COLUNA

Sônia Zaramella

soniaz@ehfonte.com.br

Relatos e fatos, pessoais ou não, do passado e do presente de Cuiabá e de Mato Grosso.

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Sonhos não envelhecem

Na cidade de São Paulo, no final dos anos 1960, Osmar, Toni, Flávio, Mateus, Cássio e Mazurek formaram um conjunto musical inicialmente chamado Os Marcantes, depois batizado de Opus Red. Cinquenta anos após os ‘anos de ouro’ do Opus Red, seus integrantes voltaram agora a se reunir para tocar e se divertir em estúdios de música paulistas, retomando as façanhas do passado. De seu lado, nos anos 1980, Adelma Vargas se formou em administração e iniciou sua carreira, em Cuiabá, como funcionária pública, na área de administração hospitalar. Desligada da área da saúde e de cursos de ioga, Adelma, há três anos, retornou à escola e cursa o terceiro ano de Jornalismo, realizando um sonho de adolescente.

Tanto para os componentes do Opus Red quanto para Adelma, a palavra etarismo, muito em voga nos tempos atuais, passa longe, não é percebida nem os atrapalha nesta altura da vida em que eles recuperam proezas antigas e ela realiza uma aspiração que ficou um longo tempo adormecida. Impactando pessoas mais velhas em maior ou menor grau, “o etarismo é uma forma de discriminação em várias áreas da vida, podendo ocorrer no mercado de trabalho, na educação, no acesso à saúde, na política e na vida social em geral”, segundo o professor e biólogo Herbert Santo de Lima. Ele acrescentou que “isso muitas vezes impede as pessoas mais velhas de perseguir seus sonhos e metas pessoais”.

Mesmo o etarismo sendo muito presente na atualidade, tal preconceito não afetou os integrantes do ex-conjunto Opus Red, agora banda Opus Red (para acompanhar a nomenclatura moderna), nem a futura jornalista Adelma. Ainda bem! Conforme contou o publicitário Osmar Soares, os componentes da banda estão todos na faixa dos 70+ no tempo presente. Com Osmar morando em Cuiabá, é ele que se desloca até São Paulo, de dois em dois meses, para se reunir com a banda em estúdios de música, “onde passamos tardes maravilhosas, tocando e relembrando as músicas do nosso tempo e os causos que vivemos”. Proprietário da Época Propaganda, Osmar, que mora na capital mato-grossense há mais de 40 anos, revive a Opus Red com alegria.

Ele lembrou que o conjunto surgiu no Ginásio Quinze de Outubro, onde estudava junto com Mateus Serroni, seu vizinho de vila em São Paulo. No começo, os violões eram utilizados nas reuniões musicais porque “guitarra, contrabaixo e demais instrumentos, nos anos 1960, custavam uma verdadeira fortuna”, recorda. Pouco a pouco foram se juntando ao sonho de formar o conjunto de Osmar Soares (guitarrista) e Mateus Serroni (baixista), os demais membros: Flávio Peter (crooner), Francisco Mazurek (baterista) e Cássio Antônio Inojosa (guitarrista solo). O Toni (tecladista) chegou por último, mas faz parte da banda até hoje. Com equipamentos básicos e de segunda mão, o conjunto iniciou a fase de apresentações em clubes e a tocar em bailes.

O guitarrista Cássio recordou que os membros do conjunto vivenciaram “uma época mágica, de mudanças culturais, principalmente na música”. Ele mencionou os Beatles, Rolling Stones, o Tropicalismo, os Festivais da Canção, a Jovem Guarda, com Roberto, Wanderléa e Erasmo, além dos cantores dos programas da TV Record. Lembrou os “sensacionais” bailes de formatura e das casas dos amigos, onde tocavam, e realçou a moda da calça boca de sino e do cabelo comprido para os homens. “Reencontrar os amigos 50 anos depois que construímos nossas vidas, casamos e tivemos filhos”, foi, segundo Cássio, “um momento inesquecível”.

O baterista Mazurek destacou que “juntar o pessoal do conjunto foi uma felicidade”. Por dois dias, no final do ano passado, segundo contou, “tocamos no estúdio, brincamos e nos divertimos”. O único fato a lamentar, observou, é não poderem realizar encontros mais frequentes, “porque Osmar está morando longe de nós”.

Cássio reforça que recomeçar a banda foi um privilégio. Ele realçou que a Opus Red significa “amizade, companheirismo, aceitação, compreensão, uma ligação que o tempo não afetou mesmo após 50 anos”. Para ele, esse é o conceito da “verdadeira amizade”. O conjunto se desfez quando seus integrantes tiveram que ingressar no ensino superior, cada um seguindo com as escolhas de trabalho.

Por sua vez, Adelma, que veio do Paraná com seus pais para Cuiabá aos nove anos de idade, teve seu sonho de ser jornalista postergado por pelo menos duas ocasiões. A primeira, no vestibular, foi aprovada para Administração e não para Jornalismo, que era sua primeira opção. Graduada, seguiu carreira na área de administração hospitalar, por muitos anos, na secretaria de Saúde de Mato Grosso. A segunda foi a transição da área da saúde para a formação em yoga, o que acabou sendo seu trabalho e fonte de renda na Austrália, para onde se mudou com o marido e o filho. De volta ao Brasil, Adelma, depois de passar por um drama familiar, percebeu que seu sonho ainda estava vivo e, como motivação para dar novo sentido à vida, decidiu resgatar seu antigo objetivo, que era cursar Jornalismo.

Atualmente, Adelma, com 55 anos de idade, reside no interior de São Paulo e só estuda, faz o terceiro ano da faculdade on-line. Ela disse que “aquele sonho que alimentava aos 17 anos de idade de ser “uma jornalista internacional, uma grande correspondente, de conhecer novos mundos”, não tem mais. Todavia, acredita que o Jornalismo propiciará a ela, agora, as ferramentas que precisa para escrever, que é uma das suas paixões. “A maturidade, a experiência de vida, vai me ajudar a praticar um jornalismo responsável”. Quanto ao fato de tornar concreto um desejo antigo, Adelma comemora, afirmando que “não importa a idade, os estigmas nós vamos quebrando”.

É isso! Individualmente ou em grupo, o tempo e o sonho estão aí para serem conquistados. Abaixo o etarismo!

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