160 anos do nascimento de Rondon passa despercebido
É importante e necessário, de tempos em tempos, relembrar os feitos, as contribuições, enfim, o legado do patrono das Comunicações, Cândido Mariano da Silva Rondon, para Mato Grosso e para o país. Nascido em 1865 em Mimoso, distrito de Santo Antônio de Leverger, município localizado a 27 quilômetros de Cuiabá, o mato-grossense descendente de índios bororos e terenas Marechal Rondon faria 160 anos nesta segunda-feira que passou, 5 de maio.
Todavia, nenhum ato em homenagem ao mais ilustre mato-grossense, um dos brasileiros mais reconhecidos mundialmente, foi realizado pelo governo do estado, prefeitura municipal ou Assembleia Legislativa. Por trabalhos de comunicação, exploração e defesa das populações indígenas, Rondon foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 1953 e 1957.
Em Cuiabá, apenas a Sociedade de Amigos do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon lembrou de homenageá-lo. Na segunda-feira, a entidade realizou a tradicional oferta de flores diante do busto da figura histórica brasileira, erguido na praça Alencastro. Segundo o professor doutor Fernando Tadeu de Miranda Borges, membro da Sociedade, “foi uma cerimônia linda, singela e simples como Rondon”.
No Brasil, o Dia das Comunicações é comemorado no dia 5 de maio em homenagem a Rondon. Ele foi responsável pela criação de linhas telegráficas que integraram as regiões Centro Oeste e Norte ao Sudeste do país. Rondon viveu na época em que o principal meio de comunicação a distância era o telégrafo elétrico, inventado por Samuel Morse e instalado no Brasil em 1852. Para que funcionasse, postes e fios tinham que ser instalados por milhares de quilômetros.
Em Mato Grosso, Rondon foi o responsável pelo estabelecimento das ligações telegráficas no interior do estado, erguendo, entre os anos de 1900 a 1906, 17 estações telegráficas. Desse ano até 1915, as excursões da Comissão de Linhas Telegráficas e Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas, conhecidas como Comissão Rondon, foram responsáveis pela instalação de 4.502 quilômetros de linhas telegráficas, com 55 estações.
A introdução dos recursos de telegrafia promovida por Cândido Rondon, inicialmente, e mais tarde, das telecomunicações, ainda na primeira metade do século XX, proporcionou o início da integração da sociedade mato-grossense internamente e com outros centros do Brasil. A combinação desse recurso com a implantação da ligação rodoviária do estado com as principais capitais do país, além da regularização do transporte aeroviário, aproximou ainda mais a região e a sua população dos grandes centros do país, estabelecendo um fluxo de informações de maneira menos precária e mais rápida.
Ao lado dos serviços telegráficos, a expedição Rondon realizava estudos científicos de reconhecimento do território. Tais pesquisas eram realizadas por botânicos, médicos, engenheiros, desenhistas, fotógrafos e topógrafos, entre outros especialistas. Militar, naturalista e responsável pela demarcação de limites internacionais, Rondon, um defensor dos direitos indígenas, idealizou o Parque Nacional do Xingu.
Há dez anos, quando se completaram 150 anos de nascimento de Rondon, o governo de Mato Grosso inaugurou o Memorial Marechal Rondon, com cinco mil metros quadrados e referências à sustentabilidade e à cultura indígena. Localizado em Mimoso, distrito onde Rondon nasceu, a estrutura do memorial foi construída sobre uma palafita e tem formato circular numa referência às ocas, tradicionais habitações indígenas.
Na atualidade, o Memorial encontra-se em reforma. Está fechado à visitação pública desde maio de 2023. Segundo a Secretaria de Infraestrutura e Logística (Sinfra), o resultado da licitação da obra saiu em agosto de 2024, no valor de cerca de R$ 4,4 milhões. Esse recurso é uma emenda do senador Wellington Fagundes (PL) de R$ 4,785 milhões (ainda não liberada). A contrapartida do governo estadual é de R$ 237,458 mil, informou a Secretaria Adjunta de Turismo. O prazo para conclusão é setembro deste ano.
No Brasil, Rondon empresta seu nome a rodovias, ruas, museus, cidades e a um estado, Rondônia, além do Aeroporto Internacional em Várzea Grande (cidade vizinha a Cuiabá), em Mato Grosso. Nos últimos tempos, numa perspectiva nacional, talvez o lançamento da biografia de Rondon tenha sido uma das demonstrações importantes a respeito do mato-grossense. A obra biográfica foi escrita pelo jornalista norte-americano Larry Rother (ex-correspondente do jornal New York Times no Brasil), em 2019.
Rondon tem uma memória rica a ser mantida e que atrai a curiosidade de brasileiros e de pesquisadores do mundo.
O que nos obriga a lamentar o despreparo cultural dos atuais agentes públicos mato-grossenses, incapazes de promover um ato sequer, no dia de nascimento de Rondon, em reverência ao seu papel na história e de fortalecimento do seu vínculo com a sociedade local.
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