permite o uso de pseudônimos. E sugere, entre outras medidas, moderação em redes sociais, garantindo que a exclusão de conteúdo não ocorra apenas por manifestações de pensamento ou críticas. Já Adriana Ventura pretende ampliar e promover o direito de liberdade de expressão em relação à administração pública e agentes públicos.

No contexto de inúmeras mudanças, o que ganhou destaque após o show de Madonna chega bem perto do que foi a censura no governo militar, onde tudo obrigatoriamente passava por mãos rigorosas de agentes públicos. Pasmem! Existem ainda no Congresso parlamentares que, na moita, desejam a volta da censura bem maquiada e esbanjando simpatia. Outros analisam que a liberdade de expressão precisa ser absoluta, prevalecendo a lei em casos de exageros. Há ponderação de um outro grupo que considera difícil alcançar a liberdade total. O impasse se daria pelo choque entre os valores que a sociedade organizada defende e que às vezes são divergentes até no âmbito familiar.

Se a eletrizante Madonna turbinou essa discussão foi mera coincidência. Ao que parece, o show regado a danças erotizadas e insinuações sexuais transmitido na íntegra por tevê aberta não tinha a intenção, mas “causou”.

A diva reinou plena por um palco enorme jamais visto em Copacabana. O público totalmente seduzido foi à loucura com a cantora e não importou muito as diferenças de idade, profissão, religião, cor e raça, classe social e de orientação sexual ou de gênero. No embalo de uma Madonna ativista, Lula foi homenageado junto a Marielle, Zumbi dos Palmares, o rapper Mano Brown, Pelé, Marina Silva e Gilberto Gil.

E agora, entre felizes e infelizes e sem a cantora, fica a pergunta: se Madonna reuniu 1,6 milhão de pessoas em Copacabana, que multidão ela levaria à Brasília em defesa da liberdade de expressão? Congressistas sem dúvida não resistiriam a tamanha e desconcertante pressão. Então, volte Madonna. É o Brasil implorando.

 

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