ALMT quer recontar a história de Filinto Müller e paga R$ 220 mil por livros
· A Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) pagou, em janeiro de 2025, R$ 120 mil pela reedição de mil exemplares do livro intitulado Filinto Müller “A verdade por trás da mentira”. Ex-senador mato-grossense, Müller tem trajetória política marcada pelo comando da repressão na Era Vargas. Em outubro de 2023, após o lançamento da obra, a Assembleia comprou a mesma quantidade de exemplares, mas por R$ 100 mil. Houve um reajuste de 20% em 15 meses, praticamente três vezes mais que a inflação no período.
· O livro foi escrito a pedido do deputado Júlio Campos (União). Patrocinado pela ALMT, Instituto Memória da ALMT, Fundação Júlio Campos e publicado pela editora Memória Brasileira, do município de Santo Antônio de Leverger
· A despeito do valor da obra, a reedição pode ser questionável pelo uso de dinheiro público, visto que seu propósito é melhorar a imagem de uma figura histórica controversa. Para o deputado Júlio Campos, no entanto, não há nada de errado. “A Assembleia patrocina muitos livros. Toda semana tem uma escola visitando a Casa e distribuímos livros para os alunos”, argumentou. Parte dos exemplares, segundo ele, é entregue aos parlamentares da Casa.
· Campos também justificou uma “grande procura pela obra”, incluindo pedidos de bibliotecas públicas e da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul. “Como não há mais exemplares, pedimos a reedição para atender essa demanda. Vamos ter que enviar uns 400 livros para os deputados de Mato Grosso do Sul”, afirmou.
· O deputado estadual Wilson Santos (PSD), professor de história, disse que não leu o livro, mas conta que divergiu do autor no lançamento, em julho de 2023. Para o deputado, Filinto não é um herói. Já em relação à obra, o gabinete não recebeu exemplares. “A história é de interpretações. Cada um ouve, lê e tem a sua verdade. Não estamos aqui para convencer os convictos. Filinto é uma figura polêmica. Morreu assim e será sempre assim”, declarou.
· O livro, com 223 páginas, destaca que David Nasser, autor de “Falta Alguém em Nuremberg – Torturas da Polícia de Filinto de 1947”, foi contratado para difamar Müller. Busca demonstrar que as acusações eram infundadas, classificando-as como “fake news”, embora o autor João Carlos Vicente Ferreira afirme que “a obra não é encomendada”.Também pouco menciona sobre histórias do mato-grossense em sua terra natal.
· Filinto foi chefe da Polícia na então capital do país, Rio de Janeiro, durante a maior parte da ditadura do Estado Novo. Nesse sentido, ele é apontado como responsável pelas arbitrariedades e excessos então cometidos contra os direitos humanos dos adversários daquele regime. “Só não me conformo com a tendência da maioria dos historiadores e analistas políticos esquerdistas a ‘aliviar a barra’ do ditador Getúlio Vargas”, diz Paulo Kramer, que é analista político e professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB).
· O mato-grossense apoiou o regime autoritário implantado pelo movimento político-militar de 1964, presidiu a Arena (partido pró-regime) e o Senado Federal. É lembrado, entre outros episódios, por ter ordenado a deportação de Olga Benário, militante comunista e esposa de Luís Carlos Prestes, para a Alemanha nazista, onde foi assassinada em um campo de concentração.
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