Com rompimento do BRT por um triz, Mauro Mendes enfrenta desgaste
O atraso nas obras do BRT de Cuiabá (Ônibus de Trânsito Rápido) impacta diretamente a popularidade do governador Mauro Mendes, pré-candidato ao Senado em 2026. Diante disso, governo e Consórcio Construtor trocam acusações enquanto buscam uma solução para o impasse. O rompimento é iminente.
Foi Mauro Mendes quem determinou, no final de 2020, a substituição do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) pelo BRT. A população de Cuiabá e Várzea Grande sonhava com um transporte moderno, mas viu, no ano passado, os trens do VLT abandonados serem enviados para a Bahia. Em breve, veremos imagens deles transportando passageiros em Salvador – talvez até antes dos ônibus circularem em Cuiabá e Várzea Grande.
Quinze dias após o embate público entre Mauro Mendes e o Consórcio Construtor, o governo ainda não divulgou um novo cronograma para as obras. Especialistas avaliam que dificilmente o BRT será entregue até o fim do mandato de Mendes. Culpa de quem? Sem um cronograma definido e com a imagem arranhada após o consórcio culpar publicamente a Secretaria de Infraestrutura (Sinfra) pelos atrasos, o secretário Marcelo Oliveira passou a reagir indo a público criticar as empresas. Mauro Mendes já admite um rompimento com o consórcio.
Qualquer um que passa pela avenida do CPA nota que os funcionários sumiram. “Vai ser mais um elefante branco na nossa cidade. Já faz uns 15 dias que não mexem mais na obra. Quase não se vê funcionários trabalhando”, disse à coluna Antônio Pereira, motorista de Uber que transita diariamente pela avenida. As empresas Nova Engevix Engenharia e Heleno & Fonseca Construtécnica S.A. negaram qualquer problema relacionado a salários dos trabalhadores e culparam o período chuvoso do mês de janeiro pela diminuição no ritmo dos trabalhos.
No valor inicial da licitação de R$ 468 milhões, vencida pelo consórcio, estão previstas 46 estações, um terminal na região do Coxipó e outro no CPA. O projeto também inclui um viaduto para o BRT na rotatória das avenidas Fernando Corrêa da Costa e Beira Rio, uma nova ponte sobre o Rio Coxipó, a requalificação do Largo do Rosário e diversas adequações no trânsito. Ou seja, há muito a ser feito. Mas será o benedito?! A expressão, usada recentemente pela colunista Sônia Zaramella para descrever o imbróglio, resume bem a perplexidade em torno da situação hoje.
Quem sempre reclamou que o BRT não tinha um projeto adequado é o ex-prefeito Emanuel Pinheiro, rival de Mendes, que classifica a situação como “uma tragédia anunciada”. Aliás, a briga entre os dois é um dos pontos citados pelo Consórcio Construtor por todo atraso. Outra questão foram os problemas do projeto inicial apresentado pela Houer Consultoria e Concessões, de Belo Horizonte, empresa prestadora de serviço da Sinfra, que também atuou no VLT.
A Assembleia Legislativa realizará uma audiência pública, dia 13 de fevereiro, convocada pelo deputado Lúdio Cabral (PT) para debater a situação do BRT. A região da Prainha, por exemplo, sofre com alagamentos frequentes, o que pode comprometer a operação dos ônibus elétricos, que não circulam em vias com lâmina d’água. As empresas contratadas ainda precisam dar muitas explicações, pois, ao que tudo indica, o governo não pretende assumir erros – até agora, só tem atacado.
As negociações seguem em andamento e a saída do Consórcio Construtor BRT da obra é uma possibilidade concreta. No entanto, o desgaste já é irreversível. Interlocutores próximos ao processo afirmam que, se o contrato for rescindido pelo Executivo, a obra será judicializada, resultando em multas milionárias. Para o consórcio, o valor contratado se tornou inviável, mas sua reputação também está em jogo. Para ambos, buscar uma saída amigável é o melhor caminho.
No fim, a história se repete: projetos problemáticos, embates políticos e, no final, a conta sobra para a população. Desta vez, além do prejuízo, o que está em jogo é a imagem de Mauro Mendes para as próximas eleições. O próprio governador admitiu que “não sabe” se conseguirá entregar o BRT antes do fim de seu mandato, ampliando as incertezas sobre o futuro da obra.
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