COLUNA

Regina Alvarez

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O mercado tem partido

Foto: Freepik

O clima na economia nos últimos dias anda tenso, mas não é por falta de notícias boas. Na segunda-feira (03.12), o IBGE divulgou o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre. O crescimento foi de 0,9% em relação ao trimestre anterior, igual ao da China no período. 

Entre os países do G20 – grupo que reúne as maiores economias do mundo – o desempenho da economia brasileira mostrou-se melhor que o do PIB dos Estados Unidos e da França e só ficou atrás de Indonésia e México. 

O crescimento do PIB brasileiro superou as expectativas dos analistas e as projeções para o ano devem ser revistas para além de 3,3%. A taxa de desemprego está em 6,2%, o menor patamar já registrado na série histórica, e o percentual pode cair ainda mais em dezembro com as contratações temporárias de final de ano, como já mencionei neste espaço.

Mas as boas notícias não param por aí. Nesta quarta-feira (04.12), ficamos sabendo que, em 2023, a pobreza e a extrema pobreza no Brasil caíram aos menores índices da série histórica do IBGE, iniciada em 2012. A miséria caiu para 4,4%, equivalente a 9,5 milhões de pessoas, ficando abaixo de 5% pela primeira vez. 

A expansão dos programas sociais, em especial o Bolsa Família, ajudou a reduzir a miséria, de 5,9% para 4,4% entre 2022 e 2023. Em um ano, 3,1 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema. 

Além disso, 8,7 milhões de brasileiros deixaram a condição de pobreza, reduzindo esse contingente para 59 milhões de pessoas, o menor número registrado em mais de uma década.

Alguém duvida que todas essas notícias são benéficas para a maioria ou uma grande parcela da população? Mas não é isso que importa ao mercado financeiro. 

Na mesma semana que tivemos essas sinalizações positivas, o mercado teve reações completamente opostas. Reagiu fortemente ao pacote de cortes anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Acho pouco o corte de R$ 70 bilhões nas despesas em dois anos e ficou particularmente enfurecido com o anúncio de que em 2025 o governo encaminhará ao Congresso proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. 

O ministro da Fazenda explicou que a medida não terá impacto nas contas públicas, já que será compensada com outra proposta, a taxação dos super-ricos.  A ideia é taxar com uma alíquota de 10% os contribuintes com renda anual superior a R$ 1 milhão. Mas o mercado se manteve nervoso e o dólar superou a marca dos R$ 6.

O que explica tamanha desconfiança e descrédito em relação ao governo e a política econômica? Pois a última pesquisa Genial/Quaest, publicada nesta quarta-feira (4),  traz algumas respostas para essa pergunta. 

A pesquisa ouviu economistas de 105 fundos de investimento em São Paulo e no Rio de Janeiro, entre 29 de novembro e 3 de dezembro.

A avaliação negativa do mercado financeiro sobre o terceiro mandato de Lula é de 90%. Apenas 3% dos agentes econômicos avaliam como positiva a gestão do petista. Outros 7% dizem que a atuação é regular.

Mas o que mais chama a atenção são as previsões desses economistas para o cenário político em 2026. Em um cenário hipotético em que Lula e Jair Bolsonaro estivessem na disputa do segundo turno, 80% apostam na vitória de Bolsonaro enquanto apenas 12% acreditam que Lula seria o vitorioso. 

Com essas previsões fica fácil concluir que o mercado tem partido e muitas de suas reações têm a ver com esse fato. 

*Os textos das colunas e dos artigos são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do eh fonte.

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