COLUNA

Sônia Zaramella

soniaz@ehfonte.com.br

Relatos e fatos, pessoais ou não, do passado e do presente de Cuiabá e de Mato Grosso.

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Digital aos 60+ em Mato Grosso, ‘pero no mucho’

Os números do acesso à internet, à televisão e posse de telefone móvel celular para uso pessoal no Brasil, conforme a PNAD Contínua do IBGE, mostram que Mato Grosso está bem posicionado no campo das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) na comparação com o país. Divulgada agora em novembro, a pesquisa é detalhada e alguns de seus dados chamam atenção pela novidade, como é o caso do avanço acelerado do uso da internet pelo grupo dos idosos (pessoas com 60 anos de idade ou mais), no qual estou incluída. Isso me deixou ansiosa, mais à frente conto por quê.

Precisamente em Mato Grosso, nos seus quase 1,2 milhão de domicílios, a pesquisa apontou que a Internet é presente em 93,5% deles em 2022, contra 92,3% de 2021, ou seja, a rede segue avançando no estado numa média superior a do Brasil, que foi 91,5%  ano passado, correspondendo a 68,9 milhões de domicílios, contra 90% em 2021. No caso do celular, a pesquisa registra o telefone móvel em 98,4% dos domicílios mato-grossenses em 2022, contra 93,1% em 2016. Esses percentuais também se apresentam acima da média Brasil, que foram 96,6% em 2022 e 93,1% em 2016.

Já a proporção de pessoas com 10 anos ou mais de idade que utilizaram a Internet no período de referência dos últimos três meses, por grupo de idade, no país, passou de 84,7% em 2021 para 87,2% em 2022. Mesmo que venha crescendo em todos os grupos, o aumento mais significativo do uso da Internet foi apontado entre os idosos. O percentual de pessoas com 60 anos ou mais que utilizam a Internet, no país, subiu de 24,7% em 2016 para 62,1% em 2022.  Segundo o IBGE, esse aumento pode ter sido propiciado, entre outros fatores, pela evolução nas facilidades para o uso dessa tecnologia e na sua disseminação no cotidiano da sociedade.

Também em Mato Grosso o grupo de idosos utilizando a Internet tem crescido bastante. No estado, o percentual de mato-grossenses com 60 anos ou mais que usam a rede passou de 19,6% em 2016 para 64,7% em 2022. Isso significa 267 mil idosos no estado, em 2022, fazendo uso da internet, contra 68 mil em 2016. De modo geral, a partir dos resultados da pesquisa, pode-se estimar que o uso das tecnologias no grupo das pessoas com 60 anos ou mais se consolida a passos mais largos do que poderíamos imaginar, repercutindo nos nossos costumes de até bem pouco tempo atrás.

De um lado, as vantagens para o idoso usar a internet são imensas – acesso à informação, entretenimento, comodidade, compras, correio eletrônico e comunicação com a família são algumas delas. De outro lado, as desvantagens existem também e as que se apresentam são, entre outras, as perdas do contato social e presencial, isolamento, excesso de informações e os crimes virtuais. O bom senso, portanto, para equacionar os benefícios e os problemas que a rede propicia é o guia ideal para todos, não somente para os com 60 anos ou mais.

Antes de usá-la com tal ponderação, todavia, o idoso precisa saber lidar com a internet ou com o celular. Nesse sentido, a PNAD Contínua apontou que para 66,1% dos idosos que não utilizaram a Internet, essa foi a principal causa. Levando em conta, então, as vantagens e desvantagens e os benefícios e problemas, retorno à afirmação de que esse avanço das tecnologias me deixa inquieta, principalmente por causa dos transtornos que trazem aos meus hábitos e aos de parcela da minha geração também.

Minha casa está entre os apenas 5,7% dos domicílios nos quais o telefone convencional funciona lado a lado com o móvel celular. Recorro ao fixo para resolver problemas, pois prefiro a relação pessoal ao atendimento eletrônico por robô. Mesmo que na chamada de fixo para fixo surja uma máquina me atendendo, vou digitando as incontáveis opções sugeridas até surgir uma voz humana lá no final dizendo um ‘pois não’, ou um ‘bom dia’, ou ‘como podemos atender?’, aquelas cordialidades frequentes de antes.

Mas agora, para qualquer atendimento, tem confusão. Liguei do meu fixo para o fixo do consultório médico para marcar um horário, chamou e ninguém atendeu. Tentei de novo, nada. Vou para a internet, descubro o celular do local. Ligo, já usando o celular, mas também não dá certo. Desligo e, segundos depois, recebo pelo WhatsApp, uma mensagem – ‘olá, posso ajudar, ligação pelo Whats não funciona’. Como assim, atendem só com mensagens por escrito? Fiquei pensando nos meus contemporâneos com problemas de visão e com dificuldades de digitação e escrita.

Entendo que é um caminho sem volta. Mas, de minha parte, sigo reagindo negativamente às mensagens dos robôs tipo essas: ‘aguarde, você é o 15° da fila’; ‘você pode acessar essa informação pelo aplicativo tal’; ‘entrar só com biometria’; ‘faça seu cadastro digital’; ‘acesso somente com reconhecimento facial’ etc. Tem aqueles atendimentos demorados e, em meio daquela impaciência, a voz informa que foi encaminhada uma senha no seu e-mail sem a qual não será possível realizar o serviço. Imaginaram o idoso se virando com os teclados e com a internet para levar adiante o atendimento que precisa?

“Devagar com o andor porque o santo é de barro” ensina o ditado popular quando queremos dizer que alguém ou alguma coisa vai além do razoável. O uso da internet, bem como do celular e suas múltiplas funções, ganha complexidade a cada dia que passa. Aos 60 anos de idade ou mais somos um pouco, mas não muito tecnológicos. Daí que, na realidade presente, nós, os idosos, ou parte deles, estamos em transição, ouvindo muitas ‘musiquinhas e propagandas’ nas ligações e rezando para não caírem até alguém, do outro lado, nos dar um alô como antigamente. Informação, que é a nossa prioridade, só mesmo abrindo os aplicativos. Ou não? Socorro!!!

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