COLUNA

Sônia Zaramella

soniaz@ehfonte.com.br

Relatos e fatos, pessoais ou não, do passado e do presente de Cuiabá e de Mato Grosso.

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Faz diferença envelhecer entre amigos de várias gerações

Foto: Freepik

 

Neste domingo último festejei os 90 anos da amiga Lourdes. Em dezembro passado, comemorei os 80 anos da amiga Ana. Não as enxergo como senhora, ou dona, chamo de você mesmo.

Essa forma de tratamento, que revela intimidade com a pessoa, soa natural talvez porque eu esteja, aos 71 anos, caminhando para um tempo vivido igual ao delas. Mas também porque nossa convivência é pontuada por ocasiões alegres e conversas interessantes.

Se, de um lado, me relaciono com amigos da mesma faixa etária, ou mais, de outro estou rodeada de amigos pertencentes a gerações jovens (17, 20 anos) e dos 30+, 40+, 50+, 60+.

Ter fortes relações sociais, ou, em outras palavras, ter amigos em abundância é um dos pontos que a pessoa deve atentar para garantir um envelhecimento ativo, segundo o geriatra Alexandre Kalache.

Ele considera que esse ‘capital social’ é importante também para cuidar de nós à medida que a idade avança. Mas alerta: não seja um adulto ranzinza, pois isso afasta as pessoas. De fato!

Ultrapassar uma idade já madura exige, além de saúde física e emocional, um bem-sucedido ‘jogo de cintura’ perante a série de experiências positivas e negativas da vida pessoal de cada um. Assim, evite ficar rabugento.

Nestes tempos atuais, a expectativa de vida aumentou por causa dos avanços na medicina, da melhoria das condições de vida e hábitos saudáveis, entre outras razões. A tecnologia também ajuda.

Porém, para uma vida duradoura, é preciso ainda um ‘plus’, como sugere o jornalista e escritor Nei Duclós. Ele elaborou uma “agenda” para se ter uma vida longa, constituída de 18 itens. Desses, me identifiquei com quatro.

O primeiro é “não aderir a movimentos” – na era digital, a maturidade ensina que se fuja deles, sejam de qualquer natureza. O segundo é “não participar de grupos de Terceira Idade” – prefiro ficar com meu círculo de amizade.

O terceiro é “não catequizar ninguém” – ou seja, em toda circunstância deixe as pessoas seguirem com suas escolhas. E o quarto item é “não achar que tem sabedoria por ter vivido muito” – posto que o conhecimento é diário e infinito.

Pelo sim, pelo não, a reflexão sobre envelhecer bem também nos obriga a revisitar a crônica “Eu sei, mas não devia”, publicada pela autora Marina Colasanti em 1972, mas que nos conquista até os tempos atuais. A escritora morreu no último dia 28 de janeiro, aos 87 anos, no Rio de Janeiro.

Na crônica, Colasanti nos lembra como “muitas vezes deixamos as nossas vidas se esvaziarem acomodados numa rotina repetitiva e estéril que não nos permite admirar a beleza que está a nossa volta”, conforme análise da Doutora em Estudos da Cultura Rebeca Fuks.

Na verdade, seja envolvido por um dia a dia apático, sendo indiferente a tudo que nos cerca; ou por um cotidiano agitado, determinado por sobrecarga física ou emocional dos tempos modernos, os variados modos de vida de nossa fase produtiva acabam repercutindo, sim, no processo de envelhecer bem.

Nesse contexto, convém ficarmos atentos para não nos acostumarmos com o que nos incomoda, nos magoa, nos estressa, nos machuca etc. É difícil, complicado? Sim, mas não custa se esforçar para seguir nessa linha, principalmente quando se tem partidas precoces para o céu de entes queridos, como é o meu caso.

Mas nesse ‘ir em frente’, porque não nos resta outra opção, os amigos de variadas gerações – de Mariah, com seus 16 anos, a Lourdes, com os 90 recém-completados – nos ajudam, verdadeiramente, a sermos ativos e emocionalmente saudáveis nesta etapa de vida.

Além da amizade, outros pontos que o geriatra Alexandre Kalache mencionou foram caprichar na saúde em todos os aspectos, incluindo a emocional; ter conhecimento das coisas nas suas múltiplas ocorrências (não fique alienado) e ter planejamento financeiro.

Quanto à agenda para uma vida longa do escritor Duclós, seguem mais alguns itens por ele listados:

Não esperar reconhecimento / Focar no que sabe fazer melhor / Querer só quem te quer / Sonhar boas histórias / Perdoar/ Fazer o bem sem fazer alarde/ Escrever cedo as memórias para se livrar delas/ Não se submeter a excessos físicos ou psicológicos.

Por fim, em homenagem a Marina Colasanti, reitero que a gente se acostuma, sim, com muitas coisas em nossa vida, mas não devia!

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